Baekhyun
ESTE NÃO É O MEU CORPO!
QUE TIPO DE PESADELO HORROSO É ESSE?!
Com os olhos arregalados, observei a minha nova aparência no espelho. O rosto que eu tanto odiava foi o que continuei a ver naqueles segundos que nunca pareciam passar. Me sentia estranho. Meu estômago revirou e tudo o que eu queria era vomitar.
A sensação era de estar preso em alguma ilusão de ótica, porque não me sentia conectado à aquele corpo. De alguma forma, tudo o que passava pela minha cabeça era de que eu estava olhando Chanyeol me observar. Eu não me via com os meus próprios olhos.
As orelhas grandes, os cabelos escuros e bagunçados, os olhos grandes como os de um golden retriever arregalados em puro espanto ou raiva, as mãos grandes, o corpo musculoso e a voz que não era minha, me fizeram gritar ainda mais quando comecei a fazê-lo.
ALGUÉM FAÇA ISSO PARAR, POR FAVOR! ME ACORDEM DESSE SONHO!
Bingo!
É era isso. Só poderia ser isso. Em meio aos gritos, resolvi seguir o conselho ou, melhor dizendo, uma das frases que minha mãe sempre mencionava quando estava consternada: me belisca para não ver se estou sonhando.
Me belisquei. Com toda a força que consegui fazer. Doeu para burro. Agora, gritava, tinha lágrimas nos meus olhos e um roxo no braço. Bom, pelo menos era no braço de Chanyeol. Poderia ter me sentido um pouco vingado? Poderia. Mas não foi legal, porque eu senti a dor.
O pesadelo era tão real quanto dois mais dois são quatro.
- O que está acontecendo aqui? – Um tom de voz feminino se aproximou assustado.
Em um repente, passei a sentir dor no braço e na cabeça por um tapa que levei.
- Ei, seu idiota, porque está gritando no banheiro? São seis horas da manhã ainda! Você quer morrer?
Catatônico, virei lentamente o meu olhar na direção daquela pirralha que estava atrás de mim. Não aparentava ter mais de quatorze anos, mas, em estatura, chegava ao peitoral do meu corpo, quero dizer, do de Chanyeol. Os olhos grandes e parecidos com o do meu inferno pessoal, nela, pareciam ágeis e sorrateiros como uma raposa. Os lábios estavam contorcidos em irritação. Consegui descobrir o nome dela por conta do broche no uniforme escolar.
Park Yoo Ra.
A irmã mais nova de Chanyeol. Desde quando ela tinha crescido tanto? Foi tudo no que consegui pensar. Na última vez em que a vi, ela ainda batia nos meus joelhos.
Não consegui dizer uma palavra sequer. Ainda estava fora de mim. Sem processar direito todas aquelas informações.
- Não vai fazer escândalo outra vez, não é? Porque não vai para a escola pacificamente? Nunca vi ninguém detestar estudar como você detesta. – Cruzou os braços.
- O quê? – Foi tudo o que consegui dizer.
Ela riu de maneira ameaçadora.
- Você pode até ser o popular, mas as minhas notas são perfeitas. Se ousar estragar isso fazendo chilique às seis e acabar com o meu sono de beleza, considere-se um jovem morto.
Aquele olhar intimidador foi mais assustador do que a minha mãe descontrolada por ter queimado a comida do feriado de chuseok. Nem quando ela perdeu uma venda importante no trabalho fiquei tão amedrontado. Estava me tremendo todo. Naquele momento, eu era um pinscher acuado.
- Acho que estamos entendidos. – Em um segundo, toda aquela aura sombria foi desfeita e Yoo Ra se parecia com uma adolescente simpática comum de quatorze anos. Bipolar? Será? – Troque logo de roupa e venha tomar café. Nossos pais estão esperando.
Na verdade, eram os pais dela. Foi tudo no que consegui pensar.
Meu estômago doía tanto que achei que iria sofrer de dor de barriga ali mesmo.
“Que ótima maneira de acordar. Só que não”.°°°°°°°°°°
A cozinha era barulhenta, agitada. Uma música alegre tocava ao fundo enquanto um homem em um terno lia o jornal do dia e uma mulher preparava peixe com arroz, sopa de algas e kimchi para o café da manhã.
