O som do farfalhar das folhas era escutado pelo deserto e gasto templo no centro da montanha, as lanternas rasgadas que se encontravam penduradas nos portões oscilavam, ecoando tinidos baixos, bem como as cortinas e faixas que se mantinham dentro do local balançavam fortemente nas janelas abertas, provocadas pelo vento que cercava a madrugada de dezessete de junho. No meio do intenso tumulto da natureza, um pequeno sino lascado repousava em uma das mesas do templo, solene e solitário, emanando um sentimento de melancolia e abandono. A única luz que o iluminava era a do luar, de uma forma que aparentava ser pena. Suas paredes se encontravam em um estado de desintegração pela negligência do tempo, mas o lugar continha uma estranha energia que o rodeava desde a sua construção, como se as histórias vividas ali não se apagassem. A única pessoa viva e acordada que caminhava pelo bosque sussurrava cantigas antigas que deveriam ter sido esquecidas há muitas décadas, assim como suplicava para que todos chegassem ao reino inferior de forma acautelada. A sua bengala que constantemente batia no chão finalmente parou, esperando por sua dona, que expressava um rosto pesaroso para o feroz céu noturno.
— Que os dez juízes do submundo sejam misericordiosos.
(...)
Jeon Jungkook sentiu os seus pulmões se encherem desesperadamente com o oxigênio, expulsado o gás carbônico logo em seguida. Com uma lancinante dor no pescoço, ele abriu os olhos, enxergando o céu nublado que se apresentava o início da noite, estendendo-se pela visão do homem, machucando um pouco os seus glóbulos oculares por alguns instantes. Murmúrios incoerentes faziam a sua cabeça latejar.
"Quem sou eu? Quem sou eu? O que está fazendo aqui?"
Se apoiando em algo próximo, ele se levantou lentamente, como um idoso com ossos frágeis que era obrigado a reprimir grandes movimentos. Ele não estava em seu estado mais consciente, visto que o cérebro dele ainda se esforçava para sair dos gritos e vozes que o agarravam persistentemente, o sentimento desconcertante se fazia presente no seu coração. Observando atentamente o local em que estava, Jeon Jungkook descobriu que o beco mal iluminado e sujo continha alguns lixeiras, uma delas na qual ele se apoiava no atual momento para não cair. As suas memórias eram confusas, pintadas por palavras sem nexo e rostos indistinguíveis, deixando uma angústia se esgueirar pelos seus ossos. Seja como for, o Jeon não poderia se entregar ao aperto e aflição, ele tinha que sair dali e encontrar informações básicas, como a cidade, país e ano que se deparava. As únicas informações que tinha certeza era que ele tinha morrido e repentinamente acordado, vivo e sem muitas lembranças para se acudir, do mesmo modo que os clamores dos espíritos soavam familiares. Quando sua voz soou, como o seu corpo não estava completamente acostumado, ela estava rouca e quebradiça, fazendo o xingamento que dizia sair estranho de sua boca. Jungkook visualizou o seu reflexo na pequena poça de água, que mostrava que ainda mantinha a mesma aparência de suas memórias antigas. A sua blusa social estava suja, um pouco molhada no ombro e cheirava mal, assim como as suas calças que denunciavam rasgos nos seus calcanhares e joelhos, o seu cabelo estava desgrenhado e tudo o que tinha era cinco mil e seiscentos e trinta wons em seu bolso.
Tropeçando para fora do beco fétido, ele esbarrou com as pessoas que caminhavam vertiginosamente pela rua movimentada, algumas falavam em seus celulares enquanto outras discutiam sobre o quanto estavam cansadas do seu trabalho, já que possivelmente acabaram o seu turno. Saindo do seu transe, o Jeon observou os painéis digitais mostrando rostos de figuras públicas, propagandas e, finalmente, a data e hora atual. Ele já sabia que ao menos se encontrava no seu país de nascença, assim como nove anos se passaram desde a sua morte. Jungkook percebia os olhares inquisitivos que vagavam pela seu aspecto, porém o homem não poderia fazer muito sobre essa questão, pois procurava se alimentar e reunir tudo o que sabia até aquele momento. Ele já achava que era uma ótima vitória o corpo dele não parecer o de um cadáver em estado de decomposição, ignorando o fato de que todos os seus músculos gritavam de dor pela rigidez e que sua coordenação fosse uma sombra do que realmente era antes. De qualquer forma, o Jeon não se considerava alguém muito exigente, mas a sua impaciência sempre fora muito limitada, especialmente quando o seu caso é sensível e intrigante. Com uma expressão mal humorada, ele se dirige a uma loja de conveniência, onde uma jovem de cabelo vermelho encarava tediosamente suas unhas, não transferindo de imediato a sua atenção ao novo cliente. Concentrado em achar um alimento rápido, ele comprou um macarrão instantâneo, o aqueceu no micro-ondas do estabelecimento e pegou uma garrafa d'água para beber, melhorando a sua garganta irritada e amenizando a dor no seu estômago. Quando foi pagar pelos alimentos, a garota finalmente o olhou, demonstrando um rosto impassível, como se não se afetasse ou importasse se ele estava parecendo alguém que foi acidentalmente atropelado. Pensando rapidamente, o Seo concluiu que se uma pessoa entrasse e gritasse que um membro seu estava sendo queimado, ela inexpressivamente iria ajudar com uma calma fora do normal. Um sentimento de familiaridade passou por sua mente, porém quando voltou a olhar para garota, ela não estava mais lá. Antes que conseguisse chamá-la, ele sentiu uma energia densa passar por perto de sua nuca, arrepiando seus pelos. As luzes do local tornaram-se, repentinamente, instáveis e se apagaram por poucos segundos, voltando ao normal no mesmo minuto em que um jovem apareceu atrás do caixa.
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Mugunghwa
FanfictionApós um evento importante acontecer em sua vida há exatamente nove anos, Jeon Jungkook desperta. No entanto, o primeiro problema que se deparou ao recuperar a consciência foi de perceber que não despertou de um sono longo ou até de um estado vegetat...