Cegueira

Contato

Alguns dias haviam se passado desde a final do programa, ainda que, para Juliette, parecessem apenas minutos. Todos os compromissos, entrevistas, fotos e aparições obrigatórias tinham feito os dias da morena parecer um verdadeiro turbilhão de informações sendo jogadas em cima dela de uma vez só.

Tanto era assim que Juliette não tinha nem mesmo conseguido sentir e assimilar que, depois de quase 4 meses, tinha sido campeã do reality. Bem, até aquele momento, pelo menos.

Agora, Juliette estava sozinha pela primeira vez em muito tempo, aproveitando uma taça de vinho na varanda de seu flat alugado em São Paulo. Finalmente, depois de todos aqueles dias, tinha conseguido tirar um tempo para si própria.

Era uma noite bastante agradável. Juliette bebia da taça lentamente, aproveitando aquele raro momento de relaxamento, mas sem conseguir desligar muito a cabeça. Os pensamentos da morena se desviavam com frequência a Sarah, sua maior saudade desde que saiu.

É bem verdade que, no momento da eliminação da loura, as duas não estavam nos melhores termos. Mas Juliette sentia que algumas coisas ainda precisavam ser conversadas, que havia algo não dito embaixo da superfície toda do jogo.
Foi então que Juliette ouviu, com um leve sobressalto, seu telefone vibrando sobre a mesa.

A tela bloqueada mostrava um número desconhecido, que havia enviado um simples "oi". Ao desbloquear o celular, a morena percebeu que o contato tinha uma foto da pessoa que ela mais desejava ver àquela altura: era uma selfie de Sarah sorrindo, olhando para a câmera com aqueles olhos verdes hipnotizantes.
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Desde que o programa acabara, Sarah debatia internamente se deveria ou não enviar mensagem a Juliette.

Sabia que elas precisavam se acertar, mas, ao mesmo tempo, imaginava que Juliette teria muito mais a fazer naqueles primeiros dias após vencer o programa do que dar atenção a suas sentimentalidades de canceriana solitária.

Mesmo assim, pediu a sua assessoria que lhe conseguisse o número de telefone da morena.

Naquela noite de sexta-feira, após chegar a seu apartamento em São Paulo, exausta depois de mais um dia de trabalho, Sarah decidiu tomar um banho.

Enquanto a água caía por seu corpo, a loura não podia mais escapar de seu pensamento mais recorrente: falar com Juliette. Ainda que achasse inoportuno, ainda que talvez a morena nem a respondesse, decidiu ali que iria tentar uma aproximação.

Saiu do chuveiro, enrolou seu cabelo em uma toalha, pegou o número que sua assessora lhe havia enviado e digitou "Oi!! Tudo bem?? Parabéns!". Depois disso, pensou bem e resolveu ir pelo lado mais minimalista. Apagando boa parte da mensagem, enviou apenas um "oi."

Sarah não esperava que a resposta fosse vir tão rápido, então tomou um pequeno susto quando ouviu seu telefone vibrar:

"Sarará? É você?"

Sarah respirou fundo: era agora.

"Oi, Ju. Sou eu. Será que a gente pode conversar qualquer dia desses?"

"Bem, eu estou tendo um raro momento sozinha agora. Quer vir aqui?"

O coração de Sarah dava fortes indícios de que ia sair pela boca.

"Vou sim. Passa o endereço"

Sarah colocou uma calça jeans e uma blusa, penteou seus cabelos e colocou o endereço que Juliette havia enviado no Uber. Era agora ou nunca.