No Reino das Fadas, onde tudo parecia ser uma fantasia, habitava uma garota cuja vida daria um conto tão belo quanto uma. Essa garota, de meigo sorriso e voz encantadora, ninguém sabia o nome. Nem ela mesmo. No Reino das Fadas, deve-se dizer, ninguém tinha um nome, porque ter um nome era coisa dos cinzentos humanos. Até então, tomara algum gosto por chamar-se assim:
— Rosé — disse a senhorinha, sua mãe, que também era uma fada.
Rosé era conhecida por todos os habitantes do reino-sem-rei assim, pois, por mera c-o-n-v-e-n-i-ê-n-c-i-a, era uma fada da natureza, assim como a sua mãe, sua avó, sua bisavó e toda a linhagem materna de sua família. Sua habilidade, por exemplo, era conjurar rosas. Rosas que, tão delicadas quanto ela própria, e, de beleza tamanha que nenhuma palavra serve para descrever, tornavam seus dias melhores.
— Bom dia! — respondeu à sua progenitora, com um bom humor genuíno.
Com suas asinhas, saiu do seu cafofo tenebroso, ou melhor, o seu quarto. Sua casa era um frasco de vidro arredondado, que, com um feitiço, tornou-se muito maior. Não irei explicar o porquê de viverem dentro de um frasco, afinal, no Reino das Fadas, tudo é excepcionalmente diferente.
Espreguiçando-se, caminhou até onde a sua mãe estava. Como sempre, a velha senhora parecia muito sorridente. A sua mãe, que também não tem nome, gostava de embaralhar sensações e tornar significados em detalhes. Não era uma pessoa ordinária, pois, sempre procurava ver o lado bom das coisas.
— Hoje é o festival de música. Você vai, minha filha?
— Vou sim. Eu vou cantar.
— Cuidado com os duendes. Eles são muito invejosos. Uma pobreza de espírito! Quando eu tinha sua idade, eu iria cantar no festival, mas, um duende sabotou o palanque e eu caí. Foi aí que eu ganhei a Joana, essa cicatriz aqui.
Talvez a velha fada fosse maluquinha da cabeça: dava nome a tudo. Jurava que o sofá era um tio seu. Nem mesmo o filtro de barro de água escapou: segundo ela, era um irmão seu.
— Eu não lembro de ter um outro filho não — a avó de Rosé ria e dizia a sua neta: — Sua mãe está senil, senil, minha filha. Caducou!
Rosé mantinha-se imparcial, já que, se concordasse com sua avó, desagradaria sua mãe, e se defendesse sua mãe, desagradaria a sua avó.
Quando a grande ampulheta da sua casa já tinha mais da metade da areia embaixo, a garota-fada soube que a noite tinha caído. Rosé esperava que ela, por ter caído, não tivesse se machucado muito.
Saindo de sua casa-frasco, advertida por sua mãe de ter cuidado com os duendes e levando sua varinha de condão no bolso, olhou para uma abóbora que estava ao seu lado e teve uma ideia. Ao invés de ter que caminhar até o centro do reino de faz-de-conta, iria de carruagem!
Sacou a varinha de condão e começou a cantar:
— Salagadula, mexegabula bibidi-bobidi-bu — a fada cantarolou, entusiasmada, vendo centelhas de luz saindo de sua varinha. A abóbora começou a se mexer, se transformar, se remexer e se retransformar. — Junte tudo isso, teremos algo então. Bibidi-Bobidi-Bu! Salagadula mexegabula, bibidi-bobidi-bu. Isso é magia, acredites ou não! Bibidi-Bobidi-Bu! Nem eu entendo este angu, mas a mágica se faz dizendo bibidi-bobidi-bu! Salagadula, mexegabula bibidi-babidi-bu!
A sua mágica até parecia estar funcionando, mas, sua empolgação morreu quando percebeu que, no fim das contas, seu feitiço tinha sido mais um de suas experiências falidas. A abóbora até parecia estar tornando-se uma carruagem. As rodas estavam lá, entretanto, a abóbora continuava intacta. Não era possível andar num legume!
Mordeu seus lábios, frustrada. Abriu suas asas e, de uma maneira mais convencional do que verdadeiramente gostaria, Rosé voou até o centro da cidade, mantendo-se estritamente perto do chão.
Ela nunca tinha voado pelo céu. Mais de dois metros do chão? Nem pensar. Tinha medo de se destrambelhar e bum, cair no asfalto, feito uma maria-mole. Seria um final mui trágico, e, é claro, patético demais para uma fada tão bonita quanto ela.
Quando chegou até o palanque do festival, onde todos os tipos de criaturas — elfos, fadas, duendes, centauros e por aí vai — estavam, sorriu para sua amiga, Jisoo, que também era uma fada.
— Estamos prontas? — perguntou, referindo-se à sua banda.
— Prontíssimas — Lisa respondeu, agitada.
— Certo, somos as próximas — Rosé disse.
Com um movimento de mãos, fez surgir, em sua cabeça, uma tiara de rosas.
— A próxima banda do nosso festival de música é formada por quatro integrantes — o homem-duende que segurava um microfone anunciou, fazendo um suspense — Com vocês: Jisoo, Jennie, Rosé e Lisa!
As fadinhas voaram até o palco e a plateia aplaudiu. Dariam o seu melhor. Rosé conjurava várias rosas, que caíam sobre o palco, enquanto as garotas cantavam, dançavam e é claro, impressionavam a todos.
O espetáculo terminou com Jennie, Jisoo e Lisa voando pelo céu, enquanto dançavam entre uma chuva de fogos de artifício. Lisa sentiu-se imediatamente borocoxô quando viu que Rosé não estava lá, no céu, junto com elas.
Jennie olhou para ela e, numa troca suspeita de olhares, as duas voaram até o palco e, levando Rosé pelo ombro — para o seu desespero —, foram juntas até o céu. Ao infinito.
Quer dizer, nem tão longe, mas o que vale é a intenção.
A apresentação se encerrou com uma salva de aplausos e uma plateia eufórica. Aquela era a melhor banda do reino! Teria sido desastrosa, entretanto, se a mãe de Rosé, sempre muito atenta, não tivesse visto um duende tentando jogar um feitiço nas garotas, para que elas tropeçassem nos próprios cadarços e caíssem. Ah, mas a senhora ficou possessa da vida e prendeu o duende dentro de uma maçã. Ninguém a enganava não, oras.
Depois de algum tempo após a apresentação fantástica das garotas e delas terem levado a medalha de melhor banda do reino de faz-de-conta, Rosé encontrava-se quietinha, no seu canto, bem longe de toda a multidão.
— Você parece meio cabisbaixa — Lisa comentou, observadora, com seus olhos oblíquos, estes que viam beleza em tudo.
— Eu queria ter conseguido voar — Rosé confidenciou para sua amiga — Eu queria ser uma fada, de verdade.
Lisa olhou, olhou, coçou seu queixo e depois respondeu:
— Você me parece uma fada de verdade.
— Que não consegue nem mesmo transformar uma abóbora em carruagem?
— Não conseguir não te impede de tentar.
Rosé suspirou.
— Vamos — Lisa continuou.
— Eu não tenho coragem. E se eu cair?
— Você não vai cair. Eu vou estar aqui — respondeu, colocando sua mão no ombro da garota com nome que parecia de uma flor. — Por favor.
Rosé encarou a amiga e permitiu suas asas abrirem. Sua tiara de rosas ainda estava em sua cabeça. Fechou os olhos. Lisa deu a sua mão. Rosé segurou firme.
— Eu vou estar de mãos dadas com você a todo tempo — Manoban prometeu.
Então, voaram. No céu. De asas abertas e olhos fechados. Rosé confiava plenamente em sua amiga.
— Eu estou voando — disse. E depois gritou eufórica: — Eu estou voando!
De vez em quando, é preciso enfrentar nossos medos para conhecer o céu. No caso, literalmente. Rosé abriu os olhos e quando olhou para baixo, percebeu que a muito Lisa estava no chão. Acenava.
— Você está indo bem! — disse a garota, lá de baixo.
Rosé percebeu que ia desequilibrar-se e, antes que isso acontecesse, bateu suas asas violentamente, pairando sobre o céu que já era pintado pela noite e suas estrelas.
Era uma fada, no final das contas. Voar não era tão assustador quanto parecia.
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On the Sky
FanfictionNo Reino das Fadas, onde tudo parecia ser uma fantasia, habitava uma garota cuja vida daria um conto tão belo quanto uma. Rosé era seu nome (ou quase, porque isso de nome é coisa de humano). Entretanto, diferente da maioria das fadas do seu reino, e...