Estava tocando uma música de fundo no bar onde o moreno se encontrava. Descera mais um copo de Vodka por sua goela, sentindo-a queimar. E por fim, encosta-se na cadeira amadeirada; pondo sua cabeça a ficar pendurada. O álcool era sentido pelo seu paladar como algo eternamente divino! Embora nunca tenha tido problemas para se embriagar... Em especial, naquele dia, estava sendo quase impossível o fato ocorrer.
Somente escutava através do som o barulho de Tic-Tac-Toc do seu relógio. Pequenos devaneios estavam começando a assaltar-lhe a vista. Faltava algo... Ele sabia. Tinha a intuição disso. Suspira, pesado, se colocando de bruços e batendo seu copo três vezes sobre o velho balcão, chamando o bartender. Em seguida, pede pra preparar-lhe a conta.
Se levanta com sofreguidão da cadeira e geme levemente. Sentindo o peso da noite invadir seu corpo aos poucos. O cansaço, o comodismo e é claro... O desejo de algo que não se recordava exatamente. Tudo lhe passava em câmera lenta. Não havia uma coisa que não acompanhasse seus passos, seu ritmo ou sua atmosfera. Ou era ele que não o acompanhava? Devagar, passa pelo meio da pista de dança, não se importando se ali tinham casais dançando ou se alguém iria se aproximar de súbito para fazer-lhe movimentos eróticos dando a entender o seu real interesse. Vinham homens e mulheres tocando seus braços, abdômen e tórax. Rebolando numa tentativa e esperança de seduzí-lo para a cama minutos mais tarde. Contudo, embora a tentadora ação parecesse vir a calhar, algo nele doía. Era um prazer misturado de agonia. Uma paz que não conseguia encontrar. "Falta algo..."
Ainda andando e permanecendo a ignorar as atrações do circo, se encaminha para o banheiro decidindo fazer suas necessidades básicas antes de ir embora. Chegando a sanitária, abaixa as calças e se alivia. Sentindo uma leve enxaqueca invadir-lhe a cabeça. Fecha os olhos numa tentativa de esquecer a dor. O ambiente estava por si só escurecido. Escutando pelas paredes as batidas da parte festiva, anda até a pia e enche suas mãos com a água da torneira, molhando assim o seu rosto. As gotas escorriam pelos seus fios de cabelo e iam caindo ao chão através de seu queixo. Estava ofegante, arqueado. Sentindo-se livre e preso ao mesmo tempo. Soergue a cabeça e olha para o seu reflexo. Podia ver o rosto destruído que o mesmo possuía. Como se tivesse acabado de acordar de algum pesadelo horrível e se lembrasse passo a passo das cenas. Seu olhar estava aflito. Alguns estalos de dor lancinante lhe assombravam. Lembrou-se do remédio que tinha guardado dentro de seu sobretudo cor de areia e tirando três comprimidos, engole-os a seco; voltando a encarar sua figura no espelho.
"Falta você aqui...", repetia diversas vezes o seu eu mais jovem. Ele ria como se tudo fosse uma grande piada! Mexia no seu blazer preto e o olhava com escárnio. Dazai, nada mais era do que o ser mais repugnante que o mundo já vira. Como pudera deixar isso acontecer? Proferia a tal da frase como uma oração. Algo que faria seu sofrimento passar. Algo que precisava encarar. E isso, mais uma vez, incomodava. Sacode a cabeça e põe as mãos nos bolsos. Já preparado pra sair dali. Apenas, antes disso, paga o que devia e se prepara para sentir o vento frio do mundo de fora; o gélido frescor seco que ardia-lhe a vista e desidratava seus lábios.
Ao chegar na rua — pelo menos um passo à frente da porta do bar —, pega um maço de seu cigarro, o acendendo com o isqueiro, tragando aquele ar sujo, o expelindo na sequência. O sentido de maltratar seus pulmões como um câncer que vem sorrateiro era algo agradável para si. "Que bela noite...", clamava.
Estava sozinho. Se sentia sozinho. E de fato era sozinho. Suas alucinações sempre foram seu maior problema. Ao modo de que quando não sossegava, sua mente piorava. Criando eventos e imagens através de seus olhos e o fazendo crer que tudo aquilo estava acontecendo. Tinha ciência de que nunca se sentiria por inteiro... Ou... Encontrar algo que o completaria. Ou quem sabe até mesmo ser compreendido! Engraçado... Já se vira tantas vezes chamando o nome dele... E quando acordava, a doce surpresa! Nada era real. Nunca soube explicar o que havia de errado. O que tornavam as coisas erradas? Era uma pergunta que não queria calar. Se era ele ou o mundo. Se era a culpa ou o arrependimento. Nada se encaixava. Porque não importava onde estivesse... Ele sempre estava lá. Seja dentro de sua mente, de seus pensamentos. Ou fosse andando pelas calçadas cinzentas que aquela cidade tinha à apresentar. Tudo era um amparo. Desde que fosse por mínimos segundos. Isso já bastava.
Agacha-se para amarrar seu tênis e ao olhar para o lado, se vê com quinze anos de idade novamente. Estava de pé com o ruivo à frente. Conversavam como pessoas que se conheciam de épocas passadas. Algo tão errado e certo... Viu sua faixa ao redor da cabeça com um tingido de sangue. Se metera em alguma briga? Não se lembrava direito desse dia. Deve ser por isso que o jovem ruivo estava tão exaltado. Sua preocupação sempre fora algo que tentara desvendar. Como alguém conseguia ficar tão assustado e estressado ao mesmo tempo? Olha para o cigarro e nota que ele já estava no fim, então, joga-o no chão e pisa nele levemente. Voltando a acender outro.
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In My Cigarettes • Soukoku
Фанфик"Ando te procurando em cada viela da minha cidade. Já faz muitos anos, não é mesmo, meu amigo? Ando entorpecendo-me com mais e mais dos meus cigarros para poder te encontrar nem que seja dentro dos meus devaneios. Ainda é tarde para livrar-me da cul...