II
Josiah perdera a contagem dos minutos, achou mais importante se ater a se manter vivo. Seu pensamento mais rápido foi correr para dentro do bar, junto de seu aliado, os demais participantes do que estava por vir eram, para ele, coringas em termos de alianças e com nada podia contar vindo deles, para sair de lá vivo ele precisaria manter as apostas num mínimo e jogar seguro. Ele não precisava ganhar, ele só precisava sair de lá vivo. O que Josiah achara mais triste foi que muitos dos que ali estavam sequer tinham uma arma para ter voz na discussão acalorada que viria a seguir.
O homem que não fala se pôs de pé e cada vez mais o enigma era solucionado, mas nunca por completo, Josiah sabia que tinha algo sobre ele que ele não descobriria tão fácil.
A casaca caiu no chão e ficaram visíveis um sabre e uma escopeta de cano serrado, ambos em suas coxas, respectivamente em sua bainha e seu coldre.
A escopeta rugiu duas vezes, Josiah não viu a quem os tiros eram destinados porque se abaixou atrás do balcão conforme ele a tirava do coldre.A sinfonia visceral tocava alta, apesar de ter entrado mais de quarenta homens lá aquela noite, difícil seria que dez sobrevivessem ao que Josiah ouvia.
Josiah não era um homem que costumava sentir medo com facilidade, mas ínfimas eram as chances dele escapar vivo se engajasse naquele combate.
A maioria dos que estavam lá não tiveram chance de se preparar, ele devia valorizar o aliado que tinha, os dois tinham uma vantagem, uma chance real de sair dali vivos, tinham a barricada, eram familiares com o local, tudo daria certo.
Josiah virou a cabeça para falar com seu aliado e o encontrou com a cabeça espalhada por todo o espelho atrás do que eram as prateleiras com bebidas. Tanto as prateleiras de vidro quanto o espelho se encontravam trincados e por partes estilhaçados e espalhados pelo chão.
O corpo do barman estava estirado no chão com um pouco mais que os ombros apoiados na parede.
"Quando isso aconteceu?"Josiah pegou a escopeta do barman e agora tinha duas armas à disposição.
A orquestra parecia ter se desfeito e ouvia um pouco mais de seis vozes entre o térreo e o primeiro andar, vindos de seus esconderijos já não mais tão secretos.
Das vozes que ouvia, a única conhecida era a de um dos homens de August. A voz vinha de um dos quartos no primeiro andar e parecia estar acompanhada de duas das meninas da casa.- Lucas, o barman morreu - disse Josiah.
- Quem disse isso?
- Josiah Campbell. O que você vê aí de cima?
- Três moribundos, um dos sujeitos não parece falar a língua comum; e eu estou com algumas meninas aqui. É um banho de sangue, Josiah, mas acho que ninguém mais tem balas para gastar.
- Eu tenho. É seguro eu ir até aí?
- Parece, mas minha incerteza é tanta que não me atrevi a sair.
- O homem grande morreu? - A única pergunta que Josiah realmente queria uma resposta.
- O sujeito da espada? Saiu. Ele não saiu sozinho.Josiah decidiu arriscar, realmente não parecia que mais alguém fosse ousar disparar. Levantou agachado tomando cuidado para que sua cabeça não aparecesse por cima do balcão, ainda estava apreensivo. Arrumou o revólver no coldre e empunhou a escopeta do barman firme. Colocou os cartuchos que encontrou nos bolsos do paletó e andou, ainda agachado, saindo do balcão.
O primeiro passo fora de sua cobertura o deixou tenso, mas ao observar o salão e avaliar a situação ele se livrou da tensão.
A cena era horrenda, qualquer um que tivesse estômago fraco vomitaria. O cheiro de morte era tão vivo que a língua te dava o gosto do que você estava cheirando. A atmosfera estava pesada, de modo que andar exigia um pouco mais de esforço, ainda que não tanto.
Qualquer um com um estômago fraco teria problemas ali, mas não Josiah, seu dia era trabalhar com esterco, no sol, e não era raro encontrar um animal morto. De certo modo, por mais não ortodoxo que fosse, Josiah chegara a conclusão de que sua rotina o prepara para aquele tipo de coisa.
O que teria pesado a Josiah alguns anos antes teria sido tantas mortes, mas depois de perder Joane ele não se abalaria por mais nenhuma perda, ou, pelo menos, é o que dizia para si mesmo e naquela noite ele estava convencido disso.
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Lawless: Cidade Sem Lei
General FictionLawless é uma história que nasceu espontaneamente enquanto eu imaginava uma saga que eu notei que carecia de background. Eu tive muito receio de que quanto mais o tempo passasse, mais distante se tornaria o sonho de me tornar um escritor com certa n...