Kat

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▪ Fevereiro de 2008

É talvez uma das minha lembranças mais antigas, e com certeza uma das mais agradáveis diga-se de passagem.
A primeira vez que a vi, a garota mais linda em quem já colocara os olhos, e continua sendo assim até hoje.
Superando até as belezas mais estonteantes de Botticelli, Da Vinci, Michelangelo e qualquer um que algum dia resolva pintar. Ninguém conseguiria representa-la tão fielmente ao ponto de capturar nem sequer uma fração do que ela realmente é. Era simplesmente uma visão.

Os cabelos castanhos de comprimento médio e levemente cacheados presos em uma única trança embutida firmemente a raiz _talvez porque sua mãe conhecesse bem toda a energia da menina_ , e muito bem penteada, os tênis brancos e prateados com cadarços cor de rosa e a farda daquele inferno.
O sorriso incomparável adornado por covinhas profundas nas bochechas, como uma armadilha de Luz UV para insetos numa varanda escura, e eu era a mariposa suicida voando direto para ela.
Aquele sorriso me perseguiria até a fase adulta.
Era na época totalmente incapaz de ver as coisas como agora, pela pouca idade e pela redoma em que era mantida, mas recordo-me de observa-la brincar com outras meninas, pulando corda ou simplesmente correndo por aí o quanto podia antes de ser detida por algum monitor de corredor. Fazendo as coisas de criança que eu nunca pude fazer, eu a invejava de certo modo, até porque eu nunca fui realmente criança.

Sempre me coube a representação de troféu para minha mãe, uma boneca de vidro para meu pai, e algo a se manter intocado e afastado do mundo para ambos, nunca me coube o enquadro real de criança. Nunca ralara o joelho, nunca fazia bagunça, nunca comia bobagens, nunca brincava com outros da minha idade, na verdade até os 12 anos eu realmente não sabia brincar, mas já havia lido A Divina Comédia três vezes. Acho que isso foi um dos prós.
Nunca passei pela fase "criança estúpida e acéfala", pulei direto para a fase "adolescente estúpida e acéfala" o que com certeza foi bem pior.

Por isso era realmente invejável vê-la correr e rir alto, não ter que se preocupar com o barulho ou se iria se sujar, ou se os cabelos não estavam mais perfeitamente bem penteados _apesar dos esforços claros de sua mãe para mante-los no lugar_, ou se preocupar em poder ou não falar com outras crianças, sem medo de ser puxada para longe. Eu queria ser como ela, queria ser uma das meninas com quem ela pulava corda e corria por aí...
Mas estava além do que eu poderia pedir, então o que me restou foi apenas manter-me como platéia. Fiel admiradora daquele raio de Luz UV no escuro, mas nunca uma de suas mariposas suicidas...
Meu primeiro e único amor, Kathrine.

_ trecho de Isabella

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