Nesta atividade os participantes devem escrever um conto com o tema "Verão" com no mínimo 700 palavras e no máximo 2300.
Contos enviados pelos participantes do Fênix! 👇👇
Conto n° 1
Escrito por OtakornioA praia
Aline encarou o próprio reflexo no espelho do banheiro. Ela estava com um
biquíni cortininha azul e a parte de baixo era fio dental; se sentia sexy. Virou de
lado e tocou no volume da barriga - tinha ganhado 10 quilos no último ano -, mas ainda assim estava se sentindo bem consigo mesma. Virou de costas e se olhou, fazendo uma pose para ninguém. "Hoje eu vou para a praia" era o pensamento que brincava na sua mente.
No último ano tinha ficado presa em casa por tanto tempo que estava com falta de Vitamina D. Foi uma surpresa porque ela ia para praia com frequência e tomava sol toda manhã quando ia ao trabalho, mas agora estava tão branca que parecia ter se pintado com tinta.
Semana passada ela estava sofrendo no escritório provisório do seu quarto. O
lugar era apertado e quente; o sol invadia sua privacidade toda tarde e ele era
curioso, pois mesmo com as cortinas fechadas estava presente com o seu calor. O ventilador trazia um vento abafado e a cadeira fazia as coxas de Aline suar. Ela esperava mesmo que o escritório fosse provisório, não aguentava mais aquela prisão.
Em frente ao espelho, ela pegou um pano fino e amarrou na cintura, formando uma saia longa e um tanto transparente. Praticamente seminua, era como planejava sair de casa. Ah, como sentia saudade! Queria beber no bar e jogar vôlei; queria chamar atenção dos rapazes; queria se refrescar e se divertir.
Ao abrir a porta, pôde ouvir uma voz da sala:
- "...até amanhã o governo alemão deve decidir sobre restrições às viagens de
Portugal, Grã-Bretanha, África do Sul, Brasil..." - A televisão estava ligada, como sempre. Ronilda, sua avó, ficava sentada no sofá o dia inteiro.
A avó era um dos motivos para ela estar de quarentena. Ronilda é do grupo de
risco e sua única família. Aline viveu com a mãe até os dez anos de idade, mas
estava sozinha a maior parte do tempo. Na infância ela só via a mãe pela manhã,
quando ia para a escola, porque à tarde e à noite sua mãe estava em baladas ou em bares. Aos dez anos ela fez as malas e pediu para morar a avó. A mãe nem
contestou.
Aline olhou para Ronilda sentada no sofá, o olhar vazio encarando o noticiário.
Seu avô tinha morrido há cinco anos de um ataque cardíaco. Seu tio não fazia
visitas porque estava ocupado demais com diversas amantes. Pelo menos sua
prima visitava vez ou outra, mas no último ano elas ficaram sozinhas. No começo havia esperança da quarentena ser temporária. "Quando isso acabar, vamos sair, vó!", ela dizia, "Quando tudo voltar ao normal, vamos viajar!", mas agora ela não fazia ideia se o mundo ia voltar ao normal. Elas tentavam fugir da morte precoce, mas não estavam vivendo.
Não, aquilo não era viver. Trabalhar em casa era mais cansativo que trabalhar
num escritório! Ronilda não sabia como se distrair e vivia em frente à TV, mas
eram tantas notícias ruins que a deixavam estressada. É por isso que Aline decidiu ir à praia!
Era janeiro, época de praia e sorvete. Havia lava embaixo da casa e paredes de
titânio no lugar das portas. Precisava dar um jeito nisso ou iria enlouquecer.
- Boa tarde, Aline! - Ronilda a olhou de cima a baixo - Que roupa é essa, menina?
Tem vergonha não?
- Gostou? É a minha saída de banho!
- Tu vai sair?
- Foi mal, vó! Alguém tem que se divertir nesse verão.
Colocou uma máscara de pano branca e deu tchau com a mão. Era arriscado, mas ela era concubina do mar. Olhou para trás ao abrir o portão e percebeu que a avó tinha desligado a televisão. "Finalmente", sorriu e saiu.
A rua estava mais vazia que o normal, mas as poucas pessoas seguiam Aline com o olhar. Ela desfilava, rebolando e com os ombros para trás. Ninguém percebeu sua expressão orgulhosa no rosto.
Ao virar a esquina viu um rapaz com uma camisa azul. Ele tinha os braços fortes e
a pele escura, estava parado em frente a um estabelecimento. Ela o encarou,
sabendo que também ia ser observada. Não demorou a receber um olhar de cima a baixo.
- Boa tarde, senhorita!
- Boa tarde. - falou com a voz suave, mas ele bloqueou seu caminho quando
tentou entrar - Ah, olha esse sol! Hoje é dia de praia.
Foi só piscar um olho que o rapaz saiu da sua frente. Aline entrou no
supermercado e chamou mais atenção que antes. Gastou todo o dinheiro que não tinha gastado nos últimos meses. Aquele era um grande dia! Quase foi expulsa do
local e só conseguiu ficar porque um belo homem lhe deu uma saída de banho que era um vestido.
- Por que você tem isso na bolsa?
- Eu comprei pra minha irmã há pouco tempo.
Aline sorriu e deu seu número para aquele homem gentil.
Com as mãos doloridas por causa do peso das sacolas, ela caminhava com
elegância. A rua estava mais vazia e ela quase não sentia o sol por causa das
árvores e prédios. Parou em frente a um portão e o destrancou.
Tirou das sacolas cerveja, sorvete e queijo coalho. Procurou a churrasqueira e acendeu, estava tudo limpo e preparado.
Tirou um plástico azul e armou como um quadrado. Ligou a mangueira e deixou a água encher.
Por fim, pegou uma toalha de piquenique e colocou no chão de concreto.
- Aline? - uma voz rouca ecoava da porta da casa - O que é isso?
- Vamos pra praia, vovó!
Viu o rosto sorridente de Ronilda, o belo sorriso que não via há dias.
- Você quer que a velha aqui fique bronzeada?
- Pode ir vestindo um biquíni!
Aquele verão certamente seria melhor que o do ano passado!
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Contos Fénix
Short StoryAqui vão ser postados os contos e textos feitos pelos participantes durante as atividades escritas.