a escada de incêndio - one shot valdare

a escada de incêndio

a escada de incêndio - one shot valdare

Leo estava acostumado a não dormir, desde que sua mãe havia morrido eram raras as noites que ele dormia bem, geralmente só quando estava bêbado ou realmente exausto, o que não era o caso daquela noite. Já passavam de três da manhã quando ele percebeu que não conseguiria mesmo dormir, e desistiu completamente, se levantou de sua cama e foi pra escada de incêndio do seu prédio. Ele morava no nono andar, e gostava de ficar lá, apenas observando a movimentação da grande Nova York embaixo de si. Era um garoto observador e se perdia totalmente encarando as ruas e vendo as loucuras que aconteciam naquela cidade de madrugada, principalmente em um sábado, mas algo nele estava diferente naquela noite. Leo estava exausto. Não no sentido que ele tinha feito várias coisas durante o dia e agora só queria dormir, mas sim exausto da vida. Estava exausto de ter insônias e de não conseguir parar de pensar em sua mãe, a mulher tão doce que havia o criado e lhe ensinado tudo que ele sabia. Não conseguia acreditar em como o mundo era injusto por ter tirado a pessoa que ele mais amava na vida em um incêndio, e agora sua vida perdera completamente o sentido.

Às vezes ele se esquecia do que tinha acontecido, quando estava muito focado em um projeto e pegava seu celular pra mandar mensagem pra sua mãe pra contar todos os detalhes como o de costume, mas as mensagens não chegavam ao remetente. Nessas horas ele chorava, mais do que qualquer outra hora, porque por um momento, mesmo que breve, ele teve a esperança que ela estaria do outro lado do celular, e que o ajudaria em todos os seus problemas, como ele já era acostumado, e lembrar que isso nunca mais aconteceria doía demais. Dessa vez a noite estava diferente. Leo estava diferente. Lá embaixo estava estranhamente atraente, e a cabeça de Leo, como sempre, não parava por um segundo. Pensamentos absurdos passavam por ela, todas as suas inseguranças e os seus medos, e era completamente irônico que ele gostasse tanto de ficar na escada de incêndio já que perdera a sua mãe em um, onde a escada de incêndio emperrada não foi capaz de cumprir o seu trabalho. Leo levantou da janela, e a cada passo em direção à beira da escada mais pensamentos negativos bombardeavam a sua mente.

Seus amigos não iam sentir sua falta, ele se achava um peso pra eles, um garoto depressivo que mesmo após um ano ainda chorava pela morte da mãe, pelo menos era isso que ele pensava, mesmo que não fosse verdade e que Piper e Jason o mandassem mensagens todos os dias, perguntando como ele estava e o chamando para fazer alguma coisa. Ele não tinha mais nenhuma família, não uma que se importasse com ele. Não tinha um namorado ou namorada que fizesse tudo valer a pena ou um emprego dos sonhos, nem sequer um animal de estimação que fosse sentir a sua falta. Era só um garoto de poucos amigos e bom em matemática que trabalhava como caixa de um mercado enquanto não tinha dinheiro para fazer uma faculdade. Quando percebeu, já estava na beira da escada, uma barra de proteção enferrujada era a única coisa que o impedia de acabar com tudo.

— Todo bien, Leo. Va a quedar todo bien, la encontraras de nuevo — Ele murmurava para si mesmo em espanhol, enquanto respirava fundo e sentia algumas lágrimas descendo pelo seu rosto, mas quando se sentiu pronto, uma movimentação na janela vizinha o fez perder seu foco.

— Oi? — uma voz feminina o assustou, e ele deu um pulo pra trás.

— Caralho, que susto — Leo disse com a mão no peito, agora encostado em sua janela novamente.

— Desculpa... Tá tudo bem? — então Leo percebeu, pela primeira vez, uma garota ruiva, sentada na janela vizinha na frente de um cavalete.

— Você tá aí há quanto tempo?

— Desde antes de você chegar, achei que você tinha me visto.

— Não vi.

— Você não respondeu a minha pergunta. Tá tudo bem com você?