Capítulo Único

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Trancoso - BA, 2012

Law respirou fundo sentindo mais uma vez o cheiro de maresia o invadir. Abriu os olhos fitando a imensidão do mar à sua frente na esperança que aquela visão fosse capaz de adentrar seu espírito e lhe trazer paz.

Ah, Bahia... Bahia de todos os Santos, encantos e... Qual era a letra mesmo? Bem, não importava no momento.

Law estava em uma viagem de férias de fim de ano com o seu pai, Rosinante – ou apenas Corazon – e poderia se dizer encantado por aquele lugar. A variedade cultural era imensa. Havia tantos pratos incrivelmente saborosos – mesmo que tenha ido apenas em poucos lugares, era perceptível a rica culinária –, tantos pontos históricos incríveis, sem contar as praias que, com toda certeza, eram a melhor parte daquele lugar. Eram simplesmente belíssimas, com piscinas naturais, águas limpas e brilhantes e uma mistura de cores que ampliava ainda mais seu encanto, uma paisagem de tirar o fôlego, realmente, no entanto nem ela estava sendo capaz de expelir o ódio que Law estava sentindo naquele momento.

Sabia que Corazon havia escolhido aquele lugar em específico porque – além de sua vontade de conhecer diferentes lugares do Brasil – tinha esperança de encontrar algum ator ou atriz famosa das novelas que tanto amava e era viciado, já que muitos resolviam passar suas férias por lá. O problema estava justamente nesse ponto, muitas pessoas costumavam frequentar à cidade, principalmente naquela época do ano, o que acarretava nas praias tão lotadas quanto no momento de agora e Law odiava ter tantas pessoas ao seu redor.

Outro ponto a ser destacado era o ano em que estavam. Desde o ano passado rumores cresceram de que 2012 seria o fim do mundo. Não que muita gente havia acreditado na dita profecia, mas apenas a usaram como desculpas – como se eles precisassem delas – para festejar como se fosse o último ano de suas vidas.

Essa desculpa apenas resultou em muitas pessoas fazendo mais besteiras que o normal, e o dito ano do fim do mundo servir apenas de "comemoração" que todos ainda estavam vivos e bem. Às vezes Law odiava os brasileiros – mesmo que ele também fosse um.

Law continuou seu caminho afundando o pé na areia irritado ao ter aquele mar de pessoas a sua volta. Para piorar tudo, todos eram barulhentos, mais até que o comum. Já havia perdido a conta de quantos carros estacionados próximos à areia já tinha visto, todos com enormes caixas de som no fundo e com músicas diferentes em cada um, causando uma enorme poluição sonora.

As músicas. Essas eram absolutamente a fonte do mais puro ódio do moreno. Seja as músicas do hit nacionais de verão do início do ano ou as promessas para o próximo ano, todas o causavam um terrível desgosto. Eram tão repetitivas, com letras rasas e uma batida que grudava na cabeça como chiclete, para todo lugar que ia havia alguém escutando alguma delas.

Era impressionante a quantidade delas, parecia que tudo era hit de verão que tocava sem parar, e pior, elas variavam até de gênero, desde o funk ao axé. Se tudo já estava assim ainda no final do ano, nem queria imaginar no carnaval. Antes tivesse ficado no quadrado com seu pai, era definitivamente melhor passar vergonha ao lado dele do que suportar aquilo.

Caminhou por longos minutos até encontrar uma praia mais afastada e bem menos vazia. Não havia nada da infraestrutura da cidade, nem muitas pessoas, finalmente!

Porém ao se aproximar mais, se sentiu irritado novamente, aquelas pessoas estavam fazendo tanto, ou até mais, barulho que as outras na praia que estava antes com uma caixa de som enorme, se perguntava como uma caixa daquele tamanho cabia dentro de algum porta-malas. Revirou os olhos ao perceber que a música que tocava era a recente e popular por aquelas bandas "Ziriguidum". Depois de tantas vezes ouvindo "Largadinho", "Dança kuduro" e "Amor de chocolate" era só o que faltava.

IrritaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora