Phoebus

Arte, poesia, céus estrelados e pores do sol

Eu gostaria de pedir perdão por ter me demorado tanto, espero que estas palavras te empolguem tanto na leitura quanto me empolgaram na escrita. E, desde já, peço perdão também por qualquer erro que eu possa ter cometido durante o processo de escrita.
(Meu coração se torna quentinho e grato por cada um de vocês).

                                 🌌

"Quando me olharem,
quero que enxerguem apenas a mim,
não sou nenhuma nuance,
nenhum vestígio ou performance
daquilo que eles me criaram para ser".

Quem de vós já parou e sentou-se num bosque, longe de tudo e todos, perto apenas de si mesmo e se permitiu simplesmente existir?

Fechar os olhos e sentir o vento suspirar em seus olhos e descer pela face como se imitasse o trajeto das lágrimas, deixar que os sentidos se tornem aguçados o bastante para ouvir os pássaros cantarem, o farfalhar das folhas produzindo uma orquestra, o calor da cidade que se manifesta mesmo ao longe-, esse é o efeito dos humanos sobre o espaço em que vivem. Misturam suas essências à natureza antes pura, transformam todos os elementos ao seu redor em argila sob suas mãos de mortal presunçoso.

Por vezes pensava que deveria ser um pecado o ato de Deus permitir a alguns viver de maneira tão simples, gozando de uma liberdade mundana e preocupação nenhuma relacionada aos seus modos de portar-se, enquanto outros estão condenados a um destino tão tênue, onde cada passo deve ser minuciosamente calculado ou poderia resultar numa catástrofe.

Uma sentença mal formulada seria capaz de dar início a uma guerra.

Sentindo-se inquieto por dentro, passou os dedos pequenos pelos fios loiros, a fim de afastar a franja dos olhos, seu tato foi agraciado pela textura de seu cabelo macio e pôde sentir o cheiro de grama fresca misturada ao aroma da estação e dos temperos característicos que escapavam dos fornos a lenha construídos nos quintais das pequenas casas localizadas a alguns metros.

Suspirou.

Tombou a cabeça para trás, apoiando-se em suas mãos que descansavam sobre o solo úmido e voltou seu rosto para o céu-, esperando que os raios de sol da manhã beijassem suas bochechas enquanto pensava no quanto desejava poder viver daquela maneira para sempre, ou melhor: desejava a chance de ter vivido naquele meio desde o seu nascimento e que pudesse desfrutar disso até o dia de sua morte.

Não vivia com a cabeça nas nuvens, mas em momentos como este apenas entregava-se ao terreno de sua mente. Imaginava como seria ter uma vida diferente daquela que lhe foi jogada no colo, sonhava todas as noites com as ruas sempre preenchidas da cidadela, sonhava com os casebres simples e lembrava das feiras populares onde havia comprado as roupas que usava quando estava longe, como agora.
Sem vestes pesadas que pareciam ter sido costuradas com o objetivo maior de ostentar sua posição.

Às vezes sentia o ar queimar em seus pulmões como um lembrete de que logo deveria voltar para uma verdade sufocante. Tentava ignorar olhando ao redor e fechando novamente os olhos em seguida, pedindo ao universo com toda sua fé que pudesse ficar só mais um pouco naquela realidade alugada.

Mas a resposta sempre era um não ecoando em sua cabeça, uma negativa carregando a voz que mais o fazia tremer. Então abaixava o olhar, recobrando a disposição espiritual necessária para levantar, girava sob os calcanhares-, e como num ritual, sempre encarava o céu antes de ir embora, buscando nele uma razão para viver daquela maneira.

Pode parecer-vos confuso pensar em alguém que tem tudo e ainda assim, daria cada parte daquilo para deixar de tê-lo, compreendia que a maioria das pessoas tem uma definição bem fantasiosa sobre o tudo que ele havia herdado.
Havia desenvolvido um sarcasmo pelas heranças, acreditava que herança é uma questão de sorte, do destino e uma recompensa que ninguém nunca pediu.
Alguns herdam coisas que não merecem enquanto outros não recebem o que precisam.