Don't Hesitate

Don't Hesitate

por mando

"Se você repentina e inesperadamente sentir alegria, não hesite. Entregue-se. Há muitas vidas e cidades inteiras destruídas ou prestes a ser. Nós não somos sábios e nem sempre somos gentis. E quase não há o que se redimir. Ainda assim, a vida ainda tem algumas possibilidades. Talvez seja esta a sua maneira de lutar, às vezes acontece algo maior que todas a riqueza ou poder do mundo. Pode ser qualquer coisa, mas muito provavelmente você a perceberá no instante em que o amor começar. Em todo caso, é quase sempre assim. Seja como for, não importa o que for, não tenha medo de sua abundância. A alegria não foi criada para vir em migalhas." — Mary Oliver

___________________________________________________

xxx

Marie não esperava ter uma grande recepção em seu primeiro papel como protagonista, pois não era exatamente conhecida na indústria. Quase não acreditou quando contaram a ela que mais de 12 milhões de pessoas ligaram a TV para assistir ao piloto da série. A primeira temporada atraiu pessoas de todas as idades, cada um com seu motivo especial para sentar e assisti-la colocar uma capa e voar.

Ela já deveria ter imaginado qual seria seu público mais fervoroso só pela quantidade de tweets pedindo a ela para mostrar seus treinos, mas não foi até a segunda temporada que realmente percebeu o impacto da sua personagem em uma certa demografia.

Uma atriz foi convidada para fazer uma breve participação como a irmã de um dos vilões mais emblemáticos daquela adaptação. Seria coisa de dois ou três episódios, no máximo. Ainda não sabia quem era a mulher, mas Marie tinha em mente um rosto mais velho, comum e gentil, alguém que daria um empurrãozinho para o desenvolvimento da sua personagem.

Quando o nome da sua nova colega saiu, Marie pesquisou sobre ela na Internet e descobriu que ela tinha certa popularidade. Os principais sites ligados ao canal da série só falavam em Elizabeth McCreath, conhecida por seus papéis em adaptações para televisão de clássicos da literatura, como "O Médico e o Monstro" e "Frankenstein", blockbusters de ficção científica sobre insetos pré-históricos geneticamente modificados... e, o que mais a interessou, diga-se de passagem, foram os trabalhos voltados para o nicho LGBT. Marie assistiu a todos os seus filmes por, pelo menos, quatro ou cinco vezes antes de finalmente se perguntar por que realmente havia gostado tanto deles.

Marie estava intrigada e queria conhecê-la melhor, principalmente após ouvir relatos de outras pessoas. Alguém sempre tinha algo interessante a dizer sobre Elizabeth. Comentavam amigavelmente de suas escolhas de calçados ("são adoráveis, você realmente não espera uma mulher linda como ela usar sapatos tão... diferentes"); sobre como ela tratava seu grande cão de estimação como um bebê (não era exatamente incomum a presença de animais em cenários abertos, mas o galgo inglês de quase 80cm a acompanhava para todos os cantos, ficando até mesmo em seu colo enquanto a maquiavam); ou como alguém sempre aparecia muito satisfeito com um livro novo, dizendo ser presente de Elizabeth; ou então o fato de ela possuir três celulares e nenhuma rede social, apenas o Whatsapp, mas sempre mandar cartinhas para as pessoas.

— Como ela é? — perguntou à Leigh, sua amiga mais próxima, irmã da sua protagonista.

— Irlandesa. — disse, sem rodeios.

— Tenho certeza que você pode me dizer mais do que isso! — exclamou Marie.

A amiga riu e refletiu por alguns segundos.

— Ah... Ela é linda, um pouco mais velha que você. — respondeu a mulher simplesmente. Marie fez uma de suas expressões de pura e adorável confusão. — Ela é bem difícil de esquecer. Você vai entender.