Todas as crianças passavam por ela com o olhar torto, cochichando umas com as outras, se perguntando com o que a garota dos cabelos brancos estava brincando. Aurora não entendia, porque Beatrice não enxergava suas bonecas, porque ela não conseguia as tocar?
Porém tudo foi por água abaixo quando Aurora resolveu subir no enorme tobogã do jardim da escola.
Gritos de assombro, todos olhavam espantados para a criança por volta de seus 7 anos flutuando 3 metros de altura, depois escorregando no ar e parando no chão.Lucy Westwood, mãe da mais nova aberração de Quebec, foi chamada na diretoria, essa e todas as próximas semanas, até que sua filha foi expulsa da escola por "assustar as outras crianças". E assim Aurora cresceu, estudando em casa, sem amigos e sonhos. Fadada a morrer sozinha naquela cidade empoeirada.
☆
Abro os olhos e me sento na cama, estava ofegante e suando frio, mais um daqueles sonhos terríveis que tenho tido desde quando minha mãe me contou que eu iria voltar para o colégio municipal de Quebec.
Tremo apenas em lembrar e afasto as cobertas me levantando em um salto. Levo um susto ao ver que minha mãe já estava na porta com minhas roupas em mãos.
-Bom dia. - ela beija minha testa enquanto eu pegava a muda de roupas - Você está preparada, certo?
Eu assinto com um sorriso, bela mentira, nunca me senti tão despreparada em toda minha vida.
Mamãe sai do quarto e eu fecho a porta me trocando, primeiro a blusa de mangas compridas e gola alta preta, depois a calça jeans clara rasgada e por fim a jaqueta jeans clara.
Vou para o banheiro onde termino de me arrumar e então caminho até a sala, meus pais já estavam sentados em volta da mesa conversando baixinho sobre algo. Assim que notam minha presença eles ajeitam a postura na cadeira.
-Cuidado.
É tudo que meu pai diz.
Eu apenas pego minha mochila com a minha mãe e saio pela porta em silêncio. Assim que meus pés tocam a calçada o sol me banha e eu respiro fundo. Puxo a Blue, minha bicicleta que estava presa no portãozinho e subo nela pedalando devagar, algo dentro de mim me puxava para trás, implorava para que eu desse meia volta e voltasse para as cobertas. Porém meu corpo desobediente continuava a pedalar e pedalar.
Viro a esquina e avisto ao longe o pináculo. O grande ponto cruz que me lembra de quem eu sou, ou quem eu penso ser.
☆
-Mamãe, olha!
Aurora aponta para o céu azul com um sorriso de orelha a orelha. Um arranha-céu que ultrapassava as nuvens brilhava nos olhos da criança.
-Olhar o que, querida?
Lucy encarava as nuvens sem entender o que a filha apontava com tanta alegria.
-O Pináculo!
A mãe da garota se abaixa ao lado da filha e olha nos olhos da garota com pesar.
-Aurora. Existem coisas no universo que apenas você será capaz de ver. Existem coisas que só se mostrarão para você. Aquilo... - Ela olha para o além e depois volta a visualizar os olhos pretos da filha. - Aquilo é uma dessas coisas. Por isso, você precisa parar de mostrar tudo que vê, precisa parar de se impressionar com as coisas que aparecem para você. Seu mundo tem que ser seu e apenas seu. Para sua sobrevivência.
A menina de 10 anos já era inteligente o suficiente para entender o peso que carregava as palavras de sua mãe. Ela apenas assente com lágrimas dos olhos e admira o pináculo com um brilho no olhar pela última vez. Agora Aurora compreendia.
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invisibilia
RomanceTodas as crianças passavam por ela com o olhar torto, cochichando umas com as outras, se perguntando com o que a garota dos cabelos brancos estava brincando. Aurora não entendia, porque Beatrice não enxergava suas bonecas, porque ela não conseguia a...