let's fight!

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Eram quase seis e quarenta da noite quando um estrondo vindo da unidade 203 ecoou por todos os quatro cantos do condomínio, assustando alguns pedestres os quais caminhavam na rua interna próxima ao local. Tal acontecimento era infelizmente rotineiro, e todos duvidavam que havia um problema na fechadura da porta para ela ser trancada com tamanha agressão, ainda mais levando em consideração que só foram ocupar aquela casa há menos de um ano e meio. 

E, sendo um complexo de por volta de 350 casas e apartamentos — que, por sinal, não estão todos ocupados —, os rumores corriam com a velocidade mais alta do que a de um leopardo indo atrás de sua presa ou um foguete subindo rumo ao espaço.

Boatos geralmente soltos pelas bocas dos moradores da unidade 308, Changyoon e Minkyun, também conhecidos como os maiores fofoqueiros de Genesis. A dupla, além de saber de qualquer coisinha que acontecia no residencial, se reunia na cara dura com seus amigos (influenciados de maneira trágica por seus comportamentos) para "jogar tudo na rodinha" ─ apelido carinhoso para os banquinhos de metal na frente de sua casa. Porém, a grande maioria dos residentes do lugar não ligava, dado que tudo o que queriam quando chegavam nas suas casas após um exaustivo dia de trabalho era um pouquinho de sossego.

Todavia, é difícil mudar uma rotina seguida há mais de quatro meses. Desta forma, por volta de cinquenta minutos após o barulho que nunca deixa de atiçar a curiosidade dos metidos a Leo Dias, Changyoon, Minkyun e os colegas de fofoca, Jaeyoung e Yuto, estavam reunidos e sentados em seus lugares habituais, se atualizando das boas novas à medida que beliscavam dos aperitivos feitos com carinho pelos donos do espaço, sob a luz das lâmpadas de LED dos postes da rua que iluminavam suas faces e a fachada lilás atrás de si em um tom levemente azulado por conta de sua alta temperatura, trazendo um ar harmonioso para aquela noite de terça feira em plena primavera.

— Mas então minha gente, hoje temos mais um episódio de "O que rolou dessa vez no 203?", amaram? — Yoon começou animado ao consertar sua postura, antes nada correta, como se fosse um evento formal, fazendo o japonês revirar os olhos só de imaginar as próximas falas do mais velho entre eles. — Eu tava lavando a louça e a porta deles bateu com tanta força que eu quase quebrei um copo, juro.

— Você conseguiu ouvir alguma coisa, Yuto? — Minkyun se ajeitou no banquinho e inclinou o corpo na direção deste, com a curiosidade remoendo seus ossos. Desde o segundo em que comentou que morava no 204, os metidos a velhinhas fofoqueiras não o deixaram em paz, implorando para que ele se aproveitasse da acústica horrenda das casas e escutasse as conversas dos vizinhos.

— Eu tava era resolvendo umas coisas importantes, eu lá ia prestar atenção no que eles estavam falando. Eu tenho mais o que fazer, vocês sabem disso. — Virou o rosto, tentando desviar a atenção de si.

— Sei... E nome dessas "coisas importantes" é... — Um dos anfitriões cruzou as pernas e apoiou o queixo nas costas de sua mão esquerda, isso tudo ao mesmo tempo se atrevia a o lançar um olhar pra lá de descarado com suas sobrancelhas subindo repetidas vezes.

— Trabalho de Conclusão de Curso. Cara, você já tá ficando pior que a minha tia quando se trata da minha vida, Changyoon, pelo amor de Deus. — Reclamou o encarando, detonando todas as esperanças do amigo de finalmente ver um deles desencalhando. — Enfim, eu tava conversando com a Yewon pelo celular pra gente decidir os últimos detalhes do nosso projeto então eu não consegui ouvir muita coisa, mas de uma coisa estranha eu lembro: depois de uns gritos, eles ficaram tão quietos que eu até senti meu corpo se arrepiar, foi assustador e muito bizarro.

Os outros três se entreolharam em confusão, tentando imaginar o que poderia ter acontecido naquela casa — até porque, algo como o silêncio era incomum quando se tratava do 203. O quarteto encontrou com o casal problema em diversas ocasiões diferentes, e em todas eles pareciam inabaláveis, inseparáveis inclusive, como se estivessem prontos para desistir de tudo pelo outro. Trocavam sorrisos, carícias, riam dos comentários feitos..., Entretanto, acima de qualquer lembrança que tinham, a característica mais inesquecível era a forma como eles se olhavam. As pupilas dilatadas, as írises brilhando mais que todas as estrelas da Via Láctea juntas, a clara mensagem de o amor que fluia entre eles era intenso e verdadeiro. O grupo não tardava em suspirar e dizerem para si mesmos que eles os faziam acreditar em amor verdadeiro sempre que os viam daquela maneira, parecendo dois bobos perdidamente apaixonados.

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