Lá estava ela, com um rosto imponente, concentrada somente no que queria. Seus olhos desviavam de tudo e todos. Somente relaxou quando finalmente encontrou. O que era que havia encontrado? Não consigo dizer. Eu sei que era brilhante e esférico, por algum motivo isso não me causou estranheza nenhuma. Nada me causava estranheza, estávamos no mundo dela, e nesse mundo, tudo que fazia sentido na cabeça dela fazia sentido na nossa. Essa bola tinha um significado muito importante para todos nós. Foi nesse pensamento que me perdi do seu rosto.
Corri, gritei por Fary, ela gritou por mim, onde estaríamos? Atravessei portas, atravessei casas, atravessei montanhas. Eu me dei conta, tinha morrido, eu tinha morrido.
— Fary- gritei insolentemente e repetitivamente.
Ela sabia o que aconteceu comigo. Eu me poupo de perguntar como ela estaria. A resposta eu sei, mal, acabou de perder todo mundo, perdeu tudo em dois dias. Procuro uma bola brilhante, seria aquela minha alma? No mundo de Fary, era difícil dizer. Corri atrás da bola e quando encontrei o meu caminho perguntei o que iria dizer. Escutei o barulho do aperto na garganta, sua dor indistinguível:
— Thom, Thom.- Os soluços, as lágrimas. Nada daquilo me fez parar de correr em sua direção, eu ansiava por ouvir de perto a sua respiração.
O clima, os dois ofegantes com o torax tocando um samba, após procurarmos um pelo outro entre montanhas.
Eu encontrei, enfim, seu rosto que na loja procurava incansavelmente. Não tinha tempo para perguntas, não tinha tempo pra nada. Logo ela iria despertar e me deixar aqui a descansar. Eu sei o que Fary está pensando. Ela está pensando o mesmo que eu. Concentramos na música que nosso peito tocava, e na conexão, que naquela bola cintilava.
— Thom.- cansada, ela descansa meu nome, com o coração quente ela acorda. Tinha me encontrado. Seria isso que estava realmente a procurar?
Viria ela a entoar nosso som, distraída, quando estivesse a se arrumar? Viria ela a lembrar de meu nome, e da saudade que seu coração o proferiu antes de me apagar?