Capítulo único.

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 Notas: oioi gente, antes de mais nada gostaria de dizer que essa fic foi resultado de um completo surto de criatividade no meio da madrugada depois de eu ter reassistido Soul (ô animação destruidora essa, visse?). enfim, essa one tem uma pegada diferente do que eu costumo escrever, mas espero que vcs gostem!

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 Após a tão sonhada morte, houve o silêncio. Foi como afundar nas águas de um mar calmo, de ondas sussurrantes.

A morte trouxe uma paz inesperada consigo, daquelas que abraçam com o mesmo conforto de braços maternais. 

 O desespero e a dor se esvaíram como se nunca tivessem existido. O corpo afundava, mas a mente permanecia intacta: serena, lúcida, leve como pluma lançada ao vento. Não havia mais preocupações, não havia mais sofrimento. 

Tudo era luz. Tudo era calmaria. 

Deite aqui e descanse, a tormenta teve fim. 

E quantas vezes eu não tinha repetido isso a mim mesmo? 

Fazia algum tempo que eu estava aqui: sozinho, apenas uma alma errante, caminhando sem propósito algum. 

Nada fazia muito sentido na minha cabeça. 

E nem mesmo meu nome era de meu conhecimento, embora me chamassem pela numeração 13. 

Certa vez, uma das almas recém chegadas dissera que era um número de azar. É, isso explicaria muita coisa. 

No inicio, depois do Julgamento, recordar era fácil. Eu poderia citar minha antiga vida de trás pra frente diversas vezes. As pessoas chegavam aqui e seus espíritos brilhavam ao me reconhecer, pois meu nome era famoso nas histórias que rondavam o mundo humano: eu era um herói, eu tinha glória. 

Sei que tinha alguém comigo. Havia uma outra alma que não saía do meu lado. Não me lembro seu nome, sua numeração ou suas características. Mas ela era importante. Eu deveria lembrar. 

Muitos se perguntavam como eu teria parado nos Campos Asfódelos e não nos Campos Elísios, aonde os verdadeiros heróis iriam. A verdade é que o crimes que eu cometera, pesaram igualmente quando comparados aos meus grandes feitos. Então, me deram a opção de renascer. Começar tudo do 0. Mas aquilo não era o suficiente para me fazer retornar.

Portanto, me puseram aqui: esquecido.

Depois de um tempo, minhas memórias se tornaram uma tapeçaria frágil: outrora a peça mais bela de Aracne, mas agora sendo apenas uma falha na perfeição, desmanchando-se pouco a pouco na poeira, enquanto as cores perdem o brilho. 

E tudo se tornou vazio, como se eu tivesse ingerido o Lete inteiro.

Apenas uma coisa continuou na minha mente: a lembrança do sofrimento. E, apesar de não ser possível sentir dor física no Mundo Inferior (exceto pelos Campos de Punição), essa recordação era o suficiente para que mil adagas afiadas perfurassem meu peito.

Pelo que disseram, eu só fui para a Terra uma vez. Uma vida. Mas algo me dizia que o sofrimento que presenciei nela valeu por milhares. No fundo, eu sabia que o mundo me devoraria e a dor disso seria intolerável. 

Sem contar o que eu ouvia das almas recém chegadas: sobre pragas, guerras, violência, ganância... Como sentir vontade de pular nesse portal misterioso, que me levaria direto para algo que me faria desejar voltar para cá?

Pelo menos aqui não tinha sentimentos complicados. Aqui, a atmosfera era leve e embaçada: apenas murmúrios reverentes à épocas boas.

Muitas das almas tentaram me convencer a retornar. Algumas me contaram histórias fascinantes sobre seus tempos de glória, embora aquilo só me despertasse inveja. Por que todos se lembravam de suas antigas vidas e a minha era como uma grande lacuna sombria? 

Te vejo em outra vida.Onde histórias criam vida. Descubra agora