Capítulo 2

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A semana havia passado rápido, rápido até de mais para o gosto do brasileiro, ao mesmo tempo que detestava o seu trabalho ele era o seu refúgio... Mas, refúgio do que? Do que ele estava fugindo? Do que exatamente ele estava se escondendo? Ah, ele sabia muito bem, como ele sabia. Olhou a sua volta para ver tudo de costume com também o silêncio, o silêncio angustiante que feria a sua alma de pouco em pouco, a transformando em borrões confusos que pareciam gritar por algo, algo que já fora perdido...

Sua casa deveria ser o seu refúgio, deveria ser para aonde ele voltaria, mas não era, era apenas um retrato amargo de toda uma decepção, a imagem de seu próprio fracasso, um ambiente amargo e pesado, carregado de memórias, tanto boas quanto ruins, mas que no fim, as boas já não serviam de nada, o doce ficou amargo e doloroso, por isso detestava ficar em casa, enquanto uns imploravam para que o fim de semana chegasse logo, o bicolor implorava para nunca mais retornar.

Engatilhou a respiração, já não conseguia olhar para a TV, ele sequer está vendo, não se passava de um patético som de fundo para um patético e deprimente brasileiro, o som da mesma parecia mudo, mesmo não estando, o silêncio agoniante o sufocava, deveria ter se acostumado, mas era difícil, faltava algo, algo importante, e isso machucava. Sua respiração começou a se afobar, a ansiedade crescente, o medo, o pânico, algo estava errado, havia uma peça fora do quebra cabeça, como ele iria completar? Como!? Todo tempo jogado no lixo, desperdiçado para nada!

O mesmo estava encolhido no sofá, seu estado não era uns dos melhores; tremendo, coração acelerado, respiração rápida, nossa, quão decepcionante deveria ser essa visão, frágil, falho, quebrado, era isso que ele era, quebrava tão facilmente que se quer valia a pena, nunca iria melhorar, ele sempre seria isso, patético e inútil.

Em um lapso de consciência o garoto com vitiligo levantou de maneira abrupta do sofá, desligando a televisão de maneira afobada e correndo atrás de um casaco e simplesmente saiu de casa, lembrando ao menos de a trancar e foi embora, lá estava ele, novamente fugindo de sua própria casa, o local que de seu maior refúgio, tornou-se o pior local para a sua sanidade falha.

Antes de começar a andar sem rumo não deixou de olhar o céu, ele gostava de olhar o mesmo nesses momentos, ver a sua beleza, mesmo no céu mais cinza, era algo que o trazia paz de espírito, que o dava uma leve alegria sem motivo mas que era aconchegante para o seu coração tão grande mas extremamente frágil. Agora simplesmente não fazia sentido, olhar para o céu já não lhe dava mais aquela mesma sensação, só trazia o vazio, vazio de algo que um dia ele foi, e que talvez nunca mais voltasse a ser, já não fazia sentido, mas mesmo assim repetia o mesmos gestos sempre, tentando ao máximo capturar aquele fantasma do que um dia foi, só que hoje era a última vez, sua última tentativa, a ansiedade era grande... para no fim, ser o resultado de sempre, o vazio.

Seus passos no início eram rápidos e apressados, quanto mais longe de casa melhor, não olhava a rua que passava, poderia se perder, mas não ligava, ele sempre arranjava um jeito de voltar. Já um pouco mais distante desacelerou, seus passos calmos naquela madrugada fria, não deveria ter saído de casa, sinceramente, quem liga, que ele fosse morto na rua, mais um vítima de latrocínio, sinceramente só o pouparia de ter que passar mais um milisegundo nessa patética existência, se distanciando mais e mais, para longe em busca de encontrar alguma resposta, se é que existia...

Um homem de uma estatura irregular, tão alto que até um poste poderia ter inveja dele, saiu de uma boate qualquer, sua expressão não era uma das melhores, parecía que cometería um assassinato, resmungava coisas como "eu sabia que não deveria vir", ou "eu ainda mato esses desgraçados". Foi para trás do estabelecimento com uma mão no bolso, a outra segurava uma bebida, procurava os seus cigarros despreocupadamente, deu uma exclamação de satisfação quando finalmente achou o que tanto procurava em seus bolsos, colocou a bebida no chão para o acender com um esqueiro, puxando a fumaça lentamente e depois soltando, finalmente relaxando diminuindo aos poucos sua postura tensionada.

Olhou ao redor, deveria voltar pra dentro, aquele bairro não era seguro, a má iluminação dos postes que deixavam inúmeros pontos cegos faria qualquer um arrepiar de medo já que bem, o histórico daquele lugar não ajudava nem um pouco a quem quer que seja o desafortunado a passear alí de madrugada se sentir no mínimo um pouco seguro, o russo não se importava com isso, ele sabia se defender muito bem, sem contar que ele era mais assustador que um ladrãozinho qualquer. Soltou o ar pelo nariz no que supostamente era para ser uma risada com o pensamento, se lembrando de fato que muita gente tinha medo de si ou como seus amigos idiota gostavam de falar "com esse seu olhar é mais fácil o bandido te entregar tudo e pedir desculpas", talvez não estivessem tão errados assim, deu de ombros pegando sua bebida no chão e dando um gole profundo, não entendia o por que ainda saia de casa, ele quase nunca se divertia, a única coisa que desfrutava dessas festas eram as bebidas, mas seus amigos tinham uma maneira de o persuadir impressionante.

Estava tudo tranquilo, até que sua visão se ficou em algo que vinha naquela rua, alguém, estava de capuz, talvez um bandido? Se fosse, o eslavo já estava pronto para o fazer se arrepender dos seus pecados, mas pela sua postura e tudo ele deveria ser apenas alguém vagando por aí, principalmente por ele está de fone de ouvido. Não deveria se meter, não era problema seu, má algo o dizia pra falar algo, uma sensação estranha junto de uma agonia, algo em seu amargo gritava e implorava, não sabia o porque, mas antes que ele pudesse perceber o alertou do óbvio.

- Você sabia que esse lugar não é lá muito seguro pra andar a noite? - questionou ao outro, enquanto se xingava internamente, talvez não tivesse ouvido, esperava internamente que sim, mas pela reação que o desconhecido teve, ele realmente o ouviu. Pode ver ele ponderar, como se pensasse se deveria ou não responder, mas apenas suspirou e respondeu.

- Sim. - disse simplista, foi um reação que desnorteou o eslavo o enchendo de perguntas e a principal era de que esse estanho era um maluco suicida.

- Então por que está andando por aí tão despreocupadamente? - mais um xingamento interno, nunca teve tanta vontade de cortar a sua língua quanto agora.

- Olha, agradeço a sua preocupação mas isso não é da sua conta "homem completamente estranho que eu nunca vi na minha vida". - uma resposta bem ácida com uma pitada de sarcasmo, fazendo o maior segurar a enorme vontade de revirar os olhos, dando entonação na observação óbvia

- Bem se isso é um problema, me chamo Rússia, e você? - tentou o máximo ser educado mas algo já lhe dizia que seu temperamento seria posto no limite.

- Ótimo, um nome, como se isso mudasse algo ou nos aproximasse, você me diz seu nome e eu o meu, e viramos melhores amigos, interessante sua visão de mundo - não poupou o sarcasmo em sua fala enquanto bufava e revirava os olhos, ele queria ir embora logo de uma vez, mas sinceramente fazia tanto tempo que ele não conversava com alguém de verdade sem ser coisas idiotas sobre trabalho que resolveu suportar aquilo, querendo ou não somos seres sociáveis né?

- Olha eu tô realmente me esforçando pra ser gentil aqui, e ainda não tive a minha resposta. - apenas se deixou levar

- Em que parte está escrito que eu estou te devendo algo? Acho que essa bebida já está te afetando.

- Sou apenas alguém curioso - deu de ombros, não deixava de ser uma verdade

- uma pena, o que diz respeito a minha vida não te interessa pelo oque sei. - desistiu daquele diálogo sem sentido em sua visão e resolveu ir embora, mas algo em si tinha achado aquele tal "Rússia", alguém interessante, sua indiferença o dava inveja, a real arte de ligar o foda-se era algo para poucos, por mais que estivesse um pouco distante relevou isso e se virou - Brasil! - disse um pouco alto, vendo o olhar do soviético mudar de levemente irritado para de pura confusão - meu nome é Brasil. - disse antes de de virar e seguir o deu caminho sem rumo, para de volta aquele lugar que um dia chamou de lar.

- Uhm. Cara maluco. - murmurou jogando o resto do cigarro no chão e pisando nele, deu um sorriso ladino, achando bem caricata a figura. - É, acho que de algo valeu a pena vir aqui hoje... Brasil é um belo nome. - disse olhando a direção que já não tinha nenhum sinal do brasileiro, e no fim resolveu voltar para dentro daquela boate barulhenta e irritante.

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⏰ Última atualização: May 10, 2021 ⏰

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