Tarot, cafés e madrinhas de casamento

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O restaurante não estava muito movimentado aquela semana, assim como minha criatividade para escrever alguma coisa como sempre, ou minhas consultas com o marketing e com o tarot o que me deixou ainda mais ansiosa para a consulta de Sabrina.

Ela foi uma colega da faculdade de Ciências Políticas. Poderia facilmente passar por uma mulher sem problemas, mas no fundo todos temos nossas cicatrizes. Ela tinha problemas com a família, todos dependiam dela o tempo todo para todas as coisas o que deixava ela sem energia, sem fazer as coisas que ela gostava, sem poder aproveitar a vida.

O tal noivo da Sabrina era a versão masculina dela, mas ele se dedicava a Sabrina e a ajudar ela a lidar com tudo. Era a dupla do herói e do ajudante, mas numa versão romântica. Ele ajudava ela a entender as próprias vontades e valorizar aquilo, ajudava ela a ver que muitas das pessoas que dependiam dela só estavam acomodadas com o fato dela sempre estar lá. Eles formavam um casal bom com um ótimo equilíbrio desde a primeira vez que falei com ela e quando ela marcou a consulta ela parecia muito feliz.

Marquei de encontrar com ela em um consultório porque ela não queria que a leitura fosse feita na casa dela, o que acontece muitas vezes. Preparei o espaço meia hora antes dela passar pela porta vestida como uma empresária de sucesso, ela estava radiante. 

— Por Deus, Sabrina, você está ótima! — elogiei abraçando ela.

— Você também está linda, Liz! Como estão as coisas? Conseguiu publicar seu livro? — perguntou ela animada.

— Estão indo bem, ainda não consegui terminar o livro, tive um bloqueio criativo quase um ano atrás e desde lá não consegui escrever mais nada, mas estou trabalhando com outras coisas também.

— Eu imagino. Você é talentosa em tantas coisas, seria desperdício usar em só uma coisa. — eu tinha vontade de proteger ela do mundo quando ela falava essas coisas.

Nos sentamos em cadeiras de lados opostos da mesa coberta com um tecido de estampa de céu com algumas pedras e incenso perto dos decks de cartas.

— Como eu posso te ajudar? — perguntei. Normalmente as pessoas vinham com situações, não perguntas prontas, então era a melhor forma de começar uma sessão.

Sabrina respirou fundo e seus olhos encheram de água e miraram o chão. Aquela felicidade que ela sempre teve pareceu sair de cena, dando lugar a uma tristeza densa que nunca aparecia em cena. 

— Eu não sei, Liz, ando me sentindo cada vez mais tensa quanto ao casamento. Não é que eu não queira casar, eu quero, eu nunca estive tão certa de querer algo na minha vida, mas não sei porque me sinto assim. — ela respirou fundo mais uma vez — Parece que estou tomando uma decisão errada, mas eu sei que não é, entende? É complicado...

— Muitas das coisas que passamos na vida são complicadas, podemos estar certas e incertas, confiantes e inseguras sobre a mesma coisa ao mesmo tempo. — respondi. Ela não parecia querer falar mais nada então comecei a embaralhar as cartas do tarot pensando no que ela precisava saber sobre esse casamento. 

Três cartas pularam do baralho e eu coloquei-as em fila. A primeira carta a sair foi a carta dos enamorados. Não me surpreendi nem um pouco.

— Como está a sua relação com o seu noivo? — perguntei. 

— Está ótima, nunca estivemos melhor. Mudamos para a mesma casa tem menos de um ano e tudo pareceu se tornar mais fácil, mais prazeroso. Consigo ficar um pouco mais focada em mim agora, no meu noivado, no meu trabalho, nos meus sonhos. Eu me sinto até mais bonita, mais próxima de quem eu queria ser e o Lucas sempre está do meu lado me apoiando. Eu realmente amo muito ele.

Que o mundo vá à merda e outras expressõesOnde histórias criam vida. Descubra agora