Programa Phi-Nong

CAPÍTULO 01: CRÉDITOS EXTRA

Dean Rattanon Chatpokin era famoso por toda a Universidade. Não havia quem não conhecesse, pelo menos, uma história sobre seus feitos e prestígio. Irmão mais velho de outros dois alunos que também estudavam no Campus era digno de admiração, Presidente do Time de Natação era rigoroso e respeitado como líder e atleta, suas notas eram incríveis e ainda tinha tempo para se dedicar a um relacionamento estável com Pharm Trivinij, estudante do curso de Economia e cujo currículo não deixava nada a desejar se comparado ao do mais velho. Resumindo: era um homem perfeito por dentro e por fora, segundo todo mundo acreditava. Mas uma pessoa discordava disso e ele era o seu orientador. O homem baixinho, careca e com óculos constantemente embaçado pela alta temperatura do seu corpo, tinha a aparência de um vulcão entrando em erupção. Um pequeno vulcão, mas mesmo assim capaz de causar estragos.

Dean sabia que deveria ser chamado em breve para conversar com o seu orientador e imaginava que a conversa não seria a mais agradável dentre todas. Apesar de ser muito dedicado nas suas atividades acadêmicas, quando estava se preparando para a entrega da sua tese percebeu que estava faltando um requisito, inclusive, um que ele achava bastante complicado de ser cumprido.

Devido a um acordo recente entre o reitor da Universidade, o Secretário de Educação da Província e o Ministro do Desenvolvimento Social, além das regulares atividades acadêmicas que incluiam aulas presenciais (ou à distância, conforme o caso), a elaboração de uma tese dissertativa e a conclusão de um estágio na área de formação, todos os alunos deveriam apresentar uma determinada carga horária de serviços sociais. Desta forma, o governo e a instituição de ensino acreditavam estar inserindo na sociedade cidadãos com alguma afinidade com os dilemas sociais vividos no país e dispostos a usar sua formação para mudar este quadro. A teoria era linda, realmente, mas para um aluno do último ano era o tipo de atividade que parecia arrancar os últimos resquícios de vontade de viver de dentro do estudante que não aguentava mais tanta pressão apenas para conseguir o diploma. Era quase como nadar o oceano inteiro para morrer perto da costa do litoral.

Por sua vez, não é que Dean não quisesse contribuir para a sociedade. Muito pelo contrário, há alguns meses ele havia comparecido à Secretaria do curso e requisitado a lista dos lugares onde poderia atuar com fim de receber os devidos créditos extra, mas as opções eram poucas e apresentavam uma dificuldade que ele não gostava de admitir ter: em todas elas ele precisaria lidar com pessoas e ele era mais do tipo oposto. Ele havia ouvido vezes suficiente dos calouros do Time de Natação e até do seu melhor amigo, Win, como ele parecia ser frio quando não conhecia ou não simpatizava com alguém, o que o desmotivava completamente a se arriscar em qualquer atividade do gênero social. Agora, às vésperas da conclusão do curso, ele percebia que não teria como adiar mais isso.

"Senhor Rattanon Chatpokin, vejo que seu boletim é realmente invejável", o orientador começou em tom dócil, "mas isso não vai ser o suficiente sem cumprir os créditos extra referentes ao serviço social.", sentenciou conforme Dean já esperava.

"Sim, senhor.", Dean respondeu educadamente, apesar de estar derretendo por dentro e alguns de seus neurônios ocupados em imaginar formas de escapar daquela situação. Algumas delas envolviam atos que violavam a lei e a justiça, o que o levaria pra cadeia. Como isso significava ficar longe do seu Pharm e nada no mundo seria capaz de separá-lo assim do seu amor, ele estava disposto ao sacrifício.

"Eu entendo e estou disposto a fazer o que for preciso, professor!", Dean disse com um tom decidido.

"Err... bom..." o orientador gaguejou surpreso com a repentina onda de energia do jovem, estando mais acostumado a ouvir protestos e reclamações de outros estudantes em situação similar, mas recuperando a consciência, continuou: "Neste caso, eu vou designá-lo ao Programa Phi-Nong e o que você precisa saber sobre isso é...", o homem começou a explicar os infinitos detalhes do que se resumiria a sua próxima semana inteira.