1. Predestinação

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Janeiro - 2009
Leblon - Rio de Janeiro

Predestinação.

Há quem acredite que nossas vidas não são guiadas pelas escolhas que tomamos com o passar dos anos mas sim por algo já pré reservado para nós. Seja por interferência divina ou apenas destino, algumas pessoas acreditam que tudo que vivemos já é decidido desde antes do nosso nascimento.

Rafaella ouvia bastante sobre aquilo em sua casa. Seus pais, cristãos fervorosos, acreditavam cegamente que o que viviam era fruto de algo escolhido por Deus desde que nasceram.

Mas a garota, por si só, não tinha tanta fé naquilo que lhe fora ensinado antes de sequer se entender como pessoa. Muito pelo contrário, com o passar dos anos, Rafaella sentia-se ainda mais presa nos moldes da religião que seguia por pressão dos pais.

Fechou os olhos com mais força quando ouviu as batidas fortes em sua porta. Através da madeira clara pode ouvir sua mãe falar:

— Rafaella, levanta logo, você vai se atrasar para o primeiro dia de aula.

A menina ouviu os passos de sua mãe pelo corredor, se afastando. Encarou o relógio sobre a mesinha ao lado da sua cama.

Cinco e quarenta e cinco da manhã.

— Inferno!

Reclamou baixinho, se sua mãe sequer suspeitasse que ela proferiu aquela palavra proibida, ela estaria de castigo para toda a eternidade.

Aliás, havia uma lista de palavras proibidas naquela casa, e por total ironia, eram exatamente as palavras que Rafaella tinha vontade de gritar todas as vezes que sua mãe batia em sua porta.

Levantou-se sem o mínimo de ânimo, a última coisa que queria era voltar para a escola. Enquanto todos os alunos estavam animados depois das férias, tudo que ela queria era fugir daquele pesadelo.

Vestiu aquele uniforme que julgava ser a coisa mais ridícula que teve o desprazer de ver. Rolou os olhos ao se encarar no espelho. Uma saia xadrez escura desenhava seu quadril enquanto uma blusa social branca lhe cobria o busto, enrugou o nariz, soltando mais uma das expressões que nunca poderia usar perto de sua mãe:

— Mas que grande merda.

Umedeceu os lábios enquanto decidia por passar uma máscara de cílios buscando ressaltar seus olhos verdes. Optou por um batom rosa clarinho nos lábios e decidiu que estava mais do que bom.

Marchou em direção à cozinha, encontrando sua mãe sentada à mesa com os olhos vidrados na TV enquanto assistia ao jornal da manhã.

— Finalmente — Genilda bufou, sem desviar o olhar. — Come qualquer coisa, o motorista já está te esperando — bebericou seu café. — Essa cidade está cada vez mais perigosa — negou com a cabeça, comentando a notícia de um assalto que ocorrera naquela madrugada.

— Bom, bem vinda ao Rio de Janeiro — Rafaella comentou, irônica.

Genilda desprendeu o olhar da televisão pela primeira vez e encarou a filha que, sem ânimo, preparava um copo de achocolatado.

Carinhosa não era, nem de longe, uma qualidade que ela carregava. Genilda não tinha tanta facilidade em ser cuidadosa com a filha e muito menos empática. Mas sabia que o momento exigia isso e, por essa razão, decidiu tentar:

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⏰ Última atualização: May 03, 2021 ⏰

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