Capítulo 1

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- Mãe eu já disse que não quero ir para aquele fim de mundo. Pelo amor de Deus, entenda! - Eu dizia mesmo sabendo que ela não mudaria de opinião. Por que para ela era assim, se decidiu está decidido.

- Marina me perdoa, mas você precisa ir. Eu nem sei quanto tempo mais podemos ficar com essa casa, você sabe que a situação está difícil - Ah claro, ninguém me diz nada sobre absolutamente nada e de repente eu sei que a situação está difícil, ótimo! Ela prosseguiu. - Eu quero o melhor para você. Na casa dos seus tios você irá estudar mais e ter muito carinho. Você sabe que eles gostam de você Mari. - Suspirou - E além do mais eu também vou para lá, assim que eu consegui ajeitar as coisas por aqui.

-Então me deixa ficar com você esse mês? Eu nem me despedi das minhas amigas! - Eu tinha que apelar.

-Para de Drama Marina. Chega! Arruma suas coisas, no sábado você vai para lá. Sem mais discussões.

Subi as escadas como se tivesse tomado um tapa na cara, recebido a noticia de que alguém tinha morrido ou seja lá o que for, mas parecia a pior noticia do mundo. Eu não consigo acreditar no porque disso estar acontecendo. Quer dizer, eu sei o que aconteceu para ter que tomar tais decisões, mas mudar assim do nada? No meio do ano? Para um sitio? Isso literalmente não devia estar acontecendo comigo.

Pensei nas minhas amigas, no quanto estávamos próximas de uns tempos para cá, pensei até no Luan, o menino que conheci na festa da Mel, minha melhor amiga, pensei no meu vizinho que é muito fofo e em todo mundo que eu convivia.

Agora que minha vida estava se ajeitando, agora que eu começava a sair mais com os meus amigos, a me dar bem na escola, até parei com aquele maldito complexo por ser alta e meio fora dos padrões de beleza. Eu estava tão bem aqui e então vou embora.

Obrigada pela rasteira vida!

Procurei a mala que eu usava raramente e comecei a arruma-la, olhei ao meu redor e vi o meu mural de fotos, eu tinha passado meses pedindo para minha mãe comprar ele e quando comprou eu fiz uma economia enorme e revelei várias fotos, foi uma festa só, mas agora todas aquelas lembranças...

Pra melhorar em cima da minha mesinha improvisada, tinha vários marca-paginas que eu havia pegado com a Mel, sim, nós éramos viciadas em marcadores de páginas e sempre que passávamos perto da livraria que tem próximo a escola, pegávamos um.

Todas aquelas recordações vieram como mais um tapa na minha cara, ainda mais dolorido dessa vez. Sentei na minha cama e peguei meu travesseiro, não demorou nem dez segundos para que eu caísse no choro.

Eu me sentia horrível. Mais horrível do que quando eu era mais nova e os meninos ficavam falando coisas horríveis sobre mim, meu cabelo, meu corpo e minha altura. Mais horrível do que quando todas as meninas da minha sala, já tinham dado o seu primeiro beijo e eu ainda não. Mais horrível até do que o dia em que eu escorreguei na barra do vestido e acabei caindo no chão em um parque muito movimentado. Não, nada daquelas coisas eram um terço do que eu sentia agora.

Resolvi que seria melhor mandar logo uma mensagem para Mel, ela iria surtar.

"Mel, eu vou para casa dos meus tios no sábado... Mas, bom eu não irei só para passar um fim de semana. O que a gente desconfiava aconteceu. Me mudarei para lá. Sábado. Queria muito me despedir de você. Beijos."

Isso foi o suficiente para fazer com que todas as minhas forças acabassem.

Quando eu apertei o botão "enviar" eu senti que meu coração também se apertava, lágrimas escorriam pelos meus olhos e eu me perguntei se seria sempre assim. Porque se fosse, eu não aguentaria. Juro que não.

Coloquei o celular de lado e voltei para mala, mesmo em meio às lágrimas. Comecei a guardar coisas sem sentidos, peças que eu já não usava há anos, pensei que se guardasse coisas que não fosse tão importante, não doeria muito. Comecei a procurar coisas aleatórias e guarda-las, até dei um nome a ela. A mala sem necessidades.

Em um momento desses e eu fazendo piadinhas sem graça. Parabéns Marina você é demais!

Olhei a mala quase cheia e vi que eu só estava enrolando. Queria jogar tudo no chão e começar de novo, mais agora não daria mais, minha cabeça estava explodindo de tanta dor. A coisa devia ser bem séria por que eu nunca tinha dores de cabeças.

Tive algumas ideias, mas já que não conseguiria coloca-las em pratica no momento, resolvi deixar pra depois.

Apaguei as luzes e fui caminhando no escuro até minha cama, aquele percurso eu fazia até de olhos fechados. Mais lágrimas. Deitei na minha cama e me enrolei no meu edredom, não estava tão frio, mais eu me sentia protegida assim. Alinhei minha cabeça no meu travesseiro e praticamente apaguei desejando que meus sonhos se tornassem menos doloridos do que minha vida.

Mudanças - Bia Prado (REVISANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora