Eros

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"O Deus Eros é o deus da paixão, do amor e do erotismo na mitologia grega. Sua principal função era unir as pessoas por meio de suas flechas mágicas. Esse deus representava o amor verdadeiro e na mitologia romana ele é chamado de cupido."

Como tudo que existe no mundo, às vezes uma característica sobressai à outra.

Por exemplo: ouça o canto dos pássaros. Em algum momento, o som começa a destoar. O tom mais agudo de um bem-te-vi se destaca entre tantos sabiás.

Mas ainda são pássaros.

A mesma analogia cabe para Eros, o deus da paixão e do desejo.

Neste caso, exclusivamente, o desejo se sobressai à paixão de maneira preponderante.

Mas ainda é amor.

O delegado de uma das cidades mais conflitantes do México se sentia exausto.

Alfonso Herrera era o principal responsável pela delegacia central de Tijuana. Estava em um final de expediente cheio e cansativo.

- Delegado, mais uma ocorrência. - anunciou um dos policiais, entrando pela porta do escritório. Alfonso bufou.

- Não quero saber. Deixe para amanhã. - ele replicou, ríspido, misturando as papeladas que tinha sobre a mesa.

- Parece urgente. - o policial falou recuando. Não era fácil trabalhar com Alfonso, um homem irreverente e caricato. Todos tinham receio em dar notícias a ele ou pedir favores. - Recebemos uma ligação agonizante. Não conseguimos identificar quem falava, mas pedia exclusivamente para que você fosse até lá.

Alfonso franziu o cenho, desacreditado.

- Mas que merda é essa? - indagou, de modo retórico. - Até lá onde? Quem acha que pode me chamar desta forma como se eu não tivesse mais nada para fazer? - Alfonso balançou a cabeça. - Mande outro policial. Veja se Borges está disponível.

- Entendo que já está quase no fim de seu expediente, senhor. - o policial insistiu. Era um rapaz novo, iniciante na carreira, em contraste com o homem experiente à sua frente. - Mas a voz da ligação chamava por você. Era a voz de uma mulher. Parecia em desespero.

Alfonso encheu o peito de ar e soltou lentamente. Por mais exausto que estivesse, nunca deixaria um caso desse tipo para outrém.

- Me passe o endereço. - ele disse colocando seu terno e pegando as chaves da mesa. Tinha o distintivo pendurado em seu pescoço. O policial o entregou um papel para ele, que olhou rapidamente, franzindo o cenho. Teve a sensação de conhecer aquele destino.

Quem poderia estar o chamando, afinal?

- Certo. - Alfonso acenou com a cabeça, colocando o papel com o endereço anotado no bolso de seu terno. - Encerre por aqui. Depois de averiguar este caso vou para casa. - finalizou, indo em direção à porta.

- Tudo bem, senhor. Até amanhã. - o policial desejou, mas Alfonso sequer ouviu. Saiu da delegacia rapidamente e entrou no carro. Era um automóvel negro e grande, que parecia se camuflar nas cores escuras do céu e da cidade quando ele finalmente deu a partida.

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