Sob Pressão

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Sou uma mulher claustrofóbica que trancafiou-se em laboratórios, consultórios e salas de operação com o resto de livre-arbítrio que possuía.

Rastros petrificados de desejos desmantelados permeiam as gôndolas que vendem ilusões por segundo. Luzes e cores fortes demais.

Sou assombrada pela impressão persistente de deixar algo muito valioso me escapar pelas mãos. A vida deixa de pulsar por alguns segundos.

Desta vez, a incisão foi mais profunda. E o sangue, profuso.

Partir e enganar-me. Nunca vivi.

Observo o mundo à distância e mesmo assim não estou segura. Atinge-me. Atinjo-me.

São corações congelados pelo desespero, todos estes. Quase insignificantes. Agonia gritante.

Já reparou como é aflitivo estar em meio à multidão? Já pensou que cada vida ali tem uma história? Não é assustador? Várias pequenas histórias, tragédias, corações apertados, portanto congelados. Aflições que jamais terão voz.

Minha história jamais foi entrelaçada com a de alguém. Nunca permiti. Tenho medo de perder e de ferir.

Não espere belas palavras vindas de mim: no final, sou apenas mais uma das tantas pessoas exaustas. Minhas mãos estão trêmulas. É um efeito adverso comum, imagino. É o prenúncio do transbordar. Ou quase.

Estou tão cansada que preciso fazer com que qualquer coisa saia de mim, qualquer palavra me basta. Mas conseguirei dizer?

Jamais.

Como sequer começar uma confissão? Não quero que me transborde o coração, um órgão que, incuravelmente, já pulsa tão fracamente em mim. Não chega a ser cômico o quanto isto parece uma declaração de que chega o fim?

Eu já deveria estar acostumada, a vida inteira foi essa sombra, a ameaça constante de morte. Talvez a isto se deva a minha fascinação por laboratórios e salas de operação, pelos limiares da vida; estes locais sempre brindam-nos com nascer e morrer, com o renascer. Uma tentativa de contrariar a sentença proferida milhares de vezes: não há cura, não há cura.

Se não há cura, posso ao menos — O que posso?

Deixar marcas, antes que seja tarde demais. Não é interessante? Sempre parece que o tarde demais está chegando. Algum dia será verdade.


Todo o meu corpo dói terrivelmente, e no final, é apenas drama e insatisfação. Não é? Não. É pura dor, física mesmo, que me acompanha desde sempre. Sempre foi assim.

Se eu fosse uma dessas mentes brilhantes, faria disso epifania.

Como não tenho gênio, brilho ou vontade, continuo a debater-me nas violentas explosões internas, caladas antes da chegada. Implodo — deixo-me implodir — por não saber mais o que fazer.

ImplosãoOnde histórias criam vida. Descubra agora