Eu me escondo em algum lugar. Eu tenho certeza que há algum quarto secreto em alguma parte da minha mente, em que me deixo lá, escondida, mas, de certa forma, protegida.
Eu tenho medo de qualquer feixe de luz que possa perfurar a escuridão, iluminando esse quarto no qual me encontro, porque eu sei que a presença da luz me trará à fora, e estarei novamente exposta à realidade. Não é que eu esteja vivendo na irrealidade, infelizmente isso não me é possível, mas é exatamente nesse quarto que encontro a linha tênue entre o pânico — que sempre está presente — e o fio que ainda me agarra à sanidade, me lembrando que sou humana e preciso permanecer no chão, não importando o quanto suporto, pois ignoro meus limites: eu apenas devo, porque sim.
Mas, muitas vezes, essa linha se rompe, escancarando a porta do quarto, permitindo que toda a luz de fora me engula, rápida e cruelmente, não me permitindo o tempo necessário para que minha mente desenvolva algum tipo de defesa; é aí, nesse momento, que o pânico se estabelece e me domina por completo.
Trêmula, vulnerável, sentindo cada parte da minha pele formigar, queimando lenta e agonizante, exilando qualquer sobra existente de sanidade em mim. E, depois, apenas choro, grito, rasgo minha pele com minhas próprias unhas, na busca de qualquer sensação menos torturante, cansada e exausta por tantas sensações unidas e perturbadoras, que parece que foram feitas especialmente para o meu próprio fim.
Me mata aos poucos, todos os dias, e eu boba novamente me arrasto até a porta, fechando-a novamente, ignorando o tempo que meu corpo implora em prol da sua própria recuperação; trazendo em mãos as duas pontas da linha tênue, esticando-a, amarrando novamente suas pontas em outro nó, me colocando novamente na mesma posição de humana, pé no chão.
Por quê? Porque eu devo. Porque sim!
É assim que funciona a minha cobrança para ser gente.
Ontem, quando mais uma vez essa luz atravessava a escuridão do quarto secreto, eu já tive a certeza que seria mais uma noite em claro que eu passaria com os olhos vidrados em cada sensação torturante que perfuraria em cada órgão existente em mim. Então, rendida à certeza que seria inútil tentar dormir, resolvi me atualizar das postagens do dia, e, para a minha surpresa, você tinha feito um novo post. Assim que abri o vídeo, sua voz ressoou sem pedir licença através de uma canção com uma melodia tranquila, constrastando completamente com a minha situação do momento.
Deitada trêmula em minha cama, enjoada e sob efeito da ansiedade, sua voz ricocheteava em cada ponto de luz presente no meu quarto, quase sussurrada, suave, serena, aconchegante, consoladora, coberta de uma mornidão que trazia o equilíbrio certeiro entre o frio e calor. Eu não fazia ideia que apenas um minuto e quarenta e oito segundos ouvindo sua cantoria nesse momento de pura taquicardia, seria o tempo destinado para que eu conseguisse dormir.
Sim, você me fez dormir, e eu nem me lembro em qual momento meus olhos foram instigados à fechar, eu apenas me deixei levar pela sua canção de ninar e finalmente consegui relaxar o meu corpo. Não lembro exatamente o que sonhei, mas tenho certeza que em algum momento senti suas unhas deslizarem suavemente sob meu couro cabeludo. Talvez sua voz tenha criado forma ao meu lado, e tenha percorrido por entre os meus fios, anuviando e exilando todo tipo de angústia, agonia e exaustão que ressoava dentro e fora do meu corpo.
Não estava fora da realidade, mas também não estava dentro; não estava no quarto secreto, mas também não estava fora. Eu estava com você, você é o lugar, porque você me convidou, permitiu que eu repousasse com você, e me tranquilizou, me afogou com toda a sua paz, a mansidão em seu timbre, me fazendo respirar depois de tanto tempo sem lembrar como exatamente se fazia isso. O peso da leveza que você carrega em si me tomou por completo, e foi assim que você me fez dormir.
Quando acordei, me assustei por ainda estar na mesma posição inicial da noite anterior, e, assim que abri a tela do meu celular, lá estava o vídeo, e pela primeira vez eu li a legenda que você colocou, já que na confusão da noite anterior a minha vista estava turva o bastante para que me possibilitasse ler alguma coisa.
"Sleep💤"
Quando li, eu entendi que era o seu real propósito, e eu tenho fé demais para acreditar que você postou aquilo pelo acaso. Você me fez dormir, e eu entendi que foi para isso que a postagem foi designada.
Obrigada por apenas ser.
Obrigada por me fazer dormir.🌷
N/A: Antes de tudo, peço perdão pela confusão presente em cada linha desse texto. Bom, já faz um tempo que escrevi esse desabafo/carta (??), não sei bem como nominar. Eu confesso que não sei exatamente para que finalidade eu estou postando aqui, e até peço perdão, mais uma vez, se isso desencadeou algum tipo de desconforto em você. Quando escrevi, eu estava num momento de pura vulnerabilidade, confusão, e acredito que isso possa ser enxergado nas entrelinhas, já que eu sempre escrevo com minha alma, mesmo quando não pretendo publicar. De qualquer forma, estou me expondo aqui, e eu espero que de alguma forma isso chegue até ele, porque eu sei que, apesar de toda confusão presente, eu quis expressar toda minha gratidão pelo simples fato dele ter me feito dormir. E eu espero que de alguma forma, vocês que passam por esse mesmo problema que eu, sintam-se também acolhidos por essa canção de ninar, por isso recomendo que assistam esse vídeo, repetidamente mesmo, porque ele tem efeito. É isso.
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Tua voz que ressoa em meu quarto; KTH.
Short Story"Sua voz ricocheteava em cada ponto de luz presente no meu quarto, quase sussurrada, suave, serena, aconchegante, consoladora, coberta de uma mornidão que trazia o equilíbrio certeiro entre o frio e calor". Desabafo de uma ansiosa, e carta de gratid...