Algo incomun

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Paro o carro em uma freada brusca, a ligação desconhecida de minutos atrás dizendo que Camila estava agindo de maneira estranha me deixou em estado de pânico. A voz apavorada de uma mulher ao telefone dizendo que minha Camila estava ao lado de fora da casa como uma alma penada era a única coisa que me mantia acesa naquele momento, infelizmente, foi exatamente esta cena que encontrei ao olhar pelo vidro embaçado do meu carro.

Antes de descer, o que durou poucos segundos, pude notar a presença de uma mulher em pé na janela da casa ao lado, ela segurava um telefone e tinha uma cara assustada, e ainda por cima apontava para o corpo de Camila, logo imaginei ter sido dela a ligação anônima, mas, como ela encontrou meu número? Não importava, pois naquele momento eu só pensava no que diabos Camila fazia de pé, descalça, feito uma estátua no gramado da frente de sua casa. Com o frio que fazia, realmente era uma atitude estranha da parte dela.

Logo após catar uma lanterna dentro do porta luvas, corri até o ponto onde Camila se encontrava, não direi que estava tão escuro, mas tive certa dificuldade em alcançar o corpo da morena. Enquanto me aproximava, notei seus pés descalços e sujos, notei também que haviam buracos cavados no gramado, provavelmente feitos por seus pés, ou mãos. Mas as coisas que mais me assustaram foram os movimentos descompassados que Camila emitia, tremia sua cabeça e a chacoalhava de um lado para o outro, contorcia todos os seus dedos das mãos, dava de ombros e coçava a nuca como se um inseto estivesse prestes a entrar em seu cérebro.

Tudo isso me mantia ainda mais alheia sobre o que eu estava presenciando e o que ela estava fazendo, confesso que tive vontade de parar e correr de volta para meu carro no momento em que comecei a caminhar bem lentamente, por conta do medo que tomava meu corpo.

Aquela figura que eu estava procurando a minha frente não era e nunca seria Camila, a mesma não virara o rosto se quer uma vez para acompanhar meu corpo se aproximando do seu, apenas transmitia sua sequencia de movimentos desconexos, ignorando totalmente a minha presença e sua própria situação, nesse exato momento eu estava agradecendo mentalmente por ter uma lanterna em mãos, do contrário, não teria coragem para enfrentar o que vi a minha frente.

Uma situação deplorável. Um corpo. Que tenho absoluta certeza que não era Camila naquele corpo franzido de frieza e palidez.

Uma figura desleixada de uma jovem em seu pior estado de vivencia, as mão ensanguentadas, os braços gélidos onde em algumas partes se via apenas a coloração avermelhada da carne humana. Pavor. Era tudo que me descrevia nesse instante, tanto pavor que mal consegui posicionar minhas mão em Camila para leva-la casa a dentro.

- Camila -

Chamei-a em um quase sussurro, mas que ela pode ouvir, virando-se para mim. Foi então que vi o que estava descrito em seus olhos.

"me ajude"

não saiu uma palavra de sua boca, e nem precisava, o castanho morto de seus olhos transmitia que aquele corpo estava morrendo.

- Camila venha para dentro, você precisa se limpar - ela continuava me olhando da mesma forma anterior, nada dizia, apenas ainda continuava com seus movimentos desconexos, ponderava entre balançar a cabeça e contorcer os braços, foi então que a segurei com mais força e puxei sua cabeça pra perto da minha.

- Camila me diga o que aconteceu com você, eu preciso que me diga, preciso que fale comigo - falei em principio de um choro com a voz embargada, ela pareceu compreender meu desespero e me surpreendeu.

- Me ajuda. Lauren. - meu nome foi pronunciado após uma pausa em sua fala, como se precisasse ser dito agora mais do que nunca.

Suas mãos correram pelos meus braços, suas mãos tão macias e que agora se mostravam tão frias e sujas, em meio a esta súbita caricia, Camila despertou de seu"transe" e seu corpo parou com os movimentos rapidamente, levantando a cabeça lentamente, Camila olhou no fundo dos meus olhos com um singelo sorriso em seus lábios e permitiu a seu corpo de ir ao chão.

Flashes de uma psicoseOnde histórias criam vida. Descubra agora