tocar guitarra até os dedos precisarem de curativos e os lábios de um bom beijo.

faria sentido estar me tornando louco pela saudade?

hwang hyunjin havia mistério, e era impossível desvendá-lo com eficácia se ele permanecesse tão distante. os abraços sequer prendiam bem, os beijos tornavam-se amargos e suas mãos jamais estiveram gélidas ao sentir borboletas no estômago. torná-lo desconhecido para cada lado da casa não foi uma dificuldade, o vento soprou muito forte até que quatro meses parecessem séculos, mais do que suficiente para a saudade sucumbir o lar que aquece o coração de quem sobrou naquele lugar. 

deitar no jardim parecia estúpido sem tê-lo ao lado, conversar sobre o calor que corria mediante aos corpos entrelaçados no gramado parecia suave e tolerável, mas não faria sentido praticar tal ato sozinho. manter laços e tornar do coração uma moradia segura pra cada momento difícil era mais fácil tendo ao lado alguém para manter o lar, reconstruir novamente uma nova história e deixar de lado os limites de cada sentimento foi uma lembrança da boa aprendizagem. quebrar todas as regras na casa dos pais como adolescentes aprendendo com as decepções na vida, e no fim, tornar-se um adulto apaixonado é ainda pior pela falta que faz um amor que traz consigo latíbulo para melhorar a dor que nos incomoda há horas. 

e no final das contas, a ausência causava danos difíceis de reconstruir. era doloroso caminhar e bater de ombros com aquele que deixou seu perfume nas camisas de botões pra lembrar um pouco mais do quanto dói sentir saudades. fingir olhar para os sapatos, e desviar o olhar soletrando cada letra de seu nome, numerando as árvores de um a cem, render-se parecia fácil quando a solidão era grande, embora demorada, ainda dava tempo de contar as horas e deitar no gramado, com tanto tempo pra perder com a saudade, por que não perder cantando aquela melancólica canção de amor? depois questionar-se: será que seus dias também estão iguais? 

gritar a ausência lá de dentro, e cansar o peito novamente até deitar pra relembrar como era bom deitar no peito alheio pra contar sobre os dias cansativos sem emprego algum. tocando guitarra até os dedos precisarem de curativos e os lábios de um bom beijo. e recentemente, contar para as paredes o quanto permanece no aguardo de vê-lo voltando, cruzando as portas e depositando todos os seus beijos da saudade em seus lábios tão cansados, e tua face tão cômica, sorrindo descansada e aconchegada nos braços certos novamente. 

— faria sentido estar me tornando louco pela saudade? — disse tão tristonho, dessa vez. 

— e por que a saudade te deixaria louco? — ecoou do outro lado da mesa, sendo a melhor alucinação daquela noite para bangchan. 

— quem sabe? me falta lucidez, mas me prendo a esta loucura e sinto-me decepcionado quando a lucidez me faz perceber que você não passa de uma alucinação. — largou o copo para que quebrasse, e o levasse de volta para a sobriedade. 

— e gostaria que fosse? — hwang permaneceu encarando-o com tantos machucados por todo o rosto, que consequentemente já havia cicatrizado maioria dos cortes. 

— desde quando eu sinto alguma coisa desde que você jurou minha mão não soltar? 

— respondendo-me com uma pergunta, christopher? — traçou o rosto de bang com a ponta de seus dedos, mantendo sutileza. — aguardou muitas noites acordado? espero que eu não tenha ferido o meu louco preferido. — selou as pontas dos dedos daquele que permanecia tão silencioso e apaixonado, curando a dor que costurou sua pele junto a ausência que machucava cada vez mais. 

— aguardei muitas noites no gramado, tocando a mesma melancólica canção de amor, até que você voltasse para que eu pudesse deitá-lo em meu peito, curando cada cicatriz com um beijo em dias como esse. — acariciou as bochechas de hyunjin em movimentos suaves. 

e quem sabe, a ausência te torne cicatrizes, e a saudade te deixe louco. mas não existe nada que uma boa loucura resolva com alucinações apaixonantes, a saudade será sempre uma lembrança ruim para os loucos, e hwang hyunjin acabou voltando no fim das contas.