Sempre fui uma amante de encontros. A primeira vez que dois olhos se cruzam é um momento muito instigante no meu imaginário. Mas com os anos percebi que a paixão por reencontros é muito maior. São dois olhos que já se cruzaram e decidiram juntos sustentar o olhar. E foi com essa paixão em mente que atendi o telefone.
- Oi Sarah, ligando só pra confirmar se você vem hoje a noite. Fernando já disse que não vem.
- Oi Ana, vou sim. Umas 19h devo sair de casa. Quer que eu leve alguma coisa?
- Não precisa. Me manda uma mensagem quando tiver saindo.
- Tudo bem.
Eu conheço a Ana desde o colégio. Mantivemos um certo contato pelas redes sociais, mas é a primeira vez em dez anos que nos encontraremos pessoalmente. Em todos esses anos, a relação sempre foi de amizade. Eu sempre a enxerguei como amiga. Apenas. Mas existem certas coisas que simplesmente acontecem. Quando você menos espera, elas vêm. A vontade de senti-la foi uma delas.
Como prometido, avisei quando estava saindo. 19h15. Cheguei na casa da Ana umas 19h30. Era a primeira vez que conhecia a casa dela. Era um apartamento bonito. Prático. Com uma varandinha. Trocamos cumprimentos. "Sua casa é uma graça", "quanto tempo", "vamos pra varanda". Bebemos vinho, conversamos, ouvimos música. Como uma coisa chega na outra é sempre um mistério, mas o conjunto de vinho e música nos levou a uma conversa sobre coisas que excitam.
- Beijo me excita.
- De língua? boca na boca? - pergunto, curiosa.
- Sim. Um beijo quente e intenso.
- Acho que tem coisas que não envolvem nenhum dos dois e que são excitantes. - digo, levando o copo à boca.
Da mesma forma que essa conversa surgiu, ela se foi. Outras conversas nasceram no lugar. Coisas aleatórias. "E o mestrado?" "e fulana do colégio?", "você realmente namorou com professor x?". As frivolidades se mantiveram até que o vinho, o principal convidado da noite, acabou. Ana se levantou e andou em direção a cozinha no mesmo minuto em que a música seguinte começou a tocar. Eu reconheço a intro, olho para a caixinha desacreditada e ela, como se me encarasse de volta, quase que dizendo, "vai, faz alguma coisa" continua a vibrar ao som de I wanna be yours. Guiada por I wanna be your vacuum cleaner levanto e sigo até a cozinha.
Ana estava encostada na pia, abrindo um novo vinho. Andei em sua direção, encostei por trás, e como se já tivesse total intimidade com aquele outro corpo, desci a conveniente camisa de botão com uma mão, enquanto tirava o cabelo do caminho com a outra, deixando seu ombro exposto. Lambi os lábios, me aproximei mais e com wanna be yours ecoando, encostei os lábios, respirando a cada contato, do ombro até sua nuca.
- O que você está fazendo? - pergunta Ana em um misto de surpresa e inquietação.
- Provando meu ponto. - respondo, quase que a desafiando. - Eu falei que tinham coisas que não envolviam nenhum dos dois.
Encostei do seu lado, com as costas para a pia, olhando seus movimentos enquanto terminava de abrir o vinho, aguardando alguma outra reação. O vinho continuou sendo aberto, eu continuei na mesma posição, pensando no que fazer a seguir. Ana começou a caminhar com o vinho na mão em direção a varanda. Eu a segurei levemente pelo braço e perguntei como quem dá uma resposta ao show do milhão:
- Não quer provar seu ponto também não?
Se algum dia Ana não imaginou aquele momento, naquele instante isso ocorreu. Ela olhou pra mim por alguns segundos, como se tivesse que tomar uma grande decisão e com uma mordida de lábios começou a encostar. Tirei o vinho de sua mão e coloquei de volta na pia. Ela me beijou. Lento, língua, demorado. Ponto provado. Mas como se a resposta tivesse sido um não, ela se afastou. Pegou o vinho e começou a andar em direção a varanda novamente. Não era o que eu esperava, mas sabia que poderia acontecer. Muitas coisas aprendi nessa vida. Que nem sempre vale a pena arriscar a amizade foi uma delas. Então se ela chegou a essa conclusão, eu a respeito. Apesar disso, a noite não tinha acabado, ainda sobrava a companhia do nosso convidado, o vinho. Então eu fui atrás, em direção a onde estávamos.
O universo tem uma forma estranha de construir cenários e ações. Ana tinha chegado na porta quando virou para mim prontamente e disse:
- Mudei de ideia. - eu saio do caminho, chegando pro lado pra deixá-la passar. Ela olha pra mim com ar de confusa pelo meu movimento, mas resoluta - Sobre você.
Encostei um braço na porta, refletindo se não tínhamos tomado vinho demais.
- Mudou de ideia realmente ou o vinho está respondendo por você? Não quero que se arrependa pela manhã. - digo, ainda refletindo.
- Eu já me arrependi tantas vezes de não ter feito. Deixa eu talvez me arrepender de ter feito pra variar. - ela responde, de uma forma que faz parecer que sempre soube o que queria.
Dei uma risada suave, pensando na forma estranha que se comporta o universo. Encostei na porta com o dorso pro batente. Peguei o vinho em sua mão e escorregando com as costas, coloco o vinho no chão e me percebo, coincidentemente, com a altura um pouco menor que a da Ana. Um beijo surge e durante o beijo, começo a desabotoar sua camisa. A puxo pra mais perto, tirando sua blusa e levando minhas mãos para sua cintura. Meu Deus, como eu queria senti-la.
Puxo seu corpo pra perto do meu. Consigo sentir seu calor. Seu corpo claramente dizendo que quer estar ali tanto quanto eu. Subo as mãos pelas suas costas e abro seu sutiã.
Dou um beijo no pescoço, outro no esterno e quando chego no decote, dou uma respirada e sem levantar a cabeça, olho pra cima.
- Tem certeza? - pergunto, pedindo uma última permissão.
Ela dá uma risada de canto de boca, olha pra mim e responde:
- Eu quero você Sarah.
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Quando Você Menos Espera
RomanceAmizades podem virar algo a mais? Essa pergunta parece clichê e realmente é. Mas não é sobre a pergunta. É sobre o processo. E assim se inicia esse conto sobre Sarah e Ana, amigas desde o colégio.