Ainda atormentada - capítulo final

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Pense em algo, indomável. E ela dizia: "minha cabeça".

Por quê se sente tanta dor depois de matar alguém? Por quê se sente tanta dor depois de matar alguém que amava? Por quê se sente tanta dor depois de matar alguém que amava, sabendo que ela morrera sendo quem não era? E que sua tarefa de desvendar um grande enigma não foi cumprida com êxito? Essa dor era a que me assolava no momento que eu ainda estava mirando para algo qualquer, fixa em um ponto qualquer, mesmo depois de um grande barulho ter sido provocado pela queda do corpo baleado.

Você deve estar achando que eu atiraria e sairia dessa de um jeito natural, eu me mostrei forte, sim, se não o fizesse, iria morrer, pois não teria coragem de tomar a atitude que tomei. Mas não. Lembro-me de uma vez ter derrubado a vidraça nova de minha mãe, era tão bonita e intocável, e eu a quebrei, vendo seus restos se tornarem centenas de pequenos pedaços no chão, parecia um nada, uma coisa qualquer, frágil e inútil. Era dessa maneira que eu me descrevia.

Um nada.

Frágil e inútil.

Sentia como se eu tivesse quebrado em centenas de pequenos pedaços, e dois pedaços grandes tivessem se formado na queda e se separado de mim. Camila e allyson. Meus dois grandes pedaços. Cada um dos dois pedaços se afastou gradativamente. Ally foi o primeiro, o choque mais forte, a soltou de mim com voracidade, deixando um outro grande pedaço ainda por se soltar. Camila. Rolei mais algumas vezes até que me livrasse desse pedaço. Um jarro de vidro não tem necessidade de se desfazer de seus pedaços, mesmo que na queda. Mas eu já não tinha mais nada naquela noite, estava destruída, aquele era um pedaço defeituoso de mim, e eu tinha que me livrar dele antes que me remontassem com uma peça em falso pra que eu caísse novamente e quebrasse novamente, e talvez não conseguisse mais me reconstruir.

Talvez se tivessem me dado uma ponto de auxílio naquele hospital, eu teria aguentado com Camila, teria tentado resolver de outra forma, levado a até o médico e esperado por respostas. Eu esperei. E vejamos no que deu.

Era claro que eu estava me sentindo despedaçada por ter tido que matar Camila, mas de outra forma, ela nos mataria, se seu estado já estava assim em poucos dias, em algum tempo então estaria incontrolável, pelo menos era o que eu achava, ela não mostrou estar saindo de seu estado anormal nenhuma vez.

De alguma forma eu consigo sair do meu transe, e acordo novamente ainda com a arma na mão. Minha primeira ação involuntária foi soltar, joguei as duas mãos em direções contrárias e deixei o objeto cair perto de meus pés, indo para longe com o impulso da batida, indo consequentemente parar perto do corpo de Camila que estava caído em uma forma meio diagonal.

Se eu estava com medo?

Tudo que venho sentido há alguns dias é medo.

Mesmo que eu já tenha finalizado isso tudo, ainda não era suficiente pra minha cabeça, eu ainda tinha receios de que Camila ou aquela coisa que estava dentro dela iria se levantar e continuar sua vida em morte, eu queria que ela estivesse morta.

Mesmo com dor pela sua perda, eu queria que ela estivesse morta, pois assim isso acabaria.

Fixei meus passos para me aproximar dela e tirar minhas conclusões, com dificuldade pra me locomover por conta da fraqueza de meu corpo, nem mesmo sei a quanto tempo eu não comia e que horas eram, mas não devia ser cedo, de qualquer forma, minha situação não estava nem um pouco agradável; minhas roupas estavam sujas e eu tinha um mal odor de sangue que se espalhava em algumas partes do meu corpo, principalmente nos braços e peito. Camila então, parecia um daqueles zumbis das séries, rosto e corpo sujos, roupas mais ainda, fora que seus movimentos também não eram normais, fazendo-a ter parecido ainda mais com um zumbi, agora um zumbi morto com um tiro na cabeça.

Flashes de uma psicoseOnde histórias criam vida. Descubra agora