Lapso de Tempo

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-Obrigada por entregar o seu currículo, Adachi Sakura. -o atendente tenta parecer simpático, mas seu olhar entrega seu cansaço.

-Hum...obrigada. -eu me curvo, agradecendo.

Saio pela porta da frente do edifício olhando para baixo, como que para ocultar minha presença. Fico extremamente desconfortável em qualquer multidão, e parece que com o passar dos anos meu convívio com seres humanos tem piorado cada vez mais.

Bufei. Vi meu celular, ainda tinha uma entrevista de emprego numa empresa em Tokyo.

Recentemente me formei em jornalismo. Eu deveria falar isso de uma maneira mais animada, certo? Mas, para ser sincera, eu nem sei se queria fazer isso mesmo. Por mim, contanto que eu tivesse dinheiro para sobreviver, estava ótimo. Mas ouvir um sermão diário da minha mãe falando do quanto sou inútil, se tornou insuportável demais.

Não tenho mais sonhos há muito tempo. Aos 26 anos, não tenho metas, objetivos. Não tenho desejos, nada. Apenas um coração vazio... e uma mente preenchida por ódio.

Quando o nome dela vem à minha mente, só posso sentir raiva. Se eu apenas pudesse esquecer aqueles olhos, aquele rosto,  aquela risada,  aquela voz... Eu faria de tudo pra esquecer Hōgetsu Shimamura.

Eu não era tão amargurada assim. Eu costumava ser uma garota feliz; tinha muitos problemas, mas eu tinha minha válvula de escape, algo que me motivava a levantar da cama todos os dias com vontade de viver. Mas ela foi embora; foi embora como se meus sentimentos não significassem nada, como se tudo que a gente passou junto não significasse absolutamente nada.

Shimamura foi meu primeiro e último amor. O mais intenso de todos; tão intenso que levou com ele a capacidade de amar novamente. Porque depois dela...Nunca mais houve ninguém. 

Nos conhecemos no ensino médio, num ano que eu achei que seria como todos os outros: solitário. Shimamura se aproximou mesmo sabendo que nossos colegas de sala não falavam comigo. Quer dizer, nunca ninguém conseguiu conversar comigo e eu nunca consegui conversar com ninguém. Mas com ela, desde o primeiro dia, senti a confiança que nunca senti com ninguém mais. Eu nunca tive amigos, raramente me comunicava com as pessoas, e durante muito tempo, minha mãe se preocupava com isso, até ela desistir completamente de mim.

Depois de conhecer Shimamura, meus dias passaram a ter sentido. Eu ia para escola apenas para vê-la, ficava no celular apenas esperando por suas mensagens, passava o dia pensando num único rosto. Até esses pensamentos começarem a ser transmitidos para meu coração... que de repente, começou a bater de maneira diferente.

E o pior de tudo, é que eu ainda lembro. Seu sorriso, que era tão suave, me causava um arrepio que eu nunca tinha sentido antes. Seu olhar era tão tranquilo, mas tão intenso ao mesmo tempo, que eu poderia ficar presa naqueles olhos por dias e noites, e as borboletas ainda não iriam embora. Eu poderia me afogar em uma beleza tão pura e vasta. "Amor" para mim sempre foi uma besteira que só existia em novelas bestas, mas quando Shimamura chegou em minha vida, ela trouxe me trouxe para uma fantasia a qual eu não queria mais sair.

Não queria.

Ela que me expulsou de lá.

Assim que terminamos o colégio, Shimamura foi embora. Sem dizer pra onde, sem dizer por quê, ela simplesmente se foi.

Eu a procurei durante muito tempo, e também demorei muito tempo para me conformar que ela tinha ido para sempre. Shimamura foi a única coisa no mundo a qual eu me apeguei a ponto de não poder viver sem. Mesmo que já tenham se passado mais  de 10 anos, o único futuro que eu já construí em minha mente, tinha Shimamura ao meu lado. Shimamura estava em todos os meus planos, todos os meus desejos, todos os meus sonhos, todas as minhas metas...E no momento que ela se foi, tudo isso se acabou.

Eu já não me surpreendo com as lágrimas que tomam conta do meu rosto. Mesmo que agora eu ache que tenha superado, a dor que eu carrego até hoje é insuportável e incessante. Não apenas porque a minha única amiga me abandonou, mas porque nós duas ainda tínhamos assuntos pendentes para resolver... ou melhor, eu tinha. Shimamura nunca se deu conta.

Agora, sempre que seu rosto vem a mente, só consigo sentir raiva.

O metrô finalmente para, e desço na estação indicada no endereço. Quando pensei no longo caminho que levaria de volta para casa, suspirei.

Em passos rápidos, comecei a seguir um mapa que nem eu entendia pelo celular; eu caminhava por um dos bairros mais ricos de Tokyo.  Por onde você olhasse, só poderia ver pessoas bem vestidas e lojas de multinacionais famosas e importantes.

A energia de lugares assim me dão náuseas.

Nem sabia o porquê de ir até lá, afinal, é uma empresa grande, jamais me contratariam. Estou falando da Lapse, a marca de moda luxuosa que mais cresceu nos últimos tempos. É de longe uma das mais reconhecidas do país.

Meus pés param de repente, coordenados com o GPS do celular. Quando me deparo com aquele edifício, fico estagnada.

A sede da Lapse mais parecia um palácio, um edifício moderno e sofisticado, apesar de não muito alto, com sua parte externa feita inteiramente por janelas de vidro do primeiro ao último andar, um letreiro bem grande da marca na lateral superior. Os raios de sol refletiam nos painéis de vidro e atraiam os olhares de quem quer que passasse. Sua fachada lembrava os cinemas clássicos de Hollywood.

Pfff, eu nunca iria ser contratada por um lugar desse.

Entrei na loja de cabeça baixa no momento que percebi que os seguranças riam de mim. Tentei não me importar, mas novamente, senti uma vontade imensa de correr dali.

-Posso ajudar? -vestida de terno, uma segurança me recebeu de uma forma não muito agradável, me regulando dos pés à cabeça.

-Ahn...Então...E-Entrevista...

-Para quê?

-A revista.

-Ah, claro. Você não tem cara de modelo, nem de longe! -riu ela, sozinha. -Sala 4-A.

Ela me deu um cartão de visitante, que usei pra passar nas catracas as quais me dariam acesso aos elevadores.

A decoração daquele lugar era surpreendente. Paredes brancas, a maioria das coisas feitas de vidro. A porta era de vidro; mas não pude ver quem estava atrás dela. Ao ver que, esperavam por ser chamados mais gente além de mim, fiquei aliviada.

Coloquei meus fones de ouvido esperando para ser humilhada por uma pessoa extremamente rica e babaca do alto cargo da empresa, principalmente, quando vi a classe das pessoas que estavam esperando junto a mim, já pude prever minha derrota. De qualquer forma, deixei de me importar, eu só queria arranjar um emprego e ficar o máximo de tempo possível longe de casa. Prendi meu cabelo da forma mais arrumada possível e olhei-me pela câmera do celular.

-Adachi Sakura!

Ugh. Como eu odiava meu primeiro nome.

A funcionária que recebeu-me, parecia ser bastante simpática, diferentemente da outra. Apesar de estar vestida formalmente, eu poderia jurar que ela era uma garotinha; e sua baixa estatura não contribuia muito. Ela se curvou sorridente e abriu a porta para mim, desejando-me boa sorte. Sorri forçadamente, para não parecer rude.

-Sente-se, por favor.

Eu levanto o meu olhar para poder visualizar quem me chamava, quando imediatamente meu coração parou.

Eu conhecia aquela voz.


                                                                                  -x-

Oi amores, tudo bem? Sou nova aqui e essa é a minha primeira fanfic, então eu espero do fundinho do meu coração que gostem. Vai ser algo como uma pequena continuação de Adachi to Shimamura, enquanto a 2°temporada não vem (╥_╥)

Always behind of youOnde histórias criam vida. Descubra agora