Sorte ou azar?

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Sabe aquela pessoa azarada? Não acho que alguém consegue imaginar uma pessoa tão sem sorte na vida, não me refiro a ter sorte no jogo ou amor, isso eu realmente já desisti, me refiro a sorte na vida mesmo. Por exemplo, sabe aquela pessoa que é a última a ser escolhida para uma equipe? Ou aquela que senta na mesa de um restaurante e todos os garçons passam ao seu lado e nenhum para e anota seu pedido? Você tem que se levantar e ir atrás dele, quando você consegue fazer o pedido. Ah! Pensa que ele vem logo? Se enganou, sua refeição demora tanto, ao ponto que você mais uma vez vai até o garçom e descobre que ele anotou errado seu pedido, ou você desiste e vai embora ou continua sua saga de tentar conseguir ser atendido, nem vou falar sobre a temporada que é pedir a conta para você pagar e finalmente ir sair dali.

Não para por aí, na sua família você sempre é esquecido, não é por querer, contudo, frequentemente acontece algo que tira você do foco, mesmo que você tenha passado para a melhor Universidade de arquitetura, mas sua irmã mais nova decidiu que vai morar sozinha e seus pais surtam por ver sua filha mais nova tornando-se adulta. Você se esforça, trabalha, é pontual, proativo, perfeccionista, só que na hora de escolherem o melhor funcionário do setor, adivinha? Aquele vacilão, sim, esse mesmo! O que sempre pede para você cobrir o horário dele, aquela pessoa que passa o dia voando e se escondendo do trabalho, aquele o qual sempre acontece alguma coisa e ele nunca consegue chegar no horário, isso! Esse mesmo, ele será o funcionário do mês, e você, bem, é só alguém no setor que quando precisam eles lembram que você existe.

Também tem aquele dia quando você está super atrasado, sai de casa sem tomar café da manhã, então decidi comprar alguma coisa na padaria, mas ao chegar lá, a fila está enorme, você mesmo assim espera, e na sua vez, o pão novo acabou, você tem que esperar vinte minutinhos, por isso opta por algo simples, compra uns biscoitos, seu café e segue para o trabalho. Faltam somente quinze minutos para registrar seu ponto, você desacelera um pouco, contudo, um idoso pede para você o ajudar a atravessar a rua, lógico, você segura a mão dele e o acompanha, pois, você é sempre solícito às pessoas, ajuda, escuta toda história de vida do senhorzinho pacientemente torcendo para dar tempo de chegar ao trabalho no horário certo. Finalmente você registra seu ponto e descobre que hoje seu setor estaria fechado para pintura da sala e esqueceram de o avisar, e você percebe que nem precisaria ter corrido tanto, se alguém ao menos lembrasse que você também é um funcionário da empresa. São essas coisas repetidas dia após dia, ano após ano e você pensa: — Qual a chance de você ter sorte na sua vida? Nem que seja por um dia, sabe, um dia que nada de errado aconteça.

Então, você lembra — Hoje terá casamento do meu irmão do meio, vou me alegrar por ele e esquecer pelo menos um dia que sou um cara que quando nasceu sugou todo o azar que sua mãe tinha no ventre para distribuir para seus irmãos, e você tenta esquecer esses 25 anos de puro azar. — Você é o padrinho, tem que estar impecável no altar, por isso faz de tudo para não se sujar, evita até ficar próximo às pessoas, contudo, quando chega a hora! Adivinhem? Isso mesmo, alguém passava apressado esbarra em você derramando uma bebida com líquido vermelho no seu terno cor creme, então você suspira, não adianta reclamar, só abaixar a cabeça, observar o tamanho do estrago e sair a procura de um banheiro.

Foi isso que eu fiz, tirei o terno e inutilmente tentei limpar a mancha, aconteceu o quê? Exatamente, espalhou pelo tecido, gemi baixinho e frustrado enquanto esfregava o tecido, até que escuto uma voz melodiosa, aveludada e um tanto divertida.

— Você só vai espalhar a mancha assim, pretty boy.

Olhei para o homem, ele se aproximou com uma taça de martíni, colocou em cima da pia e escorou-se ficando de costa para a pia e parado ao meu lado.

— Você não deixou eu me desculpar e então o segui — me explicou, eu balancei a cabeça, era estranho ter atenção de alguém em mim.

— Suponho que não seja o noivo? — perguntou e eu neguei com a cabeça — Claro, você parecia alguém muito calmo para quem teve o terno estragado por um desastrado — sorriu tão natural, e eu travei, se eu sabia falar, esqueci imediatamente.

Sorte Grande (Malec) Onde histórias criam vida. Descubra agora