Capitulo I

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— Você vai voltar para me dar um beijo de boa noite? - disse a pequena garota esticando os braços para receber outro abraço.

— Claro, princesa, eu já disse antes; o Batman sempre volta para casa

— Você não é o Batman, papai. Só tem um carro preto bonito. Leonor me contou tudo.

Fiz uma careta como se estivesse magoado e comecei a vestir o casaco.
A noite estava fria enquanto a fina chuva caia do lado de fora da janela do hospital Saint. Claire, e em dias como esses era muito mais difícil simplesmente sair de lá e deixar Trixie sozinha aos cuidados das enfermeiras.

— Puxa, Trix! - coloquei a mão no peito para enfatizar a minha fala — é claro que o seu pai é o Batman. Não acredite nas mentiras de Leonor – me abaixei para sussurrar — ela é a namorada do pinguim, sabia?

Trixie sorriu e as covinhas em suas bochechas se acentuaram.

— ela não é namorada dele, papai - ela comentou rindo sonolenta — ela é visuva, viusa... viúva!

— Isso é o que ela quer que você pense, já viu o tamanho dela e o jeito que só se veste de preto e branco? O papai nunca erra.

Beijei sua bochecha e segurei a pequena mão morna enquanto a observei fechar os olhos e deslizar para seu sono.

Eu preferia deixá-la dormindo, assim os intervalos de tempo que passávamos separados eram menores para ela. Intervalos estes que se tornavam cada vez mais frequentes desde que eu havia perdido meu emprego como contador e passei a trabalhar como motorista. Mas não havia outro plano para mim, eles poderiam me oferecer um emprego como coletor de lixo químico que eu aceitaria.
Veja bem, não é que eu não tenha amor próprio, mas quando a vida de quem você mais ama está em jogo, o seu amor próprio se torna a terceira coisa mais importante.

O barulho da porta interrompeu meus pensamentos. Era ela, a nanica namorada do pinguim.

— ela adormeceu não é? – Perguntou Leonor e aproximando da cama e checando a sonda no braço de Trixie — estava mais disposta durante o dia. Ficamos felizes por vê-la assim outra vez.

Apesar da voz grave de Leonor, ela tinha um carinho especial por Trix e as duas haviam se tornado grandes amigas. O que era bom, ao menos uma figura feminina para Trix.
As últimas semanas não tinham sido fáceis para ela, com o mal estar constante e o cansaço, Trix tinha passado quase toda parte do tempo dormindo e choramingando.

— Tenho que ir sabe. — falei me virando para Leanor. Peguei as chaves do carro, e soltei a mão de Trixie. — Mas volto lá pelas duas ou algo assim.

— não se arrisque muito Richard. Nova York é tão perigosa quanto agitada, você sabe disso.

Ela não olhou para mim enquanto falava, mas seu tom de voz era preocupado, quase maternal.

— não se preocupe, Leo. — dei uma piscada para ela e me dirigi até a porta — eu sou o Batman.

Leanor resmungou algo que eu não ouvi e eu saí do quarto. Agora começava a última jornada do dia.

As coisas seriam mais fáceis se Lana não fosse uma cadela fria. Talvez ela desse o suporte que Trix precisava, ou talvez apenas a confortasse durante o tratamento do câncer.

As corridas foram tranquilas, apenas alguns casais que iam para festas e pessoas saindo de seus trabalhos para outras festas.
Parei em frente a um grande edifício e fiquei apenas observando algumas pessoas que andavam apressadas pelas ruas. Observei um grupo de jovens arrumados e felizes em suas vidas sem responsabilidades maiores. Me perguntei a quanto tempo eu não fazia aquilo, apenas sair com algumas pessoas para relaxar sem nenhum outro compromisso e me surpreendi ao constatar que faziam quase dez anos.
Dez anos desde que Trix entrou em minha vida e Lana decidiu que não fora talhada para ser mãe. Aquilo arrasou comigo.
Dez longos anos onde decidi que levaria a vida a sério pela minha pequena. Briguei na justiça por sua guarda com os pais de Lana e conclui que aquele foi o segundo melhor dia da minha vida.

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⏰ Última atualização: May 21, 2021 ⏰

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