1. Vontade

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Na beirada, de cotovelos debruçados sobre parapeito de mármore, tensionei-me nas pontas dos pés, delicadamente, olhando para baixo. Percebi a movimentação nas ruas: pontos fervilhantes rumo a seus anseios. Fantasiei estarem todos desgarrados de seus sistemas sociais, mudando seus instintos para apenas os arbítrios pessoais, esquivando-se das coerções coletivas.

O sábado pulsava feito a aorta de um maratonista na linha de chegada, cheio de possibilidades, mas confuso pela baixa oxigenação. A primeira brisa crepuscular me abraçou, contrastando com o calor, mas foi o súbito arder de minhas entranhas que me estremeceu. Senti-me úmida. Com as pontas dos dedos, experimentei a textura áspera do arrepio sobre a nuca. Sorri, cerrando os olhos. Definitivamente, escoltar-me apenas pela imaginação, solitária, não seria a opção preferida da noite. Essa noite não.

O cigarro foi o último do maço. Desci ziguezagueando pelas escadas de emergência, lentamente. Ao longo dos degraus, um lance após o outro, devaneava sobre qual seria a melhor forma de pegar carona nos impulsos hormonais. Pensava sobre a agradável sensação da noite quente, entrelaçando-se ao sopro fresco do ar atrevido, formando um tango sensual entre a brisa e o calor. Diante da atmosfera e suas expectativas, meus mamilos ansiosos já se erigiam, cativantes, notáveis sob o fino pano amarelo do vestido. Sustentando-se nos ombros, as finas alças da vestimenta vacilavam, alternando cada lado entre o despencar e o ser suspenso. Não me importei.

Já passando pelo segundo andar, um sopro de ar surpreendeu-me, suspendendo meu traje até o abdome. Traída pelo curto tecido, apenas gargalhei, sem pudor. Deixei o vento brincar com meu sexo visível em tom de descoberta, fazendo seu papel de travesso. Ouvi um carro passar buzinando, com o passageiro gritando sacanagens através da janela do veículo. Com certeza, gostou da imagem de minha bunda atrigueirada vista lá de baixo, redonda e avantajada. Excitei-me com a exposição. Olhei para o lado e, através da janela, avistei uma belíssima jovem, a qual desatentou-se da tevê para me espiar. Eu, percebendo que estava sendo observada, hesitei em recompor o vestido e deixei o traseiro à mostra, retribuindo a atenção por alguns segundos com um sorriso safado. Ela sorriu de volta e piscou, maliciosamente. Em seguida, segurei a borda da veste contra o vento e avancei na descida, até alcançar a rua.

Sim, SenhoraOnde histórias criam vida. Descubra agora