Cinco anos. Foram cinco anos de muito estudo e trabalho para encontrarmos, naquele pedaço de terra seca e cinzenta, o mausoléu. Meu ânimo era somente suprimido pelo clima opressor do antigo campo de combate, onde duas forças inimigas cruzaram suas espadas umas contra as outras.
- Sabe quem lutou nessas terras, doutor? - perguntou o camponês cuja companhia paguei para que nos guiasse pelos pântanos a sudoeste do Reino.
- Sou professor, senhor. Sei que isto é resultado dos cruzados. Durante a Guerra Herege, centenas de elfos se refugiaram aqui. A igreja matou muitos.
- Mas não todos - o camponês olhou com menosprezo para Jane Seven, que olhava distraidamente para dois corvos que rodeavam o céu negro carregado de nuvens pesadas, como se a qualquer momento fosse chover. Ela não nos escutava e nem sentia medo algum, pois balançava as pernas em cima de seu cavalo, como se toda a nossa jornada fosse um grande passeio.
A pequena elfa era minha protegida. Tive que subornar muitas pessoas para que eu pudesse ficar com ela e evitar que fosse para a fogueira. Diferente de muitos, não consegui sentir ódio de uma criatura tão inocente e bondosa como aquela. Jane já alcançou os onze anos de idade e sempre me ajudou em meus estudos. Eu gostava de sua presença, sempre alegria, mas ficava triste por pensar no quanto de perseguição e ataque sofreu e sofrerá por toda a sua vida.
Após os cavalos chegarem no topo de um morro, vimos na depressão abaixo, o mausoléu. Era real e estava lá. Quando eu retornasse para a Universidade do Norte, meu nome seria lembrado por eras como aquele que encontrou a Espada do Rei Sombrio.
- Eu só vou até aqui. Espero vocês saírem - o camponês desceu de seu cavalo e pegou as rédeas dos nossos.
- Obrigado, Tom. Seven, vamos!
Saltamos dos cavalos e sentimos algumas gotas de chuva caindo do céu. Jane vestiu seu casaco marrom com um capuz costurado. Eu usava apenas uma camisa branca, uma calça desbotada com suspensórios e um chapéu de palha. Descemos o morro e chegamos à construção onde um anjo nos observava do topo, com um olhar crítico e soberbo. A terra estava inundada e a água que batia até nossos joelhos era lamacenta. Abri a porta da tumba e observei as escadas de pedra desgastada que desciam em espiral em direção à escuridão.
- Seven, me dê o isqueiro - ela obedeceu e incendiei uma das tochas apagadas que estava amarrada à minha mochila. Erguendo-a em minha frente, avancei rumo ao subterrâneo, com minha parceira curiosa e sempre empolgada atrás de mim. Impressionei-me com a coragem de Jane, ainda mais se levarmos em conta o fato dela ser de uma raça perseguida e precisar do dobro de cautela do que um humano. Descemos centenas de degraus, a luz do Sol ficava cada vez mais distante e senti o cheiro de terra molhada nos envolvendo. Ratos passaram entre nossos pés e Seven deu um gritinho. Segurei o riso enquanto ela se recuperava. Demorou uma hora e meia para chegarmos ao nosso destino.
Quando pus os pés na cripta de teto baixo, senti água entrar em minhas botas. Estava tudo alagado, mas ainda dava para ver as estátuas de mármore sobre a parte de cima dos túmulos, guardando os caixões. Avisei minha ajudante para tomar cuidado onde pisasse e caminhamos entre os cavaleiros ancestrais.
O Mausoléu do Rei Sombrio não continha apenas o corpo do soberano, mas de sua guarda de elite. Os cavaleiros ancestrais eram temidos por todo Reino e decidiram o rumo de várias guerras graças ao seu excelente desempenho em batalha. Contudo, após a derrota na Terceira Guerra Monárquica, que deu fim ao reinado de sua majestade, os dez guerreiros decidiram se suicidar pela sua falha e serem enterrados juntos com o seu senhor nos confins do mundo conhecido.

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O Mausoléu do Rei Sombrio
FantasíaProfessor Galan é um historiador com sede de curiosidade pelo mundo à sua volta, mas uma lenda sempre lhe chamou sua atenção: aquele que portar a espada mágica do Rei Sombrio enxergará a verdade do Reino. Interessado, ele parte junto com sua aprend...