Yoo Ra ria como uma menina boazinha. Mal os pais daquela criança poderiam imaginar que criavam um pequeno monstro.
Eu me sentia desconfortável com aquele uniforme grande, mas que se ajustava ao meu corpo. Tentei, ao máximo, arrumar aqueles cabelos rebeldes e consegui deixá-los controlados em um topete com gel. Tive de passar as minhas roupas, porque Chanyeol, aparentemente, seguia o lema de: não vou passar as roupas, porque a vida passa e a gente nem vê. Fora que o quarto dele é uma extrema bagunça e não sei onde está nada.
Ah, é claro, há também um agravante: não é o meu habitat natural!
Estou em um show de horrores. É isto.
- Mãe, olha só que milagre! – Yoo Ra arregalou os olhos. – Chanyeol parece um ser humano decente hoje. Está até arrumado. – Gargalhou.
- Ei, não perturbe o seu irmão. Yeol... Não é que ele está arrumado mesmo? – Esboçou uma expressão maliciosa.
“Ora, ora, tínhamos um porquinho por aqui".
Me sentia tão endurecido que o meu andar era como o de um robô, o meu sorriso plastificado mais se parecia com uma careta.
- Por acaso vai ter algum evento na escola hoje? – A mãe falou mais uma vez.
- Que eu saiba não. – disse.
A minha vontade foi de franzir o rosto em estranhamento. Raiva. Aquela voz me irritava. Ainda que, lá no fundo, sentisse uma espécie de medo da garota.
- É melhor se apressar e comer logo o seu café da manhã, Chanyeol. – O tom de voz inexpressivo do pai ecoou pela cozinha. Fez com que as mulheres se calassem. – O dia será longo, não acha?
Tirando o fato de que eu não era o Chanyeol, não podia deixar de concordar com uma coisa: o dia seria muito longo.
Chanyeol
- Byun Baekhyun, por que está falando palavras feias?
Não, não, não. O rosto que estou vendo nesse espelho não pode ser real. Onde estão as câmeras escondidas? Cadê aquele anão de jardim?
Os pensamentos estavam acelerados na minha cabeça. Meu coração batia tão forte que quase saiu pa minha boca. Gotas de suor frio começaram a deslizar pela minha testa. As lágrimas apavoradas não demoraram em aparecer nos meus olhos.
Não era verdade. Não mesmo.
Levantei o braço esquerdo. Baekhyun também levantou o braço esquerdo. Pisquei o olho direito . A imagem também fez o mesmo. Levantei uma mecha de cabelo, estalei o dedo, levantei uma sobrancelha, fiz careta. E a imagem fez o mesmo.
Sabe quando o desespero vem e tudo o que você quer fazer é surtar como nunca fez na vida? Pois então, eu estava o ápice da desgraça. Não queria acreditar na realidade diante de mim. Foi então que fiz o último e mais impensado teste: dei um tapa na minha cara Bem forte.
Doeu.
Vi estrelas às 06:30 da manhã. Isso não poderia ser melhor...
A imagem, em alto relevo, da mão estava estampada na bochecha esquerda. O Baekhyun não seria capaz de fazer isso consigo mesmo. Assistiria, com prazer, mil vezes eu me dando um tapa do que dar um tapa em si mesmo.
Plim!
A ficha caiu.
- NÃAAAAAAAOOOOOOOO!
Quando dei por mim, já havia gritado. Não queria acreditar. Não mesmo.
Um desespero profundo me invadiu. As lágrimas, de raiva, já subiam pelos meus olhos. Eu não costumo chorar quando estou irritado, mas, este corpo, aparentemente sim.
Que ótimo. Além de ter virado um anão de jardim, agora, também era um bebê chorão.
- Meu filho, o que está acontecendo? — Ouvi a voz da mulher se aproximando. — Por que está chorando? — Me abraçou.
Eu estava realmente deplorável. Bastava ver aquele nariz vermelho como de um palhaço, os cabelos castanhos alaranjados bagunçados e os olhos pequenos ainda menores por estarem inchados devido ao choro.
Às sete horas da manhã de uma quinta-feira nada comum, relutei em declarar para mim mesmo de que aquele momento foi a ruína de Park Chanyeol.
Baekhyun
Todos os olhares estavam sobre mim. Literalmente. Não precisei fazer nenhum tipo de esforço. As meninas pareciam me devorar com os olhos como se eu fosse um pedaço de carne. Os garotos, por sua vez, apenas rolavam os olhos. Eles não gostavam de Chanyeol pelo simples fato de que ele roubava o coração de todas as garotas. Sem exceção.
Agora, eu estava naquele corpo.
Argh! Entrava em colapso cada vez que pensava nisso. Agora, também entendo o motivo da Britney Spears de 2007 ter surtado daquele jeito. Não a culpo. Eu estava a ponto de ter uma crise histérica.
Apertei as alças da mochila com força enquanto andava de um lado para o outro no pátio da escola. Esperava por ele.
Em um repente, uma brisa gelada ricocheteou no meu rosto, mas não foi capaz de desarrumar o topete perfeito que tinha feito. Precisei de muito gel para fazer tal proeza, porque o cabelo de Chanyeol parecia um ninho de passarinho de tão embolado que estava.
Nem para isso... Deixei o pensamento morrer.
- Chanyeol, você está tão bonito hoje. Mudou o penteado. – Encarar as pessoas se tornou algo estranho desde que passei a ter quase 1,90m de altura. O galo na minha testa pela batida na parede de manhã ainda estava doendo.
Yoon Sol Mi. Segundo ano do Ensino Médio. Turma 3. A minha maior rival nas notas do colégio inteiro. Toda a pose altiva, quando olhava para mim, Baekhyun, desapareceu. Para Chanyeol, só se via bochechas coradas e sorrisos envergonhados.
Ninguém merece... Reclamei mentalmente. Não queria ser o centro das atenções naquele momento.
- É. Mudei. – disse sem emoção alguma.
Senti vontade de chorar em irritação. Não vou me acostumar com essa voz.
Sol Mi soltou um risinho.
- Você...
Ela começou a dizer, mas foi então que o vi, em uma espécie de câmera lenta, entrar no pátio da escola. A primeira coisa que pensei foi:
O QUE ELE FEZ COMIGO?!
O meu antigo corpo estava com os cabelos bagunçados, caíam em uma franja desarrumada sobre a testa, o nariz estava um pouco avermelhado, o uniforme estava completamente amarrotado, a gravata avermelhada tinha uma mancha de molho e ele não usava meia junto com o par de tênis. Quem não usa meia com o tênis?!
Além do mais, a minha postura inabalável tinha ido para as cucuias. Caminhava como se o mundo tivesse desabado sobre os ombros e de uma maneira desleixada. Nem para carregar a mochila direito o Park estava sendo eficiente.
Quando os nossos olhos se encontraram, vi a surpresa, o espanto e a raiva incendiarem os meus antigos olhos tão bonitos. Assim como achei um atentado contra a minha imagem Chanyeol ter me vestido daquela forma, ele, com toda a certeza, detestou o meu estilo de nerd no corpo dele.
Vi um gesto de cabeça indicando para segui-lo. Sem nem pensar duas vezes, deixei Sol Mi falando sozinha. Aquela ladainha pouco me importava.
Meu coração estava pesado. E como. Dava tristeza de ver o meu corpo andando por aí e eu não estar dentro dele.
Em um local mais afastado de todos, nos fundos do colégio, quando nos encaramos mais uma vez, apenas gritamos em uníssono:
- DEVOLVE O MEU CORPO!
Chanyeol bufou em ódio. Da minha nova perspectiva, o meu corpo era tão pequeno que os ataques de raiva do Park, agora, não passavam de tremeliques de um pinscher.
Eu era tão deplorável assim? Pensei. Não, definitivamente não.
- Que porra você fez comigo?! Me jogou algum tipo de vodu? – Agarrou o colarinho do meu uniforme.
Quis rir, porque o bad boy popular estava na ponta dos pés. Assim como daquele comentário idiota. Ele realmente pensava que eu sentia inveja dele a ponto de querer trocar de corpo? Nem se Chanyeol fosse a última bolacha do pacote.
Soltei uma gargalhada cética.
- Ei, quem é você para rir desse jeito? Seu tampinha. Você acabou comigo. Olhe só para mim com esses braços finos e esse aparelho dental horroroso.
- Olha, o tampinha agora é você. Tenho 1,85m. – Não poderia deixar de tirar uma com a cara dele.
O meu antigo rosto ficou tão vermelho de raiva que achei que veria uma explosão em pouco tempo. O ego de Chanyeol não foi apenas ferido, foi pulverizado com toda a dignidade que algum dia ele poderia ter. Sem nem pensar duas vezes, me empurrou com toda a força que tinha. Foi difícil todo, porque a minha massa muscular era mil vezes maior do que a dele. Pensa em um franzino tentando empurrar um maromba? Essa era a imagem. Senti pena dos meus braços. Não do Park ofegante.
Percebi que meu corpo precisava de atividade física, mas só de pensar nelas já ficava cansado.
- Você realmente acha que eu queria estar no seu corpo? Sério isso, Park Chanyeol? Achei que tivesse, pelo menos, uns três neurônios na cabeça para fazer o seu tico e teco funcionar, mas me enganei miseravelmente. – Cruzei os braços.
O brilho raivoso deu lugar para um ressentido e magoado. Lágrimas já brotavam nos olhos dele, quero dizer, meus olhos. Esta era a única parte que eu detestava no meu antigo corpo. Chorar de raiva.
- Que droga aconteceu com a gente então? Eu era o popular, gostosas que pega todas as garotas...
- Me poupa, Chanyeol. – Rolei os olhos.
- ... bonito.
- Ei, está me chamando de feio? – Fiquei irritado. Era óbvio que eu tinha beleza. O jeito de se vestir do Park que não me ajudava muito.
- Você me entendeu, tampinha. – Suspirou de maneira pesada.
- Eu também não queria ser essa girafa desastrada que sou agora. Por causa disso, tenho um galo na minha testa.
- Como isso foi acontecer? Preciso do meu corpo logo. Tenho um encontro com a Min Hee.
- O quê?!
Ah não. Dispenso totalmente encontros amorosos. Ainda mais com a Min Hee. Não aguentaria tanta futilidade na minha vida. Fora que o meu coração é uma pedra de gelo.
- Não, não. Ninguém vai encostar nessa boca aqui.
- E nem eu deixaria, porque só de pensar em você beijando a Min Hee já me dá vontade de vomitar. – Fingiu um regurgitar.
- Obrigado pela parte que me toca.
Antes que uma resposta pudesse ser dita, o sinal, como sempre, tocou de maneira estridente e incômoda em nossos ouvidos. A aula já iria começar. Como bom aluno que sou, apenas virei as costas e comecei a caminhar em direção ao prédio principal. Atrás de mim, ouvi protestos de Chanyeol que me parou ao segurar a barrada manga do meu blazer.
- Ei, por que está saindo desse jeito? Precisamos resolver essa situação.
- Bom, a aula já vai começar. Enquanto isso, para ninguém estranhar, precisamos agir como se nada tivesse acontecido. – Só de me imaginar como um Chanyeol completo, me apavorei. – Depois da escola resolveremos isso.
- Nerd. – ralhou. – Ok, ok. Me encontre na cafeteria que tem aqui perto.
- Enquanto isso, trate de se comportar. – ameacei. A minha reputação precisava ser mantida.
Gargalhou.
Senti apreensão, porque era um caso de vida ou morte e eu dependia inteiramente de Chanyeol.
Céus, o mundo realmente tinha virado de cabeça para baixo.
Chanyeol
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Eu não queria ser você
FanfictionBaekhyun e Chanyeol eram os clássicos nerd e popular do ensino médio. Dois pólos antagônicos. Quanto mais distantes estivessem um do outro, melhor o mundo funcionaria para os dois. Tudo muda em um passeio escolar quando o famoso ditado: "desta águ...