Cegueira

Quebra-cabeças

Sarah estava sentada na oarte traseira de seu Uber e não conseguia evitar ser consumida pela ansiedade. Em primeiro lugar, existia uma ansiedade em ver a morena. Sarah sentia um magnetismo com relação a Juliette que simplesmente não sabia explicar.
Mesmo perto de sua eliminação, quando as duas não se davam mais tão bem, Sarah nunca parou de dedicar a maior parte de seu tempo a pensar em Juliette.

Em segundo lugar, havia a ansiedade por colocar as situações que viveram em panos limpos. Nunca tinha sido a intenção de Sarah magoá-la, e muito menos se afastar dela. A loura não sabia dizer exatamente como as coisas haviam chegado ao ponto a que chegaram, mas agora não tinha mais como voltar. Na verdade, ela não sabia nem mesmo se Juliette tinha visto as coisas que Sarah falou dela, então queria aproveitar a oportunidade para se explicar ou, ao menos, pedir desculpa.

Enquanto sentia o vento gelado de São Paulo chicotear seu rosto, Sarah pensava apenas que, dessa vez, se permitiria. Longe das câmeras, do jogo e de todas as outras pessoas, queria explorar ao máximo o mistério que Juliette representava para ela, mesmo que só pra entender o que sentia.

Quando o Uber parou na frente do endereço, Sarah ajeitou o cabelo, apreensiva, e saiu do veículo. O elevador parecia estar andando devagar de propósito, e ela já sentia seu coração acelerar.

Tocou a campainha e, após breves segundos, lá estava ela. Sarah abriu a boca, mas não saiu som, aí ela achou melhor fechar.

Juliette, completamente alheia a todo o conflito de Sarah, abriu um sorriso enorme e puxou a loura para dentro.

"Ô, Galega! Que saudade" Juliette a envolveu em um abraço apertado, repousando sua cabeça no pescoço de Sarah.

"Saudades demais, mozão... É... Eu trouxe um vinho pra gente, tinha lá em casa"

"Vinho, é? Aonde você tá querendo chegar, hein?"

"Ai, Juliette, que bobagem" Sarah já se sentia mais relaxada. O jeito de Juliette era fapaz de descontrair qualquer um.

Sarah entrou no apartamento em que Juliette estava morando e colocou sua bolsa e a garrafa de vinho sobre a mesa de jantar. Aí se virou, segurando a borda da mesapara aplacar seu nervosismo.

"Escuta, Ju... eu queria pedir desculpas pra você por algumas coisas"

"E devia mesmo, hein? Andei vendo uns vídeos seus que me espantaram"

"Ah, você viu? Achei que poderia me explicar antes de você ter essa chance"

"Vi... não precisa pedir desculpas, eu entendo que foi o jogo, mexe com a cabeça da gente mesmo. Eu também fiz uma coisa ou outra de que não me orgulho lá dentro"

"Ju, mas não é só isso..." Sarah finalmente largou a borda da mesa e andou até Juliette.

Olhando fundo nos olhos da morena, ela sentiu que devia confessar.

"Você me assusta, Juliette. O que eu sentia por você me assustava. Eu entrei na casa determinada a ser a melhor jogadora que eu poderia ser mas você... você me embaralha"

"A ponto de você sair falando mal de mim pros Bastiões?"

"Desculpa por isso. De verdade. Eu não lido bem com meus sentimentos"

"Sarah, de verdade, eu quero enterrar esse assunto. Eu gosto de você demais, e o BBB acabou. Não tem porque a gente remoer ainda mais a situação"

"Mas Ju, não é só isso. Não é como se eu quisesse, tipo, ser sua melhor amiga nem nada assim"

"Ah, então você não quer ser minha amiga?"

Nesse momento, o quebra-cabeças na mente de Sarah simplesmente se evaporou, e ela sabia exatamente o que queria fazer.

Em um segundo de coragem insana, Sarah deu mais um passo em direção a Juliette e, se abaixando um pouco, segurou o rosto da morena com ternura, e a beijou.