╰┄┄꒰ A garota da capa vermelha 𝐏𝐚𝐫𝐭. 𝐈𝐈. │jenlisa

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Capítulo Dois: O caçador e a caça

Lalisa encheu sua aljava, flexionando o arco o máximo que conseguiu. Era feito de madeira de boldo, do seu avô, mas era melhor que os novos que adquirira há pouco tempo. Encarou as armas acima da mesa da taverna, escolhendo a besta e a estaca de madeira polida, tão bem conhecida e usada por si como se fosse um membro do seu corpo. Colocou o casaco de pele de lobo e partiu para a tempestade de neve do lado de fora.

A praça do vilarejo estava completamente vazia, deixando o lugar com um aspecto abandonado. Nem mesmo as velas e lampiões estavam acesos. A única luz que poderia lhe guiar era da lua cheia, tão grande e luminosa que ultrapassava os flocos de neve. Encarou a maior casa do lugar, rezando mentalmente para que Jennie estivesse segura junto aos outros moradores dentro daquela igreja, e com isso, rumou para a floresta escura. O coração batia desgovernado no peito e as armas pesavam mais do que o normal.

Depois de algumas horas caminhando mata adentro, afrouxou o pano que cobria metade do rosto contra o frio. Seus ouvidos eram bons, ouviu passos desajeitados pela neve — apesar de não ter cem por cento de certeza.

Uma coisa que Lalisa aprendeu durante os anos de caça era nunca duvidar dos seus sentidos e, sem pensar duas vezes, seguiu para onde sua mente pediu. As árvores altas se tornaram raras e o caminho desértico. Puxou uma flecha lentamente das costas, a respiração alta ultrapassava o pano que usava para se proteger do frio.

Os passos sumiram de repente.

A neve impossibilitava uma visão a longa distância, essa era sua principal ameaça. Lalisa nasceu em volta de roseiras e sol, se acostumar ao contrário era difícil. Posicionou o arco rapidamente, os passos pesados voltaram a soar na grama. Era um animal. As patas dianteiras confundiam seus sentidos. Lalisa rodou a sua volta, puxando o lenço do rosto, murmurando um foda-se para todo aquele frio, seu sangue fervia.

O rosnado soou atrás de si.

Ela virou nos calcanhares e soltou a flecha no horizonte aparentemente vazio, puxando a segunda.

— Apareça, abominação! — berrou, sua voz ecoando pelas copas baixas. — Venha conhecer a sua morte!

Assim que fechou a boca, um vulto levantou neve à sua direita. Ela atirou mais uma flecha. Era complicado não ter precisão, precisava resguardar-se para não desperdiçá-las. Porém, agora, seus olhos estavam acostumados ao escuro, conseguindo assim, notar a pelagem preta do bicho em meio ao breu das poucas árvores.

Os olhos vermelhos como sangue pareciam um farol. Ela praguejou, desistindo de soltar mais uma flecha quando ele correu para dentro da mata. Não poderia perder o foco, precisava pensar de forma lógica. Aquele lobo deveria ter atacado, mas não o fez, restando assim uma outra opção: queria levá-la a uma armadilha.

Um pequeno sorriso cresceu nos lábios carnudos de Lalisa, ela guardou o arco e puxou a besta amarrada em sua coxa, correndo para onde o lobo seguiu.

A floresta passava rápido à sua volta, as raízes saiam da neve como se quisessem agarrar o seu pé, e as árvores voltaram a se amontoar até não restar nenhuma. Lalisa entrou em uma clareira, um descampado. Ao passar pela última árvore, seus olhos captaram uma coloração diferente do branco habitual. As mãos enluvadas foram até o retalho preso em um galho, levou o pano aos olhos, encarando o azul forte.

Sorriu.

— Hoje comerei carne de lobo. — Incitada pela caça, voltou a correr.

As camadas de neve não eram mais um problema para locomoção, tentava respirar pela boca para que a inspiração gelada não doesse os seus pulmões. Acelerou o passo, conseguia ver nitidamente o lobo de pelagem preta correr alguns metros à frente, o único barulho na floresta era dos dois. Posicionou a besta, errando na primeira e acertando na segunda.

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