Thémis tinha a certeza que conseguiria enxergar a descrença de Bartolomeu Crouch Sênior há milhas de distância. O homem mais velho parecia um daqueles personagens de desenho animado soltando fumaça pelos ouvidos, as engrenagens em sua mente girando tão rápido que, se todos ficassem quietos, seria possível escutá-las.
━ Como é?
Thémis soltou um risinho.
━ Por acaso você é surdo? ━ ela sabia que não deveria falar assim com aquele homem. Poderia não parecer, mas interrogadores eram, de fato, poderosos. Entretanto, ela estava cansada. Tivera que viajar pelo modo trouxa, avião, e ficara quase sete horas nos ares; como se não bastasse, passara outras três tentando conseguir informações sobre seu novo cliente, Sirius, e onde ele estava. Sua irritação atingia níveis absurdos. ━ Eu disse que sou advogada dele. Você não está familiarizado com as leis bruxas? Todos possuem direito a advogados, todos são inocentes até que se prove o contrário. Onde conseguiu seu diploma? Por Merlim!
Bartolomeu estava atônito, mas não tanto quanto Sirius, que piscava repetidamente, tentando entender o que acontecia.
━ Posso ver seu registro? ━ foi tudo o que Bartolomeu disse depois de minutos.
A mulher colocou sua grande bolsa preta com um alto barulho na mesa de metal para procurar o pequeno pedaço de plástico que lhe fora solicitado. Pouco a pouco, ela foi tirando diversos itens: uma escova de cabelo, um passaporte trouxa, um passaporte bruxo, anéis e braceletes, um batom vermelho, dois sobretudos e, por fim, uma carteira cinza; dela, Thémis finalmente encontrou seu registro de advogada bruxa, um cartão de identificação com foto e data, e o apresentou para Crouch. O mais velho deu um sorriso vitorioso.
━ Você é advogada há menos de dois anos. Tem certeza que deseja defender... Isso?
Sirius fez um som como se quisesse falar "ei, eu estou bem aqui!". Thémis sentiu seus olhos revirarem involuntariamente.
━ Estou aqui, não estou? ━ ela perguntou de forma retórica.
Crouch concordou monotonamente com a cabeça, escondendo um pequeno sorriso. Independente de como as coisas ocorressem, aquele caso já estava ganho para o lado do Ministério.
━ Sirius Orion Black é todo seu, senhorita Thémis Highcross. Seja bem-vinda à Inglaterra.
Tendo a última palavra, Bartolomeu se retirou da sala, deixando com que a identificação da jovem advogada caísse no chão propositalmente.
Sem algemas prendendo seus pulsos, Sirius se abaixou lentamente para pegar o cartão de sua mais nova defensora do chão. Quando levantou a cabeça, Thémis lhe encarava intrigada.
━ Aqui está. ━ Sirius estendeu a mão para ela, entregando-lhe o objeto.
Thémis murmurou algo que soou como um "muito obrigada" e se sentou na cadeira que antes pertencia a Bartolomeu.
━ Podemos começar? Tenho algumas perguntas para lhe fazer e informações para confirmar.
━ Você pode me dizer por qual razão está aqui?
Era uma pergunta justa, Thémis pensou. Sirius devia ter aceitado seu destino e acreditado que não havia ninguém no mundo que quisesse livrá-lo daquela prisão imunda.
━ Eu vim te tirar daqui, bobinho. ━ Highcross falou. ━ Sua prima, Andromeda, me enviou uma carta implorando para ajudar, que você não tinha feito qualquer maldade do tipo e que ela acreditava em sua inocência, e solicitou que eu acreditasse também. Sendo família, claro que não pude dizer não.
O questionamento de Sirius veio rápido e soou quase como decepcionado.
━ Família?
━ Prima de terceiro grau do marido de Andromeda, Ted. ━ ela explicou; Sirius quis soltar um suspiro aliviado. Estava preso, claro, mas aquela mulher era linda demais para que ele não tentasse sequer um flerte leve.
━ Então, você acredita nela? Acredita que sou inocente?
Thémis balançou os ombros, como se não realmente ligasse.
━ Igual eu disse, acredito em inocente até que se prove o contrário. ━ a moça concluiu. ━ Por mais que as provas não estejam parecendo tão favoráveis para o seu lado, Black, acho que possamos, ao menos, reduzir sua sentença.
━ Quem sabe me tirar da prisão? ━ ele perguntou, um tom juvenil e brincalhão em sua voz. ━ Ganhar até mesmo uma puta de uma indenização pelas férias daqui.
Thémis quis gargalhar. O homem estava preso há quase um mês em meio, sem ver a luz do dia e provavelmente com as mesmas roupas em que fora capturado; tivera seus cabelos cortados e estava pálido quanto um dos fantasmas do porão da Casa Branca e, ainda assim, encontrava piadas para fazer e sorrisos para distribuir. Ela, enfim, concordou.
━ Sim, Sirius, quem sabe, até mesmo, consigo te tirar da prisão e fazer com que ganhe um dinheiro em retribuição pelas férias que estão te obrigando a tirar.
Sirius sorriu. Talvez um pouco de esperança era tudo o que ele precisava naquele capítulo.
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CALAMITY | SIRIUS BLACK
FanfictionEra final de outubro do ano 1981, e Sirius Black havia matado o casal Potter... Ou ao menos era isso o que os jornais bruxos diziam. Sua vida passou por seus olhos enquanto ele era jogado numa cela, sem julgamento ou esperança alguma; mas ele mereci...