Eram oito da manhã. A rua estava tranquila, pela primeira vez em três anos. Audrey levantou da cama e mesmo usando suas meias de lã pôde sentir o chão frio; o verão estava acabando.Margot ainda estava dormindo profundamente na cama ao lado.
Desceu a escada e foi à cozinha para comer algo, abriu o armário e encontrou somente algumas sopas enlatadas e uma barra de chocolate amargo.
Logo pegou uma lata de sopa de tomate e colocou em uma panela para esquentar. Virou-se e viu que o jornal já havia sido entregue,junto com uma carta. A primeira manchete era: Louvre encontra-se completamente vazio.
Como qualquer menina de 15 anos, Audrey pôde perceber que havia algo errado.
A Guerra devia ter avançado mais e com certeza estavam preocupados em proteger as valiosas peças do Museu.
A carta era para sua mãe,Amélie,que já tinha saído para o trabalho na cafeteria em Montmartre que mesmo sem muito movimento o dia todo ainda continuava a funcionar.
–Audrey? Você está ai?-Margot gritou do segundo andar.
–Sim,Margot! Estou subindo.
Margot tinha onze anos e era muito tímida. Tinha os cabelos loiros, da cor do mel, olhos castanhos como amêndoas e adorava ler livros de História. Sua inteligência era sem igual, até mesmo Audrey se impressionava como Margot era capaz de pensar.
Subiu correndo, certificando-se em contar os degraus da escada para não pisar no sétimo,que estava afundando. Não gostava de deixar a irmã sozinha, não naqueles tempos. Quando adentrou o quarto viu uma Margot sonolenta e já lendo o livro que pegara na biblioteca: Pão e Circo, a política que nunca morre.
–Bom dia, quer uma sopa de tomate?-disse Audrey, esperançosa de sua pequena irmã comer algo.
–Sopa de tomate?! Não posso comer um croissant?
–É o que temos pra hoje,Margot. Talvez mamãe traga algo quando voltar do trabalho. Com o movimento daquele café sobra muita coisa.
As duas desceram, tomaram café e logo pegaram a lista de tarefas que a Amèlie deixava todos os sábados com algumas obrigações básicas para as duas. Naquele dia a lista continha cinco itens, o primeiro era arrumar os quartos, seguido de limpar a cozinha, o banheiro, dar comida para Misty (a gata) e varrer a calçada.
Dentro de uma hora os quatro primeiros itens já estavam feitos. Audrey e Margot iriam esperar mais um pouco antes de sair e varrer a calçada. Estavam muito cansadas, mesmo as tarefas terem sido divididas entre as duas.
Durante a tarde brincaram com Misty e praticaram seus Hobbys: Margot já acabara de ler seu livro e começara outro e Audrey praticava sua escrita para sua sonhada carreira como jornalista.
Aquele dia estava tão tranquilo que Paris parecia outra cidade.As árvores do 13º arrondissement estavam cheias de passarinhos que cantaram durante toda a manhã.
Deram seis da tarde e já era hora de varrer a calçada, sua mãe chegaria as sete. Pegaram as vassouras e foram para fora. Olharam para a faixada da casa, o cinza destoava das outras na rua. Tinha dois andares, era bem estreita e pequena. Foi uma herança de sua avó paterna,Lise, a única coisa que restara da família. No primeiro andar tinha somente uma pequena sala e cozinha, que possuiam a maioria da mobília original. No andar de cima ficavam os dois quartos e um pequeno banheiro.
Os vizinhos eram muito ricos, destoando também do momento que passavam. Há um ano tinham uma melhor condição; a mãe trabalhava como secretária e o pai era contador, ambos na mesma empresa.
Tudo mudou quando a empresa fechou. A mãe teve que encontrar um novo emprego e o pai foi chamado para servir ao exército francês, protegendo as fronteiras. Agora estavam sem o pai em casa e a mãe trabalhava o dia todo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Paris,1939
RomanceO começo é em Paris, no ano de 1939. As irmãs Audrey e Margot sofrem com a Segunda Guerra Mundial e com o início dos ataques.