Um dia, muitos anos atrás, uma revolta foi iniciada no castelo de um pequeno reino do norte, onde tudo é mais frio e cruel, ninguém sabia ao certo qual história era de fato a verdadeira, qual era apenas fantasia e qual era real, mas após aquela revolta, dois novos reis foram coroados por si mesmo, sentavam-se sobre seus tronos e ano após ano, ambos os nomes se tornaram muito conhecidos entre todos os demais territórios, e assim como uma pequena serpente ainda filhote, o reino passou a crescer, seja por alianças, seja por guerra, e um dia, poucos ousavam contestar o poder daquela enorme serpente e seus dois reis.
Alguns diziam que aquele par de reis eram como ying e yang, se completavam perfeitamente e juntos se tornavam o Rei ideal para qualquer reino que essa miserável terra poderia se dignar a ter. Taehyung, rei que era conhecido por sua beleza delicada e perigosa, dominava quaisquer que fossem os terrenos de cada campo de batalha, sua inteligência era admirada por todos os estudiosos daquela grande nação, e então havia o rei que, segundo as histórias, era filho bastardo do antigo rei, e que fora assassinado por suas próprias mãos e que antes de uma coroa pesar sobre sua cabeça ele também conhecia os exércitos e a guerra em experiência própria, e suas habilidades com a espada, com a lança e outras artes marciais o manteram vivo no campo de batalha, conhecido entre os soldados e seus comandantes. Mas também, algumas histórias diziam que ambos eram filhos de um deus da guerra e juntos resolveram governar o menor reino da terra, apenas para faze-lo ser o maior de todos, outras diziam que eram amantes, e ninguém sabia de verdade qual era a certa, apenas que sabiam bem que ter ambos como inimigos não era uma boa escolha.
Aquele dia de inverno estava especialmente ensolarado e portando, entrava muita luz por entre as vidraças do salão real, Jungkook tinha sua face escurecida por entre assombras que seu alto trono fazia e, em contraste, os cabelos loiros de Taehyung pareciam brilhar com o sol os tocando, pois ele se mantinha com uma aparência muito confortável sentado sobre o braço do trono de Jungkook, este que sequer parecia se incomodar com isso, a verdade, seus lábios estavam levemente curvados para cima, quase poderia se chamar de sorriso, no entanto, um dos últimos reis que insistia em se manter opositores a eles, e que se prostava diante dos dois tronos, não parecia achar aquilo um sorriso.
Ele pedia clemencia.
— Por misericórdia, deixem os mercadores de meu reino atravessar. O trigo começa a faltar, não temos mais sementes e o inverno está chegando no sul. Muitos morrerão. — Ambos sabiam que aquele homem não temia pelo seu povo, e sim por seu exercito e o desastre que poderia acontecer caso eles se revoltassem contra a coroa, como foi o que aconteceu aquela terra que ele pisava agora, mas vejam só, eles prosperaram, seu exército apenas precisavam somar dois mais dois para entenderem o que deveriam fazer.
Ambos permaneceram em silencio, como se trocassem informações mentais.
— Se seu problema é seu exército, dê seus homens para mim. Terão alimento e uma cama seca no final da noite, caso aceite, deixaremos seus mercadores passar, e com isso a pressão sobre sua cabeça vai diminuir, não? O que acha? — Taehyung era conhecido entre a nobreza por sua língua afiada e gotas acidas de sarcasmo em negociações. — Talvez assim suas mulheres e crianças deixarão de passar fome, se é o que teme...
Alguns soldados presentes na sala não puderam deixar de soltar baixas risadas grosseiras. O rei estava com o rosto vermelho de raiva, mas se continha de uma forma divertida de assistir, na opinião de Jungkook.
— Assinará um tratado de lealdade também.
— M-mas eu não concordei com nada disso! — Ele quase gritou, no entanto, o olhar perigoso e quieto do rei que tinha o rosto escuro sobre as sombras o fez recuar, por medo e precaução.
— Mas você vai concordar. — Jungkook falou pela primeira vez, e o salão pareceu ficar mais frio pronuncia. Taehyung suspirou profundamente, um tanto entediado, mas então uma nova espécie de brilho acendeu seus olhos. Ele ergueu seu queixo orgulhosamente e olhou aquele pequeno rei de baixo, como se existisse metros e metros abaixo de si, e talvez, quem sabe, estivessem mesmo.
— Agora se ajoelhe e nos jure lealdade. — A mão de Jungkook que pendia secretamente na cintura de Taehyung se apertou levemente, mas certamente não foi uma forma de repressão. Certamente não.
O rei caiu de joelhos impotente diante de ambos, em um momento de puro desespero, pensou que era aquilo que significava ser um rei, ele era apenas um governante. Até mesmo os passos de Taehyung exalavam poder e superioridade, enquanto ele se aproximava de si e pegava sua coroa. Taehyung a examinou sem interesse e até um tanto de nojo por tocar em um objeto como aquele. Sem se importar o quanto valia a coroa, ou quantas preciosas estavam cravadas em meio a ouro maciço, ele a jogou no fogo flamejante da lareira, pois a única coroa que importava... Era aquela que estava na cabeça de Jungkook.
Ao voltar a seu lugar, que era o trono em que Jungkook estava sentado, este que em meio segundo o puxou para suas pernas, Taehyung disse. — Ah, sim. Você servirá de mensageiro também. Diga para o último rei do sul, que a hora de se ajoelhar diante os Reis do Novo Mundo está próxima.
. . .
Centenas de anos passaram e aquele castelo em que morou os dois reis mais famosos da história se tornou um museu, e as pinturas de ambos permaneciam penduradas nos corredores, em exposição para os visitantes. Muitos iam e vinham, como formigas, andando de um lado para outro afim de ver tudo sobre o Rei guerreiro Jungkook e o Rei estrategista Taehyung. Agora estava claro de que ambos eram um casal, afinal, os diarios de ambos também estavam em exposição, e lá contavam não só seu passado, mas suas paixões um pelo outro, suas dificuldades e vitórias e tudo que viria depois disso.
Mas apesar da multidão de pessoas indo e voltado, sobre o maior quadro dos Dois Reis, que lá estavam sentados gloriosamente em seus tronos, Jungkook com sua coroa pesada de ferro que não ostentava luxo, e mesmo assim, foi a mais importante de todas — Como Taehyung acreditava que seria — e seu outro rei, sentado sobre o braço de seu trono, ostentando sua beleza felina — Como Jungkook descrevia em seus diários — estavam duas pessoas, paradas diante o quadro de orgulhosos dois metros.
Um tinha cabelos tão negros como a noite e tatuagens rodeando seu braço, e uma pequena garotinha tentando lhe desprender dali, sua irmã mais nova, e do outro, um com a pele tão branca quanto a superfície da lua e cabelos loiros com pequenos e pálidos raios solares, se encaravam como se estivessem vendo, dentro dos olhos um do outro, uma vida inteira.
E talvez estivessem mesmo.
— Fim. —
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A Coroa de Ferro
Mystery / ThrillerO mundo nunca soube o que significava realmente ser um rei. Nenhum daquele acomulado de países teve um, apenas homens cujas cabeças pendiam o peso de uma coroa de ouro. No entanto, nos países do norte algo surgia entre a lama dos terros marcados pel...