Vivendo um Dorama

Capítulo 1

Lua estava a própria empolgação personificada. De longe se podia ouvir os gritinhos de animação que ela dava de dentro do carro e, logo mais, seus pulos chamariam a atenção de muitos no aeroporto do Rio de Janeiro. O tempo chuvoso de julho a permitiu colocar um casaco mais grosso e cobrir a cabeça com o gorro vinho.

— Vamos logo, mãe! Passa por cima desses carros! — A garota de vinte e um anos conteve seu grito ansioso.

— Calma, Lua! Faltam quase cinco horas para o seu voo. Vai dar tempo, filha. — Era incrível como Suzana conseguia manter a calma diante da bomba de ansiedade que era a sua filha única.

O marido sempre sustentou a casa com seu emprego bem remunerado que garantia estabilidade financeira para toda família. Com isso, a mulher pôde se dedicar às suas artes, que também rendiam um bom dinheiro. Naquela época em especial, seus cachecóis de tricô estavam sendo vendidos como água no deserto! Como seu trabalho era feito em casa, a mãe conseguiu acompanhar todo o crescimento de Lua e, por isso, não havia ninguém no mundo que conhecesse a garota melhor do que Suzana. Infelizmente, mesmo com todo esse conhecimento, a mulher não sabia como desligar, ou pelo menos diminuir, a agitação da filha.

O trânsito da avenida já estava deixando a jovem mais nervosa do que empolgada — e, acredite, superar toda essa empolgação era a coisa mais difícil do universo! Mas não havia o que fazer: a Avenida Brasil sempre foi sinônimo de engarrafamento. Por sorte, as duas resolveram sair bem mais cedo de casa, prevendo todos os imprevistos — se é que isso é realmente possível. Mas mesmo que o aeroporto fosse no quintal da casa da família Santos, certamente Lua ainda assim se programaria para sair de casa com horas de antecedência. Uma coisa que ninguém poderia dizer que ela não tinha, era ansiedade! Mas toda aquela alegria acabou se dissipando — mas só um pouco — com a chegada no aeroporto internacional do Rio de Janeiro.

A despedida das duas mulheres iniciou cheia de lágrimas e algumas outras secreções estranhas do corpo humano. Ali, diante do portão de embarque onde se separariam, foi o primeiro momento em que Luana dos Santos, ou melhor, Lua percebeu que ficaria quatro longos, incríveis e dolorosos meses longe de sua mãe, aproveitando seu intercâmbio na Coréia do Sul.

— Eu vou sentir tanto a sua falta! — A jovem resmungou no pescoço da mãe — Eu não sei como vou ficar sem conversar com você por tanto tempo!

— Ei! — A mulher separou o abraço e segurou a filha pelos ombros. — Você acha que eu não vou te ligar todos os dias? E também vou esperar pelas suas ligações! — Sua mão direita acariciou os cabelos de Lua, de repente, assumindo uma expressão orgulhosa.

— Não começa a chorar de novo, mãe! — Lua gritou, já com os olhos cheios de lágrimas, dando pulinhos ansiosos. As duas mãos de Suzana envolveram o rosto da jovem, enquanto um sorriso brotava no meio das lágrimas abundantes que recomeçaram a cair.

— As "garotas dos Santos" são inseparáveis!

— Para sempre, mamãe! — Luana não aguentou: teve que abraçar sua mãe mais uma vez.

— Eu estou muito orgulhosa de você, minha filha! — Apesar de já ter ouvido essa frase outras vezes, Lua sentiu que dessa vez estava carregada de uma emoção diferente. De fato, Suzana estava mais do que orgulhosa pela pessoa que a filha estava se tornando a cada dia, e pela responsabilidade que estava assumindo com essa viagem.

Somente depois que Lua tomou a postura de adulta, expulsando do holofote a adolescente ansiosa que vive dentro de si, é que teve coragem de se separar de Suzana e ir em busca de crescer como estudante e futura profissional, deixando para trás uma mãe profundamente orgulhosa e preocupada na mesma medida.

Além de todas as responsabilidades de adulta, havia uma outra coisa que não abandonava os pensamentos da garota: ela não conseguia parar de pensar na possibilidade de encontrar o amor da sua vida em Seul. Depois de assistir a tantos dramas e ler tantas fanfic's, ela já tinha toda sua história de amor montada em sua mente. Já havia treinado seu olhar profundo quando esbarrasse pela primeira vez em seu oppa; certamente o encararia por longos e intensos minutos, o que seria o suficiente para visualizar como seria sua linda futura filhinha, Eun-Ha. Ela também já havia testado como seria seu nome com diversos sobrenomes coreanos, dos mais comuns aos mais raros. Em suma, a garota estava mais do que preparada!

Um frio tomou conta da sua barriga, não se sabe se pela mudança de altitude do avião alçando voo ou se pela expectativa de viver um grande amor coreano. Independente do que fosse, Lua sabia que deveria manter a maior parte do foco em sua universidade; afinal, não foi fácil conseguir essa vaga, e havia uma mãe orgulhosa esperando por bons resultados no Brasil. Assim, durante a viagem, fez um contrato consigo mesma:

— Nada de deixar garotos me distraírem do meu objetivo! Preciso me concentrar nos meus estudos e aproveitar o máximo possível dessa cultura. — Certamente a mulher sentada na poltrona ao lado estranhou a menina falando sozinha, mas Lua já estava tão acostumada com olhares desse tipo que nem reparou.

Muitas horas se passaram, e Lua ficava cada vez mais ansiosa. Era difícil para a carioca ficar parada por tanto tempo, principalmente diante de um acontecimento tão incrível: sua ida à "terra dos doramas". Para se distrair, tentou ocupar o tempo com a leitura de um livro do seu curso superior que ela tanto amava, Psicologia, e também se dedicou ao desenho, sua arte favorita.

Os papéis foram preenchidos por diversos rostos orientais masculinos, sonhando que seu futuro marido tivesse expressões parecidas com algum de seus rabiscos. E quem sabe realmente teria?

Depois dos desenhos e de trocas de avião, foi a vez de encontrar, em seus mais belos sonhos, o rosto coreano que provavelmente ganharia seu coração, mesmo contra todos os seus esforços de manter sua concentração no intercâmbio. Foram horas incontáveis para uma imaginação muito fértil criar sua história de amor perfeita. Mas bem ali, no momento do pedido de casamento, Lua sentiu um solavanco que a despertou: o avião estava pousando na Coréia.