Joe - Série Soldados Livro 1

Julie 2

Na minha vida as coisas sempre eram muito fáceis, mamãe e vovó sempre me ajudaram e me ensinaram tudo que eu precisaria pra morar sozinha.
Mamãe me colocou para ajudar na cozinha logo quando fiz 10 anos, eu ajudava a descascar os legumes e temperos, separava os ingredientes dos bolos e sobremesas, e de vez em quando cortava alguns legumes.

Logo depois vovó passou a me levar para o restaurante, e passou a me ensinar o valor do dinheiro e como devo usá-lo. Me mostrou como deveria ir ao mercado e como posso economizar para poder guardar dinheiro.

Logo depois que minha mãe se casou Com Júnior ele quis me ensinar coisas básicas sobre conserto da casa. Como trocar uma lâmpada, ou um chuveiro, como desentupir um cano ou trocar um botijão.

Mas de todas as coisas que eles me ensinaram eles esqueceram de uma só coisa, que no momento, é o que eu mais estou sentindo falta. Como lidar com situações de desconforto ou com pessoas irritadas.

Minha mãe nunca brigou com Júnior na minha frente, e minha avó sempre me deixava longe de discussões.

Apesar de saber lidar com alunos encrenqueiros e crianças menores, não sei lidar com pessoas irritadas ou furiosas.

E nesse momento Joe parece muito furioso, ele aperta tão forte o volante que os nós dos seus dedos estão brancos.

"Joe, você tá bem?" Pergunto quando ele para o carro no meio fio da estrada.

Ele continua em silêncio, agora olhando fixamente pra estrada escura a nossa frente.

"Desculpa por isso"- ele diz - " Meu pai me chamou aqui para pegar um computador, e quando entro lá dentro me deparo com ele e a mulher dele com um bebê no colo"
Ele diz e eu fico chocada.

"Você tem um irmãozinho novo?"
Pergunto incrédula e feliz.

Se eu não me engano o pai dele tem a mesma idade do meu pai. Então ele já deve estar na casa dos 43 anos.

"Uma irmãzinha na verdade. Meu pai já sabia que eles iriam ter um bebê antes de eu ir para a minha missão. E mesmo assim não me falou nada, preferiu né deixar no escuro."
Ele diz revoltado.

"Isso é uma coisa ruim?" Pergunto me virando pra ele.

" Não estou irritado por causa da minha irmã, ela é linda na verdade, o que me incomoda é ele ter esperado eu voltar da missão. Não me deixou participar desse momento, ela já tá com 4 meses, e eu não sabia dela. Eu ia querer estar aqui quando ela nasceu. Podia ter pego ela no colo quando ela nasceu e ter abraçado ele e a Isaura. Droga, eu só queria ter participando." Ele diz bravo batendo a mão no volante, me assustando.

Ele baixa a cabeça encostando ela nas mãos.

"Olha, ele te falou o por que ele não te falou nada?" Eu disse

"Assim que entrei vi eles dois juntos com ela no colo, ele mal me comprimento e já começou a falar dela, disse que ela se chama Olivia, que tinha três meses, e quando eu perguntei quando ele soube da gravidez ele me disse que foi logo no terceiro mês." Ele respondeu.

"Nossa."

Eu realmente não sei o que falar.
Sem saber como reagir levei minhas mãos até sua cabeça e fiz um cafuné.

"Você tem que deixar ele se explicar, ele com certeza teve um bom motivo pra não te contar, você só precisa se acalmar nesse momento." Disse enquanto fazia cafuné nele.

"Isso é bom"  Joe disse após um breve momento em silêncio.

"O que?" Perguntei parando o cafuné.

"O carinho. É bom!" Ele disse

Logo lembrei de quando éramos crianças e ele se deitava na grama enquanto brincávamos de construir castelinhos para a princesa (vulgo eu) e quando acabamos eu fica fazendo carinho nele.

"Eu sei, você sempre gostou de carinho."
Disse sorrindo quando ele levanta a cabeça me olhando sério.

Seus olhos hipnotizantes. Como me manter longe desses olhos, desço meu olhar para a sua boca e ali eu paro, seus lábios são carnudos e chamativos a essa distancia, como resistir?

"Acho melhor nos seguirmos pra casa, já está ficando tarde e amanhã eu ainda tenho que ir pra escola logo cedo..." Digo, na verdade eu sussurro. 

"Tudo bem" Ele diz se afastando e ligando o carro novamente.

O resto do caminho feito para minha casa é em total silencio e na mais pura confusão na minha cabeça. 

Eu quero beijar ele? com certeza.

Isso é o que ele quer? acho que sim.

Então por que eu recuei? Porque ele não me beijou mesmo assim?

Essas questões ficam sem respostas assim que chegamos em frente ao prédio e eu já vou me preparando para sair. 

Logo ele esta na porta do carro para me ajudar com os livros e quando finalmente estou na porta do meu AP ele me entrega tudo me desejando boa noite com um beijo na testa.

Entro me sentindo vitoriosa pelo dia mas também me sentindo uma perdedora...

Isso até baterem na minha porta...

Continua...

21/12/2021

Ester P.R. Aguiar