A tarde de Meg estava entediante, como todas as outras tardes. O sol raiava em Eagle Town e a temperatura não passava dos 27C. A garota de quatorze anos andava pela casa, em busca de algo interessante. Não sabia o que procurar, repetia para si mesma que saberia quando encontrasse.
— Você poderia parar de fazer barulho, por favor? Estou concentrado aqui. — Seu irmão mais velho, Milo, gritou de dentro do próprio quarto.— Eu nem estou fazendo barulho, estressadinho. — Meg rebateu, revirando os olhos enquanto se sentava em frente ao guarda-roupa aberto de sua mãe. Esperava encontrar algo miraculoso por trás dos vestidos pendurados em cabides, separados perfeitamente em cores, de sua mãe. "Algo poderia magicamente aparecer, ou poderia simplesmente descobrir um novo mundo, igual a Nárnia", pensou a garota, mas minutos depois se deu por vencida e fechou as portas, tendo a certeza de que dali nada de mágico sairia.
Voltou a andar pela casa, entrando no quarto do irmão sem ao menos bater e ignorando sua presença ali.
— Normalmente as pessoas batem na porta antes de entrar. — Milo reclamou, esperando uma resposta, porém percebendo que não a teria, continuou provocando a irmã. — Se você está procurando roupa suja, no seu quarto tem de sobra.
— Você podia ficar quieto, né. Continua concentrado aí.
— A errada aqui é você. Eu não te chamei aqui, saia por favor.
— Me dê algo para fazer e eu te deixo em paz. — A garota dos olhos castanhos cruzou os braços, sentando-se na cama do irmão, que estava perfeitamente arrumada.
— Você está amassando lençol. Saia daí agora, Megan. — O moreno gritou, se levantando da cadeira onde estava nas últimas três horas. Sara certamente estava curiosa para saber o que seu irmão tanto digitava naquele computador.
A pré-adolescente se levantou da cama antes que o irmão a pegasse pelo braço.
— Mamãe disse para você ser gentil comigo.
— Felizmente mamãe está em uma viagem de negócios e, até ela voltar, eu sou o mais velho aqui. — O rapaz diz, antes de fechar a porta do quarto, deixando a menina sozinha no corredor da casa.
— Felizmente eu sei sobreviver sozinha. — Meg bufou após não receber nenhuma resposta do irmão.
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A garota dos cabelos loiro claro estava deitada no chão da sala, lendo um dos poucos livros que ainda não havia lido, que achara no fundo do armário de panelas. "Um lugar estranho para se guardar um livro, um lugar fácil para esconder um tesouro" ela pensara. Havia lido aquilo em algum lugar, mas não se recordara de onde.
Uma Cidade Para Se Lembrar era o nome do livro de poucas páginas que estava lendo. Era visível o fato de o livro não ser novo, suas páginas eram amareladas, pouco desalinhadas e com muitas orelhas. Sua capa não era tão convidativa, aparentava ser um daqueles livros chatos que gente velha e inteligente lia. A menina riu com a lembrança de seu avô lhe falando, uma vez, que livros com capas feias eram para pessoas de sua idade.
— O que o senhor pensaria de mim, lendo este livro para gente velha, vovô? — a garota pensou alto, antes de prender toda a atenção a uma linha do livro. Numa falha tentativa de se concentrar ainda mais, ela se sentou rapidamente, colocando uma mecha de seu cabelo para trás de sua orelha.