Mudança. Era era uma palavra que eu ouvia frequentemente na minha antiga casa.
Depois que meu pai foi promovido em seu trabalho para um outro país, mudar de vida e de residência havia se tornado um dos principais assuntos entre minha família. Meus pais estavam tendo dificuldades em encontrar uma casa com um bom preço aos arredores da fábrica em que meu pai trabalharia, que é localizada no sudoeste da França.
Quando encontraram, ninguém conseguia esconder a empolgação que crescia dentro de nós. Por isso, logo colocamos nosso apartamento no Brasil à venda e de imediato acertamos com o corretor para comprá-la. Estranhei a cara que ele fez quando entramos em contato pessoalmente e tocamos no assunto. Mas logo a feição assustada se dissipou e o corretor foi logo buscar a papelada.
- Gi, está tudo bem? - pergunta minha mãe depois de mais de treze horas de viagem de carro.
"Como assim viagem de carro, Giovanna? Não era mais fácil ter ido de avião?" Então, nós fomos... até Praga, na Republica Tcheca. Depois seguimos de carro até a Franca. Eu sei o que está pensando, que seria mais fácil pegar um avião direto até o destino final, mas meus pais queriam cortar gastos até a gente chegar aqui e a passagem para Praga era a mais barata de se comprar. Eu achei um exagero, mas esses dois ouvirem uma garota de dezenove anos dizer que não precisam ser tão radicais em relação ao dinheiro? Nunca!
- Está sim, mãe - respondo, bocejando. - Mas nós já estamos chegando? O Matheus dormiu e acordou bastante vezes já.
- Ele só tem sete meses, é normal - fala. - Mas calma que sim, nós já estamos chegando, é quase logo ali.
Olho para ela, confusa. Nós estamos rodeados por mato. A única coisa que tem aqui é uma trilha pela qual o carro passa. Será que existe uma cidade no final da estrada? Eu torço para que sim.
Depois de alguns minutos, meu pai vai parando o carro.
- Chegamos! - diz ele, suspirando feliz.
Desencosto a minha cabeça do vidro e observo o lugar. Do lado direito, onde está a cadeirinha do meu irmão, mais adiante pode-se avistar uma casa grande antiga de madeira, mas bem conservada. O pior é que a bendita fica NO MEIO DO NADA!
- Mãe... - murmuro para ela assim que descemos e ficamos de frente para aquela... coisa - vocês estão de brincadeira com a minha cara, não é? Diga-me que isso é uma pegadinha!
- Por que, filha?
- Você sabe que desde pequena eu tenho pavor de casas no meio do nada! Sempre tive pesadelos horríveis com uma que, inclusive, é bem parecida com essa. Aliás, onde o papai vai trabalhar? Não é longe?
- São apenas duas horas daqui - meu pai fala, vindo em nossa direção.
- "Apenas"? Pai, eu vi várias casas que eram perto da fábrica. Você chegava lá em cinco minutos ou menos - digo, respirando fundo e tentando não soar tão exasperada.
- Giovanna, por favor, não começa! - ele me repreende, já jogando a caixa com as minhas coisas para cima de mim - Vai, pare de reclamar e escolhe seu quarto para levar suas coisas para lá.
Bufo e me dirijo para dentro da casa. O lugar tem cheiro de coisa antiga e eu imediatamente pressinto que algo está muito errado. Isso é fato!
Subo as escadas que rangem um pouco e dou de cara com um corredor que tem cinco portas fechadas. Duas em cada lado da parede e uma no centro.
Abro a última porta a esquerda e encontro um quarto todo revestido de madeira, com a cabeceira da cama de solteiro encostada na parede do lado esquerdo com uma mesinha de cabeceira ao lado, uma janela consideravelmente grande no meio e uma estante branca também encostada na parede, do lado direto.
Deixo a caixa que está em minhas mãos sobre a cama e ao abri-la, a primeira coisa que aparece são os meus preciosos livros. Pego cinco deles e os levo até o devido lugar. Quando me viro para pegar o resto, escuto minha mãe me chamar no andar de baixo.
- O que foi? - pergunto, parando no corredor.
- Achou um quarto? - questiona de volta.
- Sim! - reviro os olhos. Sei que estou sendo malcriada, mas estou detestando essa situação toda. Algo me diz para sairmos daqui urgentemente.
- Quer ajuda?
- Não precisa, obrigada! - volto para o meu quarto,
Quando entro lá novamente, vejo que meus livros, antes confortavelmente em pé, estão todos espalhados pela prateleira.
Olho para a janela um pouco despreocupada. Talvez tivesse sido só o vento. Porém, quando fixo meus olho ali, vejo que está fechada. Começo a respirar rapidamente.
"Calma, Gi, calma! Talvez tenha sido o vento da própria casa. Isso é natural". Paro no meio do quarto para ver se alguma brisa passava por mim. Nada.
* * *
- Vamos dormir? - minha mãe diz, terminando de limpar a cozinha, exausta.
Passamos o dia desencaixotando caixas e colocando as coisas em seus devidos lugares. Evitei ao máximo voltar para o meu quarto ao longo das horas. Estava com um pouco de medo, mas agora começo a pensar que quem havia derrubado aqueles livros foi eu. Sei lá, talvez eu tenha esbarrado neles ou algo do gênero.
- Mas já? - pergunto, atirada no sofá - Mas ainda são dez horas da noite.
- Faz assim, deita na sua cama e leia um livro - diz ela, sorrindo para o meu pai.
- Ou pensa na faculdade que vai fazer - fala ele, com um sorriso de canto.
- Está bem, estou indo ler, boa noite! - digo, levantando-me do sofá e arrancando algumas risadas deles.
Paro no começo da escada, viro-me e falo:
- Acabei de sair da escola quase, deem-me uma pausa para me decidir melhor. Quando essa decisão for tomada, ela será a certa e assim me inscrevo na faculdade, é sério. Vocês terão orgulho de mim e da profissional que vou ser.
- Nós já temos, filha - meu pai pisca para mim e minha mãe assente.
Subo para o meu quarto. Minha mãe arrumou tudo para mim enquanto eu organizava o quarto do Matheus, então está tudo na mais perfeita ordem.
Dou um suspiro cansado e vou acender o abajur. Pego um livro e, quando estou indo para a cama, a luz do abajur começa a oscilar.
Vou em sua direção com as sobrancelhas franzidas. Aperto o botão de desligar o aparelho e nada acontece. Liguei-o de novo e o mesmo continuava a oscilar.
- Pai! - o chamo, indo novamente até a sala.
- Sim?
- Deu algum problema no curto circuito dessa casa e o abajur está piscando sem parar.
- Vamos lá ver - fala, subindo comigo.
Chegamos lá, o objeto está funcionando perfeitamente.
- Olha Gi, - ele diz, depois de até tirar o aparelho da tomada - para mim está tudo normal. Não há nenhum sinal de que tenha oscilado.
- Mas eu vi! - falo, respirando pausadamente.
- Então você está vendo coisas - diz ele, fechando a porta atrás de si e me deixando sozinha a encarar o abajur com um receio crescente em meu coração.
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A Casa
HorrorQuando você pressentir que algo está errado, apenas siga o seu instinto! Isso poderá salvar a sua vida.