Uma paixão proibida

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                     Hamlet observa a Horácio que há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava Vilela ao moço Camilo, na primeira noite que se viram pessoalmente em uma sexta-feira de novembro, quando este ria dele, por ter feito contato na véspera com uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.

                    — Ria, ria. Não acredita em nada. Pois eu fui, e ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu falasse o que era. Apenas começou a botar as cartas e disse: "O senhor gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou para mim que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...

                  — Errou! interrompeu Camilo, rindo.

                  — Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria..

                 Camilo pegou nas mãos de Vilela, e olhou para ele sério e fixo. Jurou para ele que queria-o muito, e que em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-o; disse-lhe que era imprudente mandar mensagem para essa gente. Rita podia descobrir....

                — Pare com isso! Tive muita cautela ao procurar a mulher

                — Onde a achou ?

                — Na internet, em um site bem escondido. Descansa; eu não sou maluco.

                Camilo riu outra vez:

               — Você realmente crê nessas coisas? perguntou

               Foi então que Vilela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse que havia muita coisa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. O que mais? A prova é que ele agora estava tranquilo e satisfeito

               Camilo ia reclamar novamente, mas se reprimiu. Não queria arrancar as suas ilusões. Também ele, quando criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um acúmulo inteiro de coleções que aos vinte anos desapareceram, o que o levou à dúvida, e logo depois a negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não conseguia dizer, não possuía um só argumento: limitou-se a negar tudo. E digo isso mal, porque negar é ainda afirmar, ele não formulava a sua incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando. 

             Separaram-se contentes, ele mais do que Vilela. Vilela estava certo em ser amado; Camilo, não só estava, mas via-o se abalar e arriscar por ele, correr às cartomantes, e, por mais que o censura-se, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. 

              A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos, onde moravam Vilela e Rita, sua esposa, mas que no momento estava na faculdade de psicologia. Cada um foi para um lado mergulhados em seus próprios pensamentos.


A cartomante - Fanfic Machado de AssisOnde histórias criam vida. Descubra agora