O passado continua presente

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Há tanto tempo que não tenho notícias tuas. Quantas foram as vezes que te expliquei, ou melhor, tentei explicar isto que sinto ou sentia?

Não sou capaz de te deixar para trás, porquê?

Sabes, há uns dias atrás, reparei que não há um único dia em que não pense em ti. Há sempre um cheiro, uma música, uma conversa, uma frase ou numa simples e pequena palavra, e até mesmo num desenho, acreditas?

Ao escrever isto, lembro-me ainda mais...

Foste uma peça que eu não pude usar para completar o meu puzzle, sabia onde ficavas, mas não pude. Perguntas-te porquê?

Talvez por não ser capaz de aguentar distâncias, talvez por achar que não iria resultar, talvez por saber que não ia conseguir, talvez...

Conheces-me, e conheces-me tão bem, talvez das pessoas que me conhece melhor até. Mas do meu passado pouco sabes e eu do teu, já pensaste nisso?

Conheceste-me na altura perfeita, na altura em que mudei e mudei para melhor. Não me perguntes o que mudou, porque não quero explicar...

Digo-te, meu bem, foste das melhores coisas que me aconteceu.

Mas agora, agora já não sei. Já não somos o que éramos, quer dizer, nós temos sempre aquela nossa “pausa”, nós sabemos o que é, eu não sei é o que pensas, o que fazes, o que sentes.

Sei lá se sentes tudo isto que eu sinto e que de alguma forma tento explicar, é difícil acredita!

Podia inventar aqui uma coisa qualquer, mas não, não sou capaz de o fazer contigo, sou-te tão verdadeira.

Tu não és um amigo normal, não és. És mais que isso, acho que sabes, se não sabes não sei o que te dou a entender com tudo o que já te disse.

Mandei-te uma carta, uma surpresa, como prometido.

Já me tinhas dito que eras adepto do tempo em que se trocavam cartas e que nelas se sentia o cheiro das pessoas.

O prometido é devido, e então aqui está a surpresa, uma carta.

Quando tenho saudade, tenho mesmo de a transmitir. Provavelmente, sabes que as tenho, ou então não.

Vou escrever, como se a recebesses hoje.

Quis dar-te mais uma recordação, mais uma coisa que mais tarde te faça recordar, tudo.

E quando digo tudo, é mesmo tudo, desde o início, apesar das recordações mais lúcidas que tenho serem aquelas mais íntimas. És, certamente, a pessoa que mais valor (não sei se valor é o mais adequado) dá à minha escrita, não sei se me faço entender...

Contudo, é um gosto enorme escrever para ti, a sério.

Ainda há uns dias atrás, ouvi dizer "A saudade é um vazio que nós só podemos preencher com lembranças" e por isso, também, quis lembrar, o "nosso tudo".

Foi em armação que nos conhecemos, durante o verão, já há uns bons anos.

Numa das minhas saídas à noite, como habitualmente, fui para os carrinhos de choque (que hoje são mais caros, porcaria), foi lá que vos vi, que te vi. Mas confesso-te, foi no Tomás que reparei nessa noite, chamou-me à atenção.

Depois dos carrinhos de choque, fomos para os matraquilhos. Vocês de um lado e nós do outro, um de vocês, provavelmente o Tomás, desafiou-nos, Portistas contra os Lisboetas.

Se vocês perdessem, nós tínhamos de ir à água, caso contrário, seriam vocês a ir.

Ganharam, mas apesar disso, fomos todos à água.

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⏰ Last updated: Jan 04, 2013 ⏰

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O passado continua presenteWhere stories live. Discover now