A canção do mar

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Há muito tempo, quando ainda pescavam- se seres majestosos, havia um navio. Ele era o mais belo já visto e sua tripulação era a mais alegre. O rum que eles comerciavam era sempre o mais puro, afinal eles não roubavam qualquer um. Sua cantoria provocava as sereias, as donas de onde eles velejavam. Mas uma, justo a filha mais nova do rei dos mares se encantava com as belas melodias que os marujos do grande Billy of Tea cantavam.

Numa noite de caça das sereias, Tritão deu uma ordem à Pérola: que ela afundasse a fonte das mais belas canções que a jovem já ouviu e ela, não poderia fazer algo tão bárbaro. Em sua mente, todos aqueles costumes eram desnecessários. Por que tanta crueldade com pessoas que nunca os fizeram mal? Pela primeira vez em sua vida, Pérola se recusou a obedecer uma ordem de seu pai e não afundou o navio.

Suas irmãs não eram como ela e decidiram agradar Tritão levando o grande Billy para a sua cidade subaquática. Elas cantaram forte. Tinham belas vozes, mas aquela melodia era perturbadora, ao menos para a caçula. O canto se intensificou e mutuamente, as ondas. Era possível ver os corpos caindo da embarcação, algumas sereias nadavam próximas à superfície para recolhe-los.

Tritão apreciava toda a dedicação de Ágata e Marina e sua dança, era possível ver a satisfação em seu olhar. Pérola não poderia em hipótese alguma deixar um navio tão alegre ir à ruína diante de seus olhos. Com um sopro suave e pacífico, ela enfrentou a canção de sua família e acalmou o mar aos poucos. Seu pai percebeu a origem da calmaria e com um pequeno gesto com seu tridente derrubou um último corpo do navio, talvez o mais precioso dele. Era uma mulher, bela e humana. Provavelmente esposa de algum dos marujos.

A sereia nadou o mais rápido que pode para a superfície e Tritão a seguiu furioso. Eles lutavam com sua voz e tridente para salvar e destruir o navio respectivamente. Pérola venceu, mas isso lhe custou muito. Os piratas olhavam confusos para o mar, mas o semblante de um deles era diferente. Triste. Certamente era o viúvo da bela moça que caíra.

Vencer uma batalha contra o rei dos mares exigia uma punição severa, era um grande ato de desonra, ainda maior por ter partido da princesa mais nova. Tritão estava muito desapontado e principalmente nervoso. Com um salto, ele tomou sua forma humana e invadiu o Billy of Tea surpreendendo os tripulantes. Pérola subiu à superfície para ver o que aconteceria.

Tritão: Minha filha caçula desobedeceu minhas ordens e por isso deve ser punida. Você foi mais fiel aos humanos que nos ferem do que à sua própria espécie! Merece ser castigada. Preciso falar com o capitão do navio. – Um homem, com uns trinta anos, barba e cabelos louros, deu um passo a frente. Ele, que outrora parecia triste, agora se mostrava nervoso, como se buscasse alguém para culpar da morte da bela dama.

Billy: Sou eu.- disse sério.

Tritão: Pérola desonrou sua própria raça e será penalizada. A partir de hoje, ela viverá como um de seus, morará no navio e cumprirá suas ordens. Filha, de agora em diante você está condenada a ser uma humana sempre que estiver dentro desta embarcação. Terá permissão para nadar ao redor do grande Billy of Tea, mas nunca pisar fora dele. Uma vez que colocar seus pés em terra, morrerá, a menos que haja um laço com Billy ou sua família. Seu dever é auxiliar estes homens e obedece-los até que a maldição seja quebrada ou o fim de sua vida. Sua canção não encantará nenhum dos marujos deste barco e seus poderes sobre o mar e suas criaturas serão tomados. Você agora pertence ao Billy of Tea.- O rei finalizou o decreto ao bater seu tridente no convés.

Uma grande onda arremessou Pérola do mar e ao tocar seu corpo no chão, se tornou humana.

Pérola: Papai, me perdoe! Eu nunca quis me tornar uma humana! Por favor, papai, eu preciso de minha calda!- suplicou arrependida.

Tritão: Não há perdão para tal traição. Serei piedoso... Permito que quando estiver debaixo da água tenha sua calda de volta, mas sua respiração será cem por cento humana. Nas profundezas lhe faltará ar.

Pérola: Ao menos isso... Obrigada...- Lamentou a nova marinheira.

Tritão voltou aos mares... Era a última vez que Pérola o viria. A garota estava tão triste e arrependida. Chorou, não sabia se era vergonha ou saudade, apenas chorou no meio do navio escondendo seu corpo e rosto.

Um garoto de uns treze anos se aproximou, ele era a mistura perfeita de Billy e a falecida moça que vira, colocou uma túnica sobre seus ombros e disse para a sereia:

Anthony: Vai ficar tudo bem. Às vezes perdemos coisas que amamos muito... É triste, mas temos que seguir... Minha mãe... ela acabou de cair do grande Billy...- consolou com ar de tristeza.

Pérola: Eu sinto muito... Ela era uma bela moça. Me perdoe...

Billy: Isso foi culpa sua?! Foi você?!- o pirata estava indignado.

Pérola: E- eu apenas salvei seu navio.- explicou assustada.

Billy: Afaste-se, Tony. Ela não merece seu consolo ou atenção. Aliás, é melhor que fique bem longe dela. Vou mandar um telegrama para a cidade mais próxima.

✩✩✩✩✩✩✩ Alguns anos depois✩✩✩✩✩✩✩


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