Nunca fui alguém que fantasia com a vida amorosa... pra falar a verdade eu cresci com a crença de que um dia encontraria uma mulher pela qual me apaixonaria, nos casaríamos, teríamos filhos, e envelheceríamos juntos, mesmo sabendo que em algum canto...
Eu sonhei com um homem, duas vezes. Não recordo exatamente como foi o primeiro sonho, e só lembro que tive esse primeiro sonho, pois quando acordei do segundo fui atingido pela certeza de que já havia sonhado com aquele homem.
Foi estranho, porque eu posso jurar que nunca o encontrei pessoalmente, mas de alguma... não há palavras melhores para definir isso, de alguma forma, ele aqueceu meu coração, e mesmo que tudo não passasse de um sonho bobo, eu soube que ele era o amor da minha vida, mesmo nunca tendo cogitado me relacionar com outro homem antes.
O mais engraçado nessa história toda é que eu me lembro de pouquíssimos detalhes, e tudo continua extremamente nublado em meu inconsciente. Estávamos em uma estação de trem, nos despedindo, com uma promessa de até breve pairando no ar. Éramos melhores amigos, e ambos sabíamos, mesmo sem nunca ter falado isso em voz alta, que essa amizade tornava aquele amor extremamente forte e real, como se fizesse parte de nossos corpos e de nossos seres, o que nos unia de uma forma indescritível.
Recordo que sua pele era extremamente clara e macia, seus olhos eram azuis e ele era um pouco mais baixo do que eu, o que me permitiu sentir o perfume do shampoo em seus cabelos incrivelmente negros no momento em que nos abraçamos naquela última vez, e eu pude me sentir completo, em casa, e foi como se o tempo não passasse, e nenhum de nós queria que ele passasse.
O som do apito do trem chegou até nós, e aos poucos ele foi se afastando de mim, e eu absorvi inconscientemente os últimos detalhes dele: a sua barba sem fazer de umas duas semanas, tão negra quanto seu cabelo, e o fato dele ser forte, mas não musculoso, e o seu sorriso, que iluminava o ambiente, em contraste com seu olhar perdido e triste pela despedida.
