XIV

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Eu fico alguns minutos em pé no meio da cozinha até escutar umas batidinhas na porta. Quando eu abro, dou de cara com Boun exibindo um sorriso enorme cheio de dentes.

— Então você me ama? São palavras perigosas para se dizer á alguém.

Eu abro mais a porta e ele entra, se encostando no sofá.
— Você é perigoso, eu sei disso. O que sinto por você é perigoso e amar você é algo perigoso mas eu não tenho medo.

Ele sorri mais um pouco e se aproxima me abraçando.
— Precisamos terminar o projeto do Sr. Thanit.
— Eu sei. — Respondo de forma abafada, com o rosto encostado em seu peito.
— Podemos ir até minha casa e terminar.
— Hum.

Ele sobe com beijos pelo lóbulo da minha orelha e para com os lábios ali.— Ou podemos fazer outra coisa.
— Não está mais com medo de me machucar?
— Eu descobri que tenho um autocontrole excelente.

Sinto um arrepio correr pelo meu corpo só em imaginar tudo o que eu gostaria de experimentar com ele. Todos os muros que ele poderia derrubar só com o toque de seus lábios.
Eu me afasto e aponto um dedo em histe em sua direção.
— Vou pegar minhas coisas. Não se mova.

Ele paralisa de forma teatral e eu subo as escadas em direção ao meu quarto. Coloco meu tênis e arrumo minha bolsa, jogando ali dentro algumas folhas de pesquisa que eu fiz para colocar no nosso projeto. Vejo a jaqueta que Boun me emprestou na noite passada e a pego no encosto na cadeira, vestindo o tecido pesado e grosso. Desço as escadas e Boun ainda está paralisado na mesma posição que eu o deixei.
— Vivo. — Eu digo, o cutucando com a ponta de meu sapato.
Ele franze o cenho, os olhos ficando miúdos.
— Muito engraçado.

Quando saímos do lado de fora, a moto dele está ali. Eu encaro o céu azul e límpido, alguns raios de sol pousam no cabelo claro de Boun e ele me encara.
— Não quero ser rude mas como você consegue sair durante o dia sem algum evento acontecer?
Ele está sorrindo de lado quando olha para mim.
— Sou um vampiro moderno, Prem. Todas aquelas histórias pertencem á livros, filmes e séries de TV. A única coisa antiga que permaneceu foi ser morto por uma estaca e outros artefatos. De resto, é tudo mito e história para jovens sonhadoras.
— Mas você ainda é um vampiro.
— Sim.
— E bebe sangue.
— Sim, isso também.
— Alho?
— Diria que poderia até comer alho em uma pizza.
— Cruz?
— São bonitas.
— Dormir em um caixão?
— Eu nunca durmo e acho que seria muito desconfortável.
— A luz do sol?
— Eu gosto do calor.
— Precisa ser convidado para entrar.— Sim, isso também permaneceu. Não entendo bem o porque.

A forma como o diálogo entre nós dois ocorre muito rápido, me deixa um pouco tonto.
— Você é um vampiro anormal então. — Eu digo subindo na moto.
— Moderno, Prem. Apenas moderno.

•••

Sua casa ainda é do jeito que eu me lembrava. Eu tiro o casaco e Boun fica me olhando, com um sorriso nos lábios.
— O casaco fica muito melhor em você, você combina com essa cor.
— Então não vou te devolver.
— Fique á vontade, senhor.

Sentamos no chão da sala, espalhando alguns livros na mesinha de centro. Tiro as pesquisas que fiz no dia anterior e Boun fica me olhando.
— Você é mesmo muito certinho.
Eu reviro os olhos.
— Eu quero me formar, ir para a faculdade e sair da casa da minha mãe e de P'Don.
— Já percebi que você não gosta muito do seu padrasto.
— Ele me tolera e eu o tolero. É um bom combinado.
— É estranho.
— Os humanos são estranhos, não te contaram?
— Eu te acho formidável.

Não respondo e ele se levanta para pegar seu notebook na bancada da cozinha. Ele vai e volta tão rápido que não dá tempo eu abrir nenhum livro.— Você poderia ser mais humano na minha presença? Eu não estou acostumado com isso.
Ele sorri e se aproxima, cheirando a pele de minha bochecha.
— Você é mesmo absurdo, Prem Space.

Sweet Blood • BounPremOnde histórias criam vida. Descubra agora