'tis the damn season

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Aqui as coisas ainda parecem as mesmas, mesmas pessoas, mesmas lojas, são os mesmos ladrilhos naquela maldita calçada, as mesmas árvores, os mesmos rostos de pessoas me parabenizando com falsos sorrisos.

Eu odeio esse lugar.

Ao passar em frente ao Olive Garden fui capaz de ver meu fantasma. Sentada naquela mesa, opaca, sem vida encarando a janela, por um breve momento meu coração parou, meus olhos apenas voltaram a encarar a rua quando uma buzina me puxou para a realidade.

Mais algumas curvas pelas ruas vazias e eu me encontrava em frente à casa amarela de meus pais. As plantas no jardim estavam cobertas por uma pequena camada de neve, suspirei pesadamente, inverno é sua época do ano favorita. Tudo nessa cidade me remete a ela.

Respirei fundo e tomei coragem de abrir a porta do carro, mas meu corpo estava travado, não conseguia me mover. Me olhei pelo retrovisor e amaldiçoei novamente pela ideia estupida de vir até a casa dos meus pais para passar os feriados de fim de ano.

Eu poderia estar muito confortável em meu apartamento em Seul, mas não, me deixei levar pelo sentimentalismo de meu irmão e aqui eu me encontrava. Amedrontada. Insegura. Com enormes olheiras embaixo dos olhos. Inferno! Eu deveria ter passado um pouco de maquiagem.

Tirei o cinto e puxei a mala que se encontrava no banco do passageiro, peguei minha bolsa de maquiagem e apliquei um pouco de corretivo ao redor dos olhos, nada muito forte, apenas queria esconder minha feição de zumbi diretamente de Kingdom.

Suspirando pela milésima vez naquela tarde reuni o pouco de coragem que me restava e finalmente abri a porta do carro. Caminhei a passos lentos até a porta da casa de meus pais, observei cada floco de neve, cada pedaço de grama morta congelada, observei os tons escuros que ganhavam o céu aos poucos e toquei a campainha.

Ouvi um murmurinho de dentro da casa e logo a porta foi aberta. Meu corpo foi automaticamente aquecido pelo calor do abraço que recebi de meu pai.

- Mina! Finalmente você chegou – ele murmurou sem me soltar – que saudade, minha filha, venha entre, entre, você deve estar congelando.

Adentrei a casa retirando meus sapatos e casaco largando-os na entrada. Meu pai me puxou entusiasmado para a cozinha onde estavam minha mãe e meu irmão.

- Mina! – meu irmão me puxou para um abraço de urso – você demorou tanto que pensei que não fosse mais vir.

Sorri sem jeito. Não que eu odiasse minha família, eu os amo incondicionalmente, é que apenas voltar a essa cidade me traz muitas lembras, lembranças que eu preferiria esconder no fundo de minha mente e coração.

- Desculpe, vocês sabem... ensaios, promover os álbuns, é complicado – respondi com um sorriso tímido.

- Ora, Kai, saia de cima de sua irmã, ela tem um trabalho que demanda muito dela – minha mãe puxou meu irmão e eu a abracei – como tem passado? Tem se alimentado bem? Pelo visto não, olhe só como está magra...

E minha mãe seguiu dizendo que deveria me alimentar melhor, que minha saúde poderia estar sendo prejudicada. Sorri durante todo o seu monólogo, não sabia o quanto sentia falta de ser verdadeiramente cuidada por alguém até agora.

-o-

Passado os beijos e abraços para matar a saudade subi até meu quarto para tomar um banho e tirar o peso da viagem.

Não era fácil estar em casa, além daquela cidade tudo em meu quarto me lembrava ela, a cama onde nos amávamos, a escrivaninha onde fiz meu primeiro poema para ela, o maldito chão onde eu cai e chorei por horas quando ela resolveu acabar o que tínhamos.

Afterglow - MiChaengOnde histórias criam vida. Descubra agora