"A paz não quer nada com você, Jack. Não existe sossego para homens como você". Essas palavras assombravam o velho Jack à anos. Ele pensava nelas enquanto terminava de enterrar seu filho ao lado do túmulo da mãe.
O cemitério nos fundos de sua fazenda era um campo bonito e que seus criados eram muito bem pagos para manter daquele jeito. Do jeito que sua amada Clarice gostava de ver quando era viva. Agora, Jonathan lhe faria companhia no lugar que Jack acreditara que seria o dele.
— Maldito espírito de aventura da juventude. — Ele resmungou, continuando com seu trabalho. — Eu te disse para ficar em casa, não disse? Avisei para ficar longe daquela arma maldita...
O sol forte o fazia suar e seus cabelos castanhos, com já alguns fios brancos, grudavam em sua testa. Ele parou um pouco para beber de seu cantil de água e molhou o rosto e barba. Rindo, Jack se lembrou do sorriso fácil e confiante de Jonathan. Aos dezesseis anos havia muito dele no garoto. Por exemplo, assim como ele costumava pensar, Jonathan se julgava imortal e capaz de qualquer coisa. Um pensamento comum da juventude, sempre lhes parecia que o mundo era uma estrada cheia de sonhos prontos para se tornarem realidade.
Jonathan não teria mais nenhum sonho.
A vida de seu único filho fora roubada por um bando de criminosos e agora cabia a Jack quebrar uma velha promessa e tomar a vingança em suas mãos.
Clarice iria odiá-lo por isso, ele mesmo se odiava pelo que estava prestes a fazer e, se fosse sincero, sentia muito medo das consequências. Mas, como um velho amigo lhe dissera anos atrás... A paz não queria nada com ele e Jack estava preparado para voltar a matar.
Quando entrou no salão todos os olhares se voltaram para sua direção. Não que fossem muitos, o bando do Tedd Selvagem já tinha matado boa parte das pessoas do povoado de Dalton. A pessoa que ele procurava estava em uma das mesas do salão com uma mulher e dois homens ao seu lado. Todos armados e com olhares de desconfiança.
O delegado Hank não devia ter muito mais do que vinte anos, era jovem demais para a responsabilidade que carregava nos ombros e estava longe de ser capaz de lidar com lunáticos como Tedd e seu bando, mas com o xerife da cidade morto ele era só o que o povo tinha.
Ninguém lhe perguntou quem era, todos o conheciam por aquelas bandas e Jack nem precisou puxar para fora do coldre a pistola de metal negro que havia lhe dado sua fama.
— Quero que me diga onde posso encontrar Tedd e seus homens. — Disse, sem rodeios.
A garota ao lado de Hank riu.
— E vai fazer o que com essa informação? Ir atrás dele sozinho?
Jack a ignorou. Seus olhos fixos nos de Hank.
— Sinto muito pelo seu filho, Jack. Ele era um bom homem. — O delegado disse e ficou de pé. Era alto e forte, com pele parda e cabelos negros curtos. Os olhos castanhos transmitiam empatia e também muito cansaço. — Quando Jonathan nos ajudou a atacar o acampamento de Tedd tínhamos doze do nosso lado e apenas eu e meus amigos conseguimos sair de lá vivos. Não temos como organizar um novo ataque, não com o que sobrou na cidade.
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A última cavalgada de Jack Corvo
Short StoryJack é um veterano das guerras que varreram o Oeste americano e ele só queria um pouco de paz na sua vida. Pena que a paz não queria nada com ele. Após ter seu único filho assassinado, o velho soldado decide retornar à ativa. Munido de uma pistola a...