é tudo sobre ele

ele, e somente ele

   Éramos apenas adolescentes entrando na vida adulta, eu era um simples pintor, poeta, um artista amador que trabalhava por meio período como caixa de supermercado. Ele era cantor, escrevia músicas belíssimas, fazia seus covers de Anavitoria em barzinhos no centro do Rio, tinha uma voz de leão, tão potente que me arrepiava.

   O conheci em um dia conturbado. Oque eu falava ser um relacionamento sério tinha acabado, quase fui demitido por confundir diversas vezes as compras dos clientes, minha bicicleta tinha sido roubada, então para acalmar fui em um dos barzinhos mais simples na cidade, que por ironia do destino, você cantava lá.

   Eu observava aquele ser magnífico com fogo de desejo, a cada nota que saia daquela boca era um suspiro, ele me notou, e como se lesse meus pensamentos lançou um breve piscar de olhos, era engraçado, porque não conseguia piscar apenas um olho.

   Depois do breve "show" todos aplaudiram e ele veio até mim, conversamos por um curto período de tempo e depois fomos a minha casa, a única coisa que sabia era que seu nome era Jeon Jungkook, descendente de avós coreanos, natural de Fortaleza (CE), mas veio para o Rio de Janeiro atrás de conseguir realizar seu sonho de ser cantor, e que tinha 24 anos. Se fosse um ladrão nunca iria saber, estava muito ocupado sentindo todo o prazer que ele me proporcionava.

   Mantemos contato todos os dias, transavamos, nos beijávamos, ouvíamos Cazuza, Tim Maia, Raul Seixas, Jão e Rita Lee enquanto eu o pintava totalmente nu como em uma cena de Titanic. Ele era como Rose e eu Jack, seu corpo era como as lindas praias naturais do nordeste, sua boca tinha gosto de cachaça artesanal devido ao pequeno vício, era apaixonante!

   Jungkook era um carnaval, podia sempre usar roupas em tons escuros, mas por dentro era tão colorido quanto a bandeira lgbt presa acima de sua cama, tanto quanto as diversas paletas de sombras que tinha. Outra coisa que sei sobre Jeon Jungkook, ele amava se maquiar e usar gloss com sabor de banana.

   Todo aquele "amor pirata" que eu e Jeon tínhamos era muito bom, até eu perceber que o meu amor era real, todos aqueles "eu te amo" na hora do sexo eram sempre reais, mas os dele não passavam de meros blefes. Aquilo doía mais que mil estacas cravadas no peito.

   Jungkook... Como vou explicar quem é Jeon Jungkook? Seria ele um vampiro sugando todo o meu amor e sangue,  depois o descartando como se não fosse bom o bastante? Ou seria ele um dementador sugando toda minha alma, se alimentando de meus medos e inseguranças, não só meu amor, até me ver morto abaixo de si? Talvez não seja nenhum e nem outro, mas chega perto de ser os dois.

   Falar a ele o quanto o amava foi uma idéia totalmente estúpida, Jungkook não é um gato no qual pode ser domesticado, Jungkook era um leão, tão feroz, selvagem e excitante.

   Sabia que depois daquilo nada seria como antes, Jeon provavelmente se afastaria, não teria coragem de olhar em meus olhos, então, não pensei duas vezes antes de lhe pedir uma última noite, me surpreendi quando o mesmo havia aceitado.

   A pele meio moreninha nua brilhando sob o led roxo acima de mim, os beijos no meu pescoço descendo vagarosamente até meu abdômen, não muito definido, e subindo novamente até minha boca, tudo que Jungkook fazia me deixava excitado. Era mágico como me arrancava suspiros de prazer só com beijos e lambidas.

   A forma de Jungkook dar prazer não poderia nunca ser explicada somente em palavras. O jeito cuidadoso em que me preenchia e perguntava a cada segundo se estava me machucando era uma poesia, a forma em que ele dava uma curta lambidinha, uma leve mordida em meus lábios depois de um beijo quente também era poesia, seus gemidos fracos de prazer, o contato visual, no qual fazia questão de fazer na hora do sexo, tudo isso também é poesia, e que poesia!

   Jungkook era marcante, nunca poderia ser esquecido, não só pelo sexo magnífico, mas também pela forma de demonstrar carinho, mesmo não amando ninguém. Ele era um destruidor de corações, com certeza, mas mesmo assim o admiro.

   Logo após a nossa última noite juntos pedi para o desenhar, também pela última vez. Dessa vez ele iria posar com lençóis cobrindo sua parte íntima, simplesmente perfeito.

   Guardo os desenhos até hoje, gosto de admira-los a noite e imaginar Jungkook comigo, seu cheiro, seus lábios, seu corpo... sinto saudades de tudo aquilo.

   Passaram-se meses, que para mim pareceram anos, que não o vejo. A cada dia sinto mais e mais abstinência do cheiro daquela obra de arte cearense que era Jungkook. Consigo até o imaginar saindo das águas da praia de Iracema, com a pele dourada pelo sol quente, simplesmente perfeito!

   Ando pelas praças e ruas do Rio, a cada bar que vejo consigo te ouvir cantar em serenos sussurros Rita Lee, sempre trocando o feminino para o masculino em "lança perfume"

"Lança menino, lança todo esse perfume
Desbaratina não dá pra ficar imune
ao teu amor que tem cheiro de coisa maluca,
vem cá, meu bem, me descola um carinho
eu sou neném só sossego com beijinho
vê se me dá, o prazer de ter prazer comigo
Me aqueça! Me vira de ponta cabeça,
me faz de gato e sapato e me deixa de quatro no ato
me enche de amor, de amor"

— Ah Jungkook... Jungkook, Jungkook, Jungkook... — repetia seu nome lembrando de nossas noites juntos — Você me enlouquece Jeon...

   Jeon realmente me enlouquecia, fazia-me o ver em todos os lugares, na cama, banheiro, cozinha, sala e até mesmo na varanda cheia de plantas. Perguntava a mim mesmo "como esse garoto me fez ficar assim?" Mas realmente, como Jungkook me fez ficar dessa maneira? Completamente rendido por si, em completo sofrimento por saber que nunca o teria? Por mais que seja doloroso é muito bom amar Jeon Jungkook.

   Já se passaram meses e meses, mas nunca esqueci daquele rosto magnífico e aquela voz. Ele virou uma lembrança tão gostosa e aconchegante. Não me dói mais o ver pela casa, agora só resta o que teve de bom, e agora eu sei, na verdade sempre soube, tudo era ele, e somente ele, mas infelizmente algumas almas gêmeas não ficam para sempre